29 Janeiro 2020
110 bispos conspiraram em Portugal em um congresso ultraconservador “secreto” que rivaliza com o encontro que o Papa Francisco planejou para uma economia mais sustentável.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Novena News, 28-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O site português de assuntos religiosos 7Margens noticiou no dia 28 de janeiro aquele que chamou de um encontro “discreto, confidencial, reservado, familiar, informal”, citando fontes presentes, reunindo 110 bispos de 42 países, entre os dias 22 e 25 de janeiro no Hotel Penha Longa, em Sintra, na Riviera Portuguesa.
O convite foi feito pelo Instituto Acton para o Estudo da Religião e da Liberdade, um think tank ultraconservador com sede nos EUA que há muito tempo critica aquilo que vê como a incompetência do Papa Francisco em questões econômicas e ecológicas.
Pelo menos três cardeais participaram do encontro ultraconservador do Acton em Sintra, segundo o site 7Margens, embora a página só pôde confirmar o nome de um deles: o arcebispo católico etíope de Addis Abeba, Berhaneyesus Souraphiel.
Um segundo cardeal era mexicano, talvez o arcebispo de Guadalajara, Francisco Robles Ortega.
O 7Margens detectou uma certa relutância entre os participantes do evento do Acton com os quais teve contato na busca de definir exatamente o que foi discutido no conclave ultraconservador.
Insistindo na natureza discreta e “informal” do evento, no entanto, esses participantes deixaram escapar que o encontro do Acton foi acima de tudo uma oportunidade de “estudo, discussão e partilha de experiências”, sobretudo sobre o tema “Fé, razão e justiça social”.
Em pauta, portanto, estavam os “desequilíbrios socioeconômicos e demográficos e o papel da fé na construção da justiça social”. Em outras palavras, “o déficit de ética” no mundo de hoje, que leva à “corrupção, injustiça e desigualdades”.
Esses são precisamente os temas que o Papa Francisco deseja trabalhar no encontro “A economia de Francisco”, que se reúne em Assis, entre os dias 26 e 28 de março.
A essência daquilo que foi discutido no congresso do Acton em Sintra pode ser obtida a partir das palavras de um bispo africano presente, que falou com o 7Margens:
“É preciso formar as famílias, por causa da tendência para a diminuição no número de filhos. No Ocidente, há cada vez mais famílias sem filhos e com animais de estimação e a família está a desaparecer; na Ásia, as famílias estão cada vez mais envelhecidas; e, na África, a tendência também é de que se reduza o número de filhos”, afirmou o prelado africano, refletindo estudos sobre o futuro da família daqui a 50 anos.
Com os 42 países de onde os bispos vieram para o congresso em Sintra – EUA, Chile, México, Angola, Etiópia, Paquistão e nações do Oriente Médio, entre eles – quase todos os continentes estavam representados.
Os prelados latino-americanos eram a maioria, seguidos pelos africanos e asiáticos e, em menor quantidade, europeus e norte-americanos.
O cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, foi convidado para o evento em Sintra, mas não compareceu. Um dos participantes com os quais o 7Margens conversou disse que Clemente “enviou uma mensagem” para o congresso, mas uma fonte diocesana de Lisboa negou essa afirmação.
Outro prelado que recusou o convite para o congresso do Acton foi o novo núncio português, Ivo Scapolo.
Scapolo, no entanto, encontrou tempo para se reunir com os bispos do seu posto anterior, o Chile – um país no qual Scapolo recebeu críticas incansáveis pelo seu papel nos escândalos de abuso sexual clerical.
Também estava na agenda do encontro de bispos em Sintra, pelo menos para alguns prelados, uma peregrinação a Fátima. Embora, novamente, assim como no congresso, o sigilo e a discrição estavam na pauta do dia também no santuário mariano, ao ponto de a presença dos prelados não ter sido confirmada nem anunciada oficialmente.
Por que toda essa insistência na “privacidade”, na “confidencialidade” e na “discrição” – nas palavras dos próprios participantes – no encontro de Sintra?
As fontes do 7Margens se recusaram a entrar em detalhes, exceto para confirmar que a imposição de sigilo veio a pedido dos organizadores do Instituto Acton, que não responderam aos pedidos do 7Margens para obter mais informações.
No sábado, 25 – ou seja, o último dia do encontro do Acton –, o 7Margens disse que tentou falar por telefone com um dos bispos que ainda estava no Hotel Penha Longa.
O site perguntou se o bispo em questão ainda estava no hotel e se o evento do Acton havia terminado, mas recebeu apenas a resposta de que eram informações “confidenciais”.
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Uma centena de bispos se reúnem em congresso ultraconservador “secreto” e “confidencial” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU