25 Novembro 2019
O Uruguai terá de esperar mais alguns dias para saber quem será o próximo presidente do país. A votação foi tão apertada que a Corte Eleitoral adiou para até sexta-feira (29) o anúncio do resultado que se esperava para a noite deste domingo (24).
A reportagem é publicada por Radio France Internacional - RFI, 25-11-2019.
A diferença entre os dois candidatos foi menor do que 29 mil votos, ou seja, apenas 1,2%. O candidato da centro-direita Luis Lacalle Pou ficou com 48,7%. Já o governista e socialista Daniel Martínez obteve 47,5%. O número surpreendeu o país que esperava uma vitória folgada de Lacalle Pou.
A paridade entre os dois candidatos foi tão surpreendente que conseguiu algo inédito no país: adiar o resultado de uma eleição que era considerada uma goleada. Todas as sondagens apontavam para uma vitória entre 5 e 8 pontos do opositor Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, sobre o governista Daniel Martínez, que encerraria 15 anos de governos da esquerda.
Mas o clima de vitória foi paulatinamente dando lugar ao nervosismo. O "Já ganhou" tornou-se apreensão pelo lado da oposição. Já pelo lado dos governistas, o clima foi o oposto: do derrotismo a uma inesperada euforia.
Lacalle Pou teve uma vantagem de 1,2% e não foi apontado como o vencedor por causa dos chamados votos "em observação", de pessoas que votaram em trânsito, fora das suas jurisdições. Esses votos requerem um processo mais lento para serem validados.
Além do mais, com a pequena margem de diferença, podem surgir pedidos de revisão. Por isso, a Corte Eleitoral preferiu adiar o resultado.
Mesmo se há matematicamente uma chance de reviravolta a tendência é de vitória de Lacalle Pou. A diferença entre os dois rivais no final da apuração nesse domingo foi de 28.666 votos. Já os votos "em observação" somam 35.229. Para uma virada, é preciso que o candidato governista fique com 90,6% de todos os votos a serem observados. É muito difícil que isso aconteça.
O provável eleito, Lacalle Pou, lamentou que seu adversário não reconhecesse o resultado como "irreversível".
Já o governista Daniel Martinez evitou reconhecer a derrota e pediu aos militantes para festejarem essa surpreendente eleição que nenhuma sondagem indicou.
Na quinta-feira (21), o ex-candidato a presidente Guido Manini Ríos, derrotado no primeiro turno, mas que obteve 11% dos votos e uniu-se numa coligação com Lacalle Pou, gravou um vídeo distribuído nas redes sociais. No vídeo, destinado aos militares, o ex-chefe do Exército pede aos soldados que não votem no candidato governista e relembra que o atual governo sempre atacou sistematicamente as Forças Armadas.
Manini Ríos foi afastado do Exército em março por ter acobertado militares que cometeram violações aos direitos humanos durante a ditadura uruguaia. Ao mesmo tempo, circularam mensagens intimidatórias de autoria anônima em que se pede para votar em Lacalle Pou, com apoio do comandante Manini Ríos, para salvar a pátria. A mensagem advertia que, quem não votasse, seria tratado como um traidor.
Também o Centro Militar divulgou uma publicação na qual anunciava que "os marxistas do governo vão embora do poder" e que "o marxismo deveria ser extirpado do Uruguai".
Essas mensagens assustaram boa parte dos eleitores uruguaios que decidiram mudar de voto. E muitos dos que votariam em branco ou que anulariam também mudaram de opinião.
A mudança da tendência de voto não deverá ser suficiente para reverter o resultado, mas a estreita margem de diferença revela um país dividido em partes iguais. Ele obrigará o vencedor a um governo de muito mais negociação para unir as duas metades do país.
Por outro lado, a reação ao resultado apertado e ao adiamento do anúncio mostra um sistema político sólido e confiável no Uruguai. Em outro país da América Latina, neste momento, haveria suspeita de fraude e manifestações contra o governo.
O resultado final, que pode sair entre terça-feira (26) e sexta-feira (29) deve confirmar que o Uruguai vira da esquerda à centro-direita e que a América do Sul, com exceção da Venezuela e da Argentina, será toda da centro direita, direita ou extrema direita.
Um boa notícia para o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que precisa de aliados na região e, principalmente, no Mercosul para compensar o distanciamento da Argentina.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Uruguai adia anúncio de vencedor da eleição presidencial devido a resultado apertado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU