12 Novembro 2019
"O filme com esse nome, Coringa, é uma denúncia vigorosa a essa sociedade excludente e fica ali, sem abrir perspectivas. Serve para fazer pensar. Daí sua importância. Mas não vai além do destrutivo. Deixa o desafio: como entrar em diálogo com esse número enorme de coringas que ocupam nossas cidades", escreve Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
Pelo mundo afora, na Bolívia, Líbano, Hong Kong, Chile, multidões se maquiam com a máscara de palhaço de um comediante fracassado, Arthur Fleck, excluído e solitário, símbolo do esquecimento que o faz enlouquecer e tornar-se um anti-social agressivo nas ruas de Gotham City (Nova York).
Filme Coringa. Cartaz promocional. (Imagem: Wikipedia)
Esses milhões que saem à rua pelo mundo afora se identificam com o personagem Coringa e usam sua máscara. São parte de uma sociedade que os marginaliza e se tornam então elementos destrutivos e sem horizontes. Sua situação é real, os "condenados da terra" (Frantz Fanon), sua rebeldia anarquicamente sem propósitos, a não ser protestar e destruir. Com isso podem ser usados pelo poder, pois não representam um desafio social ou político concreto, apenas uma rebeldia anônima e desorientada a ser enfrentada violentamente pelas forças da "ordem".
O filme com esse nome, Coringa, é uma denúncia vigorosa a essa sociedade excludente e fica ali, sem abrir perspectivas. Serve para fazer pensar. Daí sua importância. Mas não vai além do destrutivo. Deixa o desafio: como entrar em diálogo com esse número enorme de coringas que ocupam nossas cidades.
O desafio para as forças progressistas é, então, partir de uma situação anti-social real e trágica. Dali haveria de descobrir perspectivas concretas de superação de um sistema cruel, ele sim, estruturalmente violento. Seria fundamental dar um sentido construtivo a uma rebeldia sem horizontes. Isso só será possível, para começar, entrando em sintonia profunda com esse protesto verdadeiro e cego e abrir logo perspectivas sociais e políticas subversivas para os milhões de coringas marginalizados. Seria importante desenvolver uma pedagogia de diálogo a partir da exclusão e tentar fazer cidadãos inclusivos os que até então são postos à margem pelo sistema, este último nas mãos de uma minoria poderosa e egoísta de privilegiados.
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“Todos somos coringa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU