09 Dezembro 2019
No final do Sínodo para a Amazônia, o pensamento vai para a esperada exortação papal e para a recepção do que emergiu nos debates da assembleia. Fala-se da presença e formação de sacerdotes e da proposta de que, em algumas localidades remotas, desatendidas em relação à Eucaristia por muitos meses por ano, se possa chegar à ordenação sacerdotal de diáconos casados. Para contribuir com a reflexão, o SIR entrevistou um dos principais especialistas sobre o tema dos sacerdotes e sua formação: Padre Zenildo Lima, reitor do Seminário da Amazônia de Manaus.
A entrevista é de Bruno Desidera, publicada por Agência SIR, 07-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Concluído o Sínodo sobre a Amazônia e no aguardo da Exortação do Papa Francisco, já se pensa em sua recepção. Um desafio que será jogado acima de tudo no imenso território amazônico. Uma das principais expectativas diz respeito à presença e formação de sacerdotes. A Assembleia sinodal apresentou a proposta de que em algumas localidades remotas, desatendidas em relação à Eucaristia por muitos meses do ano, se possa chegar à ordenação sacerdotal de diáconos casados. Mas também destacou a urgência de se concentrar em um clero indígena. Alguns sugeriram a hipótese de seminários "indígenas", outros de dar vida a um verdadeiro "rito amazônico".
Questões importantes e complexas que não devem ser usadas como "bandeiras", mas sobre as quais, antes, somos solicitados a iniciar um longo trabalho pastoral e missionário. A Sir entrevistou um dos principais especialistas no tema dos sacerdotes e de sua formação. Trata-se do padre Zenildo Lima, reitor do Seminário da Amazônia de Manaus. O ponto de vista dele é duplamente importante. Primeiro, ele participou como protagonista de toda a fase preparatória do Sínodo na Amazônia brasileira e, como especialista, na Assembleia sinodal no Vaticano. Em segundo lugar, ele dirige um Seminário, aquele de Manaus, que agora já conta com a presença de vários indígenas que estão seguindo o caminho da ordenação presbiteral.
Como você avalia essa experiência no Sínodo?
É necessário dar dois passos para trás, para abraçar não apenas o Sínodo vivido no Vaticano e, em particular, o Documento final, mas toda a jornada a partir de 2018. Pude participar de vários eventos. Devo dizer que a experiência foi surpreendente, principalmente por ouvir tantos interlocutores, começando pelos povos indígenas. O documento preparatório foi criticado por alguns do ponto de vista do fundamento teológico, mas, na realidade, respondia de forma muito sensível à primeira fase da escuta. Depois, trabalhamos arduamente no Sínodo. O rascunho inicial do Documento final recebeu muitas críticas e, na prática, foi reescrito, recebendo muitos no final grande consenso.
Você pode nos falar sobre o Seminário que você dirige?
É o local que cuida do processo de formação de candidatos ao sacerdócio de nove dioceses. Estas variam da arquidiocese de Manaus, uma metrópole de 2 milhões e 700 mil habitantes, às comunidades costeiras do grande rio Amazonas, até as Igrejas mais distantes, no interior da floresta. Atualmente, existem 52 seminaristas. Alguns vêm das cidades, mas também existem vários indígenas, provenientes das dioceses de Roraima e São Gabriel da Cachoeira, pertencentes a várias etnias. Atualmente, o curso é de sete anos, que se segue a um discernimento prévio realizado nos locais de origem, ocorre quase inteiramente em Manaus, os seminaristas voltam para casa apenas por períodos de férias. Mas estamos nos questionando sobre a oportunidade de mudar esse critério, para vincular mais os seminaristas à sua Igreja de origem.
De que modo, então, o Sínodo influenciará a vida do Seminário?
Ao dar prioridade à dimensão missionária.
É uma ressonância que foi repetida ao longo do processo sinodal. Depois, há a questão do diálogo entre culturas da diversidade entre os que frequentam o Seminário. A diversidade é uma riqueza, não um problema, mas em nossas estruturas nem sempre é possível valorizá-la, temos um modelo fixo e rígido.
No Sínodo, alguém propôs Seminários para os indígenas. O que você pensa a respeito?
A questão central não me parece ser "com quem estão os indígenas", mas "que estrutura eles encontram". Na realidade, os próprios indígenas pertencem a muitas etnias e culturas diferentes. Eu não acho que seja um problema o fato de seminaristas indígenas e não nativos viverem juntos. Pelo contrário, é importante que o Seminário acolha e promova culturas diferentes. Buscamos conhecer as Igrejas de origem, é importante que o novo sacerdote se sinta inculturado e envolvido.
Como realizar esse processo de inculturação?
Tentamos introduzir alguns elementos da cultura indígena no plano de estudo, naturalmente ao lado do estudo da teologia e da filosofia. Mas devemos continuar procurando categorias próprias e específicas desses povos, dos quais temos muito a aprender. Penso, por exemplo, no chamado buen vivir, o "bem viver", numa relação de harmonia e não de consumismo em relação à natureza. Durante o percurso sinodal, muitos indígenas me surpreenderam com seu pensamento, sua capacidade de ler a realidade.
No fundo existe a questão da admissão no sacerdócio de homens casados. O que você pensa? E como essa possibilidade poderia mudar os percursos do discernimento e formação vocacional nos seminários?
Como é sabido, o Sínodo solicitou ao Papa que aprovasse a possibilidade da ordenação dos chamados viri probati. Gostaria de enfatizar que este não é um pedido abstrato. A referência é às realidades que já existem. Nas comunidades mais distantes da Amazônia, onde os sacerdotes raramente chegam, já existem guias e pontos de referência reconhecidos. Em suma, os possíveis candidatos já existem, não teremos muito trabalho a fazer nesse sentido. Quanto ao perfil dessas pessoas e à adequação dessa escolha, pode-se ter dificuldades em centros urbanos, como na própria Manaus. No contexto urbano, a referência ao sacerdote celibatário é algo forte.
Não existe o risco de que essa via de acesso ao sacerdócio negue o esforço de ter um clero indígena celibatário?
Não vejo duas realidades conflitantes, mas dois caminhos possíveis. Vamos começar com um fato: existem muito poucos sacerdotes indígenas. Dito isto, é claro que a animação vocacional, mesmo entre os indígenas, é importante.
E ninguém no Sínodo questionou o sinal profundo do celibato.
Entre os indígenas, no entanto, o sinal de liderança local também é importante. E a questão de seu acesso à Eucaristia é central. Eu acredito que exista a possibilidade de pensar em diferentes maneiras de exercício.
Um verdadeiro "rito amazônico" também foi proposto. É uma possibilidade?
No começo, eu também pensava assim ... no entanto, os ritos não nascem em primeiro lugar dos Sínodos, mas partem da história, das estruturas, de tradições precisas. Pessoalmente, considero que ainda há medidas a serem tomadas, não creio que os tempos já tenham amadurecido. Mas, de qualquer forma, continua sendo uma possibilidade. Enquanto isso, se não for o caso de mudar o rito, sempre podemos mudar o estilo!
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Depois do Sínodo. Padre Zenildo Lima: “Ninguém questionou o sinal muito profundo do celibato” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU