28 Outubro 2019
Um padre vietnamita que tentou quatro vezes chegar à Inglaterra contou que viu pessoas serem mortas pelos serviços de segurança em uma de suas tentativas fracassadas.
A reportagem é de Russell Hope, publicada por Sky News, 27-10-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em sua terceira tentativa, o Pe. Yen Duc Vu, hoje morador de Birmingham, estava já em seu bote, em um rio, pronto para se dirigir ao mar quando serviços de segurança, que haviam descoberto o plano e estavam determinados a impedir as pessoas de sair, abriram fogo.
Algumas das pessoas foram atingidas e mortas em um dos vários botes que as levavam, disse ele, enquanto outras se afogaram depois de pular na água para escapar.
Anos se passaram e essa experiência ainda o afeta.
Vu disse que se sente triste pelas mortes das 39 pessoas cujos corpos foram encontrados na parte traseira de um caminhão em Essex, quarta-feira passada, 23 de outubro.
“Vemos que elas tiveram uma caminhada difícil e que acabou em solidão (...) em uma morte solitária”. Segundo o padre, as vítimas sabiam “a todo o momento que a morte estava por vir. Deve ter sido muito triste”.
As identidades das vítimas não foram confirmadas ainda, mas acredita-se que algumas são naturais do Vietnã e que poderiam estar viajando em um comboio de três veículos.
Três pessoas, Anna Bui Thi Nhung, Nguyen Dinh Tu e Tra My, todos vietnamitas, estão entre os encontrados no carregamento do caminhão.
O religioso, que se descreve como capelão da comunidade vietnamita na região conhecida como Midlands, na Inglaterra, veio ao país como uma das pessoas “que usavam botes” nos anos 1980 em fuga do Vietnã, período em que o empobrecido país se recuperava dos estragos da guerra civil.
Perguntado por que as pessoas continuam arriscando a vida naquilo que ele mesmo descreve como “jornadas perigosas e incertas”, o religioso respondeu que, de sua parte, estava buscando liberdade e “o preço da liberdade custa caro”.
“Seus contemporâneos diziam que as gerações mais velhas haviam se sacrificado pela geração seguinte”, acrescentou.
A sua própria vida esteve em risco na caminhada que fez, já que o seu bote era pequeno e impróprio para navegar no mar, porém “aceitei que, se morresse, era o preço que eu tinha que pagar”.
Segundo ainda o religioso, ele buscava “daquilo que nós [no Vietnã] não tínhamos: democracia e liberdade”.
“Com base no que as pessoas [que já viviam na Inglaterra] me diziam, elas desfrutavam de liberdade e democracia, e que eram respeitadas, tinham dignidade”, acrescentou.
“Todos queremos um futuro melhor”.