O homem que fala com as árvores. Artigo de Enzo Bianchi

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11 Dezembro 2019

"Uma cultura de árvores deveria ser incluída na educação, para que sejam conhecidas, respeitadas e amadas pelas novas gerações, para que o planeta se torne mais verde, as cidades mais saudáveis e o ar mais puro."

O artigo é de Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, publicado por La Repubblica, 09-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Nos últimos dias de outono, nossos olhares são atraídos pelas árvores, especialmente pelas cores diferentes de suas folhas e porque elas caem, às vezes dançando até o chão, às vezes arrancadas por arroubos de vento que as levam para longe. As árvores constituem uma presença discreta da qual nem sempre estamos cientes, mas elas oferecem sua companhia e falam conosco. Na primavera, procuramos os sinais do despertar em seus galhos nus, no verão queremos sua sombra e no inverno, se pararmos para observá-las, vemo-las resistir ao frio sem reclamar, suportar as chuvas entediantes e o peso da neve que dobra e enverga seus ramos.

Os camponeses da minha terra, o Monferrato, me ensinaram a amar as árvores como companheiras de vida, até a conversar com elas, principalmente com os carvalhos muito antigos, porque - eles me diziam – ‘viram de tudo e sabem muito". Infelizmente, ninguém se lembra mais das tradições, mas quando eu era garoto e se comemorava a manhã do sábado santo, ao som dos sinos a gente corria da igreja até os riachos para enxaguar o rosto e se abraçavam as árvores frutíferas, porque diziam que, se fossem abraçadas naquela hora da ressurreição, teriam dado muitos frutos. Então, depois de abraçar minha mãe e antes de abraçar as garotas, aprendi a abraçar as árvores.

Mesmo agora que estou velho, próximo ao meu eremitério vou até um carvalho com trezentos anos, tento ouvi-lo e às vezes abraçá-lo por um impulso espontâneo, talvez para expressar a minha gratidão: de fato, ele vigia ao meu lado como um sentinela e é um refúgio para os corvos durante o dia e para as corujas à noite.

Tive que cortar muitas árvores para tornar habitável o pedaço de terra escolhido como morada da minha vida e local de acolhimento, mas plantei muito mais: tílias, amoreiras, carvalhos e árvores frutíferas. E agora, quando passeio no bosque sob a aleia das tílias que plantei, recebo das árvores não apenas perfumes e frutas, mas também lições, porque são verdadeiros "professores" em seu ciclo de estações e de vida: quando pingam na primavera e parecem chorar; quando no verão florescem e se cobrem de verde; quando no outono mudam a cor das folhas.

Uma cultura de árvores deveria ser incluída na educação, para que sejam conhecidas, respeitadas e amadas pelas novas gerações, para que o planeta se torne mais verde, as cidades mais saudáveis e o ar mais puro. Plantar árvores, especialmente na cidade, é um ato ecológico, político e estético: é dar vida à vida!

O grande abade e escritor Bernardo de Claraval, insuperável na Idade Média, deixou um testamento escrito. "Se você quiser encontrar verdadeiros mestres, procure-os nos bosques e nas árvores: elas lhe dirão coisas que nenhum mestre poderá ensinar".

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