Papa aprovará padres casados na Amazônia, afirma teólogo

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20 Novembro 2019

Missionário no Brasil desde 1966, Paulo Suess acredita que Francisco aceitará a sugestão do Sínodo de ordenar homens casados.

A reportagem é de Christa Pongratz-Lippitt, publicada em La Croix International, 19-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O papa Francisco permitirá que homens casados sejam ordenados padres na região amazônica, agora que a maioria dos participantes da recente assembleia do Sínodo dos Bispos votou a favor da proposta.

Essa é a previsão de Paulo Suess, um teólogo e missionário alemão no Brasil que atuou como perito na assembleia especial do Sínodo para a Amazônia no mês passado no Vaticano.

Mas o padre de 81 anos disse que isso não significa que o papa revogará o celibato obrigatório como norma para os padres.

Ele fez seus comentários à agência Kathpress no fim de outubro, durante um simpósio de dois dias sobre as consequências do Sínodo da Amazônia, que a Conferência dos Bispos da Áustria sediou na histórica cidade barroca de Salzburgo.

O teólogo nascido na Alemanha, que escreveu extensivamente sobre a teologia da inculturação, ressaltou que homens casados lideram paróquias na região amazônica há décadas. Ele disse que cursos de formação especiais ou períodos de estágio, portanto, são desnecessários.

“Um bispo apenas precisará impor as mãos sobre eles e ordená-los”, disse.

Arcebispo brasileiro diz que Sínodo desencadeou desenvolvimento irreversível

O padre Suess e o arcebispo Roque Paloschi, de Porto Velho, presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), foram os principais oradores do evento em Salzburgo, que reuniu cerca de 100 teólogos e outros religiosos. Ele estava intitulado “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia sustentável”.

“Nós, bispos da região amazônica, estamos voltando para casa com muito dever de casa”, disse o arcebispo Paloschi.

Como presidente do Cimi, o bispo de 63 anos lidera os esforços da Igreja Católica para preservar e proteger a cultura dos povos indígenas.

Ele disse que, com o governo Bolsonaro no Brasil, os povos indígenas estão enfrentando tanto o etnocídio quanto o genocídio, e a sua identidade cultural está sendo destruída por meio da assimilação forçada.

No que diz respeito aos resultados do Sínodo Amazônico, Paloschi foi muito claro: “Em Roma, conseguimos desencadear um desenvolvimento na Igreja Católica que não será fácil de reverter”.

Ele observou que o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) iniciou esse processo em suas principais cúpulas de Medellín (1968), Puebla (1979) e Aparecida (2007), que ajudaram a substituir “uma Igreja moldada no colonialismo europeu” por uma Igreja libertadora.

“O espírito desta Igreja, que está claramente do lado dos oprimidos e dos desprezados, chegou a Roma com o nosso papa latino-americano”, disse Paloschi.

Papa Francisco fez algo “novo e especial”

“Isso ficou diante dos olhos de todos, não apenas pelo modo caloroso como o papa recebeu e interagiu com os participantes indígenas do Sínodo, mas também por toda a atmosfera na sala do Sínodo, caracterizada por uma grande abertura”, acrescentou.

Suess disse à Kathpress que o papa Francisco fez algo “novo e especial” ao aguardar uma ampla aprovação por parte dos participantes do Sínodo sobre a questão de ordenar homens casados ao sacerdócio, em vez de decidir “de cima”.

O teólogo que ministra e leciona no Brasil desde 1966 disse que o fato de mais de 80.000 pessoas estarem envolvidas nos preparativos da assembleia do Sínodo foi “algo inédito”. Isso mostrou que Francisco dá muita importância à escuta do que o Povo de Deus tem a dizer.

Suess sempre disse que a Igreja tem o dever de possibilitar que as comunidades católicas em áreas remotas da floresta tropical recebam os Sacramentos regularmente.

O papel emergente das mulheres na Igreja

Ele disse à Kathpress que está certo de que a Igreja também avançará na ordenação de sacerdotes mulheres, mas isso exigirá paciência, uma vez que marcaria uma “mudança cultural importante” e, portanto, “levaria muito mais tempo”. A ordenação de diáconas seria o primeiro passo, afirmou.

“Quando isso passar pelo teste, veremos”, previu Suess.

Ele ressaltou que as mulheres lideram comunidades de fé católica na região amazônica há décadas.

“E agora – pela primeira vez – a possibilidade de uma designação eclesial para as mulheres líderes de comunidade foi oficialmente mencionada em um documento do Sínodo”, disse.

Bispos “cabeças-duras” não são motivo de desespero

Suess disse que o documento final da assembleia do Sínodo foi um produto de compromisso, já que alguns dos bispos presentes são “cabeças-duras que não estão preparados para remover as traves que dão sentido ao mundo para eles”.

Ele disse que muitos desses homens foram nomeados bispos pelo papa São João Paulo II e pelo papa Bento por causa de sua estrita ortodoxia. E, como resultado, eles não estavam preparados para discutir o que haviam “internalizado e encontrado como confirmado durante suas longas vidas”.

Apesar de todas as dificuldades e atrasos, Suess disse que continua plenamente otimista.

“Para resumir: o papa João XXIII abriu as janelas. O papa Francisco agora abriu as portas também, e nós simplesmente temos que passar por elas”, disse ele.

O arcebispo Paloschi disse que Francisco colocou uma “marca latino-americana” nesse processo, enfatizando a sinodalidade, a consulta e a decisão conjunta.

“A jornada é a recompensa”, insistiu o arcebispo, observando que isso também se aplica à ordenação de mulheres.

“Sabendo muito bem que era apenas o começo de um longo processo, nós sugerimos a ordenação de diáconas no Sínodo. Não fomos a Roma para colher. Fomos plantar as sementes”, afirmou.

Bispos repreendem cardeais que atacaram o papa

Enquanto isso, em um encontro semelhante sobre as consequências do Sínodo da Amazônia, dois bispos alemães missionários no Brasil – dom Bernardo Johannes Bahlmann, OFM, bispo de Óbidos, e dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu – criticaram aqueles cardeais e bispos que atacaram o Sínodo da Amazônia e o papa.

“A minha impressão é que eles não têm nem ideia (do que aconteceu)”, disse Bahlmann durante o encontro entre os dias 6 e 11 de novembro em Würzburg, Alemanha.

O franciscano de 58 anos mencionou especificamente os cardeais Gerhard Müller e Walter Brandmüller, assim como o bispo auxiliar Athanasius Schneider, do Cazaquistão, como ultraconservadores que se lançaram publicamente contra o Sínodo e o papa.

Bahlmann, que chefia a diocese amazônica de Óbidos nos últimos 10 anos, disse que nunca foi abordado “por nenhum desses cavalheiros” nem foi questionado sobre o que estava sendo discutido e decidido. Portanto, ele disse que as críticas deles não permitem uma discussão justa.

“Que tipo de colegialidade é essa?”, perguntou.

Tanto Bahlmann quanto Kräutler, de 80 anos, negaram veementemente as acusações de que os bispos exploraram o Sínodo para negociar questões de política eclesial para a Alemanha ou a Europa. Eles disseram que isso era uma “grande mentira”.

Eles disseram que isso também mostra “uma incomparável falta de respeito pelo papa”.

Dom Bahlmann disse que os críticos do papa deveriam visitar a região amazônica e ver a realidade por conta própria.

“Eles estão sugerindo que o Espírito Santo não está agindo corretamente.”

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