25 Setembro 2019
Dados divulgados pela OXFAM. Dos países ricos, financiamentos irrisórios para os 48 países mais pobres e empréstimos disfarçados de ajuda para combater a crise climática. Um novo relatório de denúncia.
A reportagem é publicada por La Repubblica, 23-09-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A sobrevivência de dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo - especialmente nos países em desenvolvimento, e em particular na África - já depende hoje e dependerá cada vez mais no futuro próximo das capacidades de se adaptar e resistir ao impacto das mudanças climáticas e de eventos cada vez mais extremos, como secas prolongadas e severas, inundações, ciclones e furacões. No entanto, nos países mais pobres do planeta, cada pessoa, exposta a um risco contínuo, recebe em média cerca de 3 dólares por ano em ajudas úteis para proteger a si e suas famílias da perda de colheitas, criação de animais e todas aquelas reservas essenciais das quais depende a sobrevivência.
Milhões de pessoas entre secas e ciclones violentos. Os 48 países mais pobres do planeta recebem de 2,4 a 3,4 bilhões de dólares por ano em ajuda e financiamento destinados a reduzir o impacto da crise climática. Um valor irrisório que equivale a menos de 1 centavo por dia. E o alarme lançado hoje pela Oxfam, organização que luta contra as desigualdades, por ocasião do início da Cúpula sobre o Clima das Nações Unidas em Nova York, através de um novo relatório que coloca ênfase particular na catástrofe climática que está devastando o Moçambique e o Chifre da África. Uma área já extremamente pobre, onde milhões de pessoas sofrem a alternância e as consequências de secas prolongadas e ciclones destrutivos.
O exemplo de Moçambique. Milhões de pessoas na África estão em risco de fome e doença, se os líderes mundiais, reunidos a partir de hoje em Nova York, não intervirem imediatamente para reverter a rota, reduzindo as diferenças entre as metas fixadas no acordo de Paris em 2016 e os poucos progressos feitos até o presente. Já hoje em Moçambique, o impacto dos ciclones Idai e Kenneth, que destruíram o país há seis meses, levou mais de 2 milhões de pessoas à beira da fome, aumentando drasticamente o risco de espalhar doenças como a cólera e causando danos de 3,2 bilhões de dólares, o equivalente a mais de um quinto do PIB de Moçambique. Proporcionalmente, é como se 23 furacões Katrina devastassem os Estados Unidos. A resposta da Oxfam à emergência climática em Moçambique pode ser apoiada aqui.
Nenhuma responsabilidade e todas as consequências. Ao mesmo tempo, no ano passado, a seca no Chifre da África pôs em risco mais de 15 milhões de pessoas na Somália, Etiópia e Quênia. "Os governos das grandes potências mundiais continuam a não cumprir suas promessas de financiamentos diretos para a adaptação dos países pobres à crise climática global - disse a diretora de campanhas da Oxfam Itália, Elisa Bacciotti. O paradoxo é que esses países, embora não tenham responsabilidade pelas mudanças climáticas, são as vítimas, presos a uma espiral aterradora de crises humanitárias, despojados do futuro e forçados a se tornar refugiados. Em primeiro lugar, devemos pensar a eles, fazendo todo o possível para que ainda possam ter um futuro. Por isso pedimos aos países ricos e aos grandes doadores para intervir imediatamente, concedendo ajudas verdadeiras, e não empréstimos a serem restituídos que condenam milhões de pessoas à pobreza".
Todas as promessas quebradas. As promessas não foram cumpridas, os 100 bilhões de empréstimos prometidos até 2020 ainda estão distantes. Em 2009, os países ricos prometeram alocar 100 bilhões de dólares até 2020, para financiar a redução de emissões globais na atmosfera e permitir que os países em via de desenvolvimento se adaptassem à crise climática. Em 13 de setembro deste ano, declararam ter empenhado 71 bilhões de dólares. Um valor que, no momento, não parece ser confirmado por empenhos concretos e está muito abaixo do prometido. O caso da Somália: endividada em 75% do PIB, cada novo "empréstimo" seria insustentável
O efeito de altos níveis de dívida. Os altos níveis elevados de dívida em países como Somália e Moçambique só agravam o impacto das mudanças climáticas, reduzindo drasticamente os recursos disponíveis para a adaptação e a redução das emissões de CO2. A dívida da Somália é de 75% do PIB e qualquer financiamento concedido na forma de empréstimo só serve para mergulhar ainda mais o país em um buraco negro. A Oxfam estima que cerca de dois terços das ajudas para combater a crise climática tenham sido alocados na forma de empréstimos.
Adaptar-se até 2030 custará 140 a 300 bilhões. "Segundo estimativas da ONU, a adaptação às mudanças climáticas e a gestão dos danos causados por seus efeitos custarão aos países em desenvolvimento entre 140 e 300 bilhões de dólares até 2030 - Bacciotti acrescenta. Por esse motivo, os países ricos eles devem reduzir drasticamente suas emissões de CO2 e alocar ajudas verdadeiras para os países menos desenvolvidos, respeitando os compromissos a serem alcançados até 2020. Uma ação que terá que ser acompanhada de uma duplicação dos atuais financiamentos para o Fundo para o clima".
O papel da Itália e o apelo por um verdadeiro Green New Deal. "O novo governo de Conte declarou sua ambição de assinar um novo acordo verde, que possa neutralizar a emergência climática. Pois bem, vamos pedir que se passe rapidamente das palavras aos fatos, sem adiar a adoção e encontrando as coberturas financeiras adequadas. - conclui Bacciotti. Ao mesmo tempo, pedimos à Itália que desempenhe um papel de liderança no combate à crise climática também em nível global, destinando contributos adequados para o financiamento do Fundo para o clima e de instrumentos bilaterais e multilaterais de adaptação às mudanças climáticas".
A 3ª. greve global para o futuro. A Oxfam adere e apoia a Semana Global de Ação para o Clima, que culminará no próximo dia 27 de setembro com a 3ª Global Strike for Future, as manifestações que em todo o mundo e em muitas ruas italianas exigirão intervenções imediatas para combater os efeitos das mudanças climáticas. Um trabalho de conscientização sobre o tema, realizado pela Oxfam em muitas escolas italianas, treinando professores e alunos para se tornarem intérpretes de ações de mudança nos temas de sustentabilidade ambiental e desenvolvimento sustentável. Um processo que até o momento envolveu milhares de estudantes que participarão em dezembro na próxima Reunião de Direitos Humanos 2019, em Florença, dedicada ao tema e à Marcha pelo Clima, que em maio de 2020 trará milhares de estudantes às ruas de 12 cidades italianas e 11 Países europeus.
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O clima que muda: as pessoas mais pobres do mundo têm cerca de um centavo por dia para resistir às consequências - Instituto Humanitas Unisinos - IHU