18 Dezembro 2019
Os jesuítas do Canadá comprometeram-se a divulgar os nomes dos padres que foram credivelmente acusados de abuso sexual e que remontam a mais de 60 anos.
A reportagem é de Tavia Grant, publicada por The Globe and Mail, 17-02-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nenhuma outra grande diocese ou ordem religiosa católica do Canadá assumiu um compromisso público desse tipo, seguindo o exemplo de uma onda de divulgações nos Estados Unidos. Muitas das divulgações nos EUA ocorreram desde o lançamento em 2018 de uma investigação do Grande Júri da Pensilvânia, que constatou que padres haviam abusado de mais de 1.000 crianças.
O Pe. Erik Oland, provincial dos jesuítas do Canadá, disse ao The Globe and Mail que uma empresa que faz investigações e avaliações de risco foi contratada para revisar os arquivos históricos, incluindo aqueles que já são conhecidos do público e outros que ainda não foram divulgados. Uma lista de nomes e de onde os padres trabalhavam será divulgada em janeiro de 2021 ou antes.
Em uma recente entrevista em Toronto, o Pe. Oland também revelou que os jesuítas do Canadá pagaram quase 6 milhões de dólares em acordos extrajudiciais às vítimas até 2007 e mais 1,1 milhão de dólares desde então. As vítimas pedem há muito tempo mais transparência por parte da Igreja sobre casos de abuso e sobre como eles são tratados.
“Estamos realmente tomando a decisão de ser proativos”, disse ele em uma recente entrevista em Toronto. “Nós não estamos esperando para sermos forçados a sair do esconderijo. (...) A ordem jesuíta, a igreja católica (...) as pessoas com convicções religiosas estão fazendo um trabalho importante para o nosso mundo, de modo que não queremos continuar carregando esse jugo (...) sobre as nossas costas.”
Nos Estados Unidos, no início deste ano, a província jesuíta do Nordeste publicou uma lista de padres credivelmente acusados, junto com informações sobre onde eles trabalhavam e quando. A Província Jesuíta do Canadá usará um modelo semelhante, disse ele. A lista dos EUA define como “credível” uma alegação “provavelmente mais verdadeira do que não verdadeira após uma investigação”. Um advogado dos jesuítas disse que a ordem no Canadá usará uma definição semelhante.
Criar uma lista e publicar os nomes “é um modo de avançar”, disse ele. Sobre a motivação para fazê-lo, ele disse que os jesuítas “consideram isso uma resposta necessária e adequada à demanda por transparência” por parte da Igreja, observando que as vítimas de abuso sexual solicitaram isso como um ato de reconciliação.
Além disso, “isso ajuda a validar as reivindicações de indivíduos que estão se apresentando com relatos das experiências e ajuda a alertar os superiores das diferentes dioceses e províncias sobre os possíveis abusadores que possam estar em suas comunidades”.
Até agora, vários nomes de jesuítas vieram à tona em conexão com casos históricos de abuso sexual de crianças: o Pe. George Epoch e o Ir. Norman Hinton, que foram citados em uma ação coletiva ligada a um internato em Ontário. O Pe. Epoch, que morreu em 1986, também está entre os padres citados em uma ação coletiva movida em Halifax no ano passado. A maioria dos acordos que os jesuítas pagaram foi para as vítimas desses dois abusadores.
O Pe. Oland disse que tomou a decisão de iniciar uma auditoria dos arquivos em outubro de 2018, após a divulgação do relatório da Pensilvânia. Ele disse que a auditoria começou em outubro deste ano e está sendo realizada pelo The King International Advisory Group.
Os auditores terão acesso a todos os documentos do arquivo dos jesuítas, disse William Blakeney, delegado dos jesuítas do Canadá para acusações de má conduta, que também é advogado e está envolvido na auditoria. A lista poderá ser revisada no futuro, se novas informações se tornarem disponíveis, acrescentou.
Além do acordo revelado pelo Pe. Oland, Blakeney disse que mais 1,5 milhão de dólares foram pagos às vítimas de um internato e, separadamente, cerca de 834.000 dólares em indenizações adicionais às vítimas do Pe. Epoch no início dos anos 1990.
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Jesuítas do Canadá divulgam nomes de padres acusados de abuso sexual - Instituto Humanitas Unisinos - IHU