Cem anos de palavras loucas. O mais idoso dos bispos italianos e seu amor ilimitado pelos índios

Dom Aldo | Foto: La Stampa

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

06 Novembro 2019

A foto, publicada em um jornal italiano, retrata o rosto sorridente do bispo mais idoso da Itália, Mons. Aldo Mongiano, que completou 100 anos em 1º. de novembro. O bispo piemontês, missionário da Consolata, mostra a carta de cumprimentos autografada enviada pelo Papa Francisco.

A reportagem é de Paolo Bustaffa, publicada por Agência SIR, 03-11-2019. A tradução é de Luisa Rabolini


Aldo Mogiano, com a carta recebida do papa Francisco em mãos, ao lado de dom Gianni Sacchi

A imagem se perde na vitrine de rostos aos quais a atualidade, que nem sempre coincide com a importância, garante precedência absoluta na "grande" narrativa midiática.

Há, no entanto, uma narrativa, definida de "pequena", que ajuda a pensar, questionar e até mesmo medir a verdadeira extensão daquela definida de "grande".

Dom Aldo Mongiano, em cujo rosto se reúnem aqueles dos missionários, na África e especialmente no Brasil, misturou-se com os mais pobres para anunciar o Evangelho arriscando sua vida pela dignidade e os direitos humanos.

Fez isso também quando, chamado por Paulo VI, esteve de 1975 a 1996 à frente da diocese de Roraima, num país onde o poder político com os aliados latifundiários não hesitava em parar, muitas vezes com a violência, a demanda de liberdade e de democracia do povo índio.

Os missionários partiam e ainda partem de seus países de nascimento para ficar para sempre com os últimos da Terra, para compartilhar suas labutas e esperanças, e para apoiá-los no pedido por humanidade. Eles não haviam alardeado o slogan "vamos ajudá-los na casa deles": haviam deixado tudo para "ficar na casa deles" e para traduzir os pensamentos e as palavras em atos concretos.

Muitas vezes, moviam-se com a fantasia do Evangelho como aconteceu no final da década de 1980 com a campanha "Uma vaca para o índio". Uma iniciativa que visava doar uma vaca para cada agricultor brasileiro sendo esta a condição para que ele pudesse ver reconhecidos direitos e dignidade.

Dessa aventura de solidariedade apoiada pelo Arcebispo de Ravenna, Ersilio Tonini, e que tinha nascido e se criado na terra do humanismo cristão, tinha participado com ímpeto e a seu próprio risco e perigo, inclusive aquele que é hoje o mais idoso dos bispos da Itália.

Foi então que um tremor perpassou muitas consciências porque a campanha "Uma vaca para o índio" no gesto do dom também transmitia uma sacudida cultural para a proteção e promoção da justiça e da paz no mundo.

Um tremor da consciência e uma sacudida cultural que hoje são enfraquecidos por slogans e comportamentos por demais imbuídos de conformismo, de mediocridade. O caminho para o futuro, diz um bispo que completou 100 anos, não é indicado pelas palavras vãs do medo, mas pelas palavras loucas do amor.

Leia mais