25 Setembro 2019
"Temos consciência do momento histórico que estamos vivendo, as ameaças e as perdas que pairam sobre conquistas e direitos sociais adquiridos a custo de muita luta e martírio, principalmente aquelas que atentam contra a vida dos povos indígenas, da terra, da floresta, dos lagos e rios", escrevem os delegados e delegadas participantes da 47ª Assembleia da CNBB regional Norte 1.
Segundo a Assembleia, "o Sínodo para Amazônia é o kairós que nos enche de esperança, mas também nos convoca. O tempo é agora!"
“Louvado sejas, meu Senhor”
Tema central: “Igreja Casa do Pão, da Palavra, da Caridade e da Missão em busca de novos caminhos”.
Com o mesmo refrão do Canto de Francisco de Assis com o qual Francisco, o Papa, inicia a Encíclica sobre o cuidado da Casa Comum Laudato Si', também nós, povo de Deus reunido na 47ª Assembleia do Regional Norte 1, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, ecoamos nosso louvor e compromisso com este território, no qual vivemos e com estes povos com os quais convivemos. Somos Igreja em caminho sinodal, homens e mulheres, representantes de doze etnias indígenas, jovens e anciãos, cristãos leigos e leigas, consagrados e consagradas, diáconos, presbíteros e bispos, que conduzidos pelo Espírito de Deus olhamos para nossa Igreja como casa do Pão, da Palavra, da Caridade e da Ação Missionária em busca de novos caminhos.
Foi com alegria que acolhemos as novas Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e com entusiasmo que resgatando a caminhada em preparação ao Sínodo Especial para Pan Amazônia nos deixamos interpelar diante dos apelos da conversão pastoral, conversão ecológica e conversão à sinodalidade. Na verdade, no processo do Sínodo para Amazônia nos reconhecemos e sentimos confirmada a caminhada que há décadas nossas Igrejas Locais vêm trilhando por meios de suas assembleias, encontros regionais e inter-regionais, documentos que registram nossas opções pastorais e evangelizadoras.
A Igreja tem uma presença bonita no chão da Amazônia. Sua caminhada é um entrelaçar de mãos com os povos indígenas, com as populações ribeirinhas, com os pobres das periferias urbanas. Experimentamos a riqueza de conviver com uma diversidade que nos convoca ao diálogo e contemplação da diferença diante das danças, dos rituais, benzimentos, expressões da cultura e religiosidade de povos originários e populações locais. Não poderíamos ter outra atitude, senão o irrenunciável compromisso com a defesa da vida. Isto o fazemos em nome de Jesus, o Filho de Deus, de quem somos discípulos missionários e na força do Espírito Santo. A audácia e a determinação de Jesus de Nazaré para inaugurar o Reino de Deus inspira e impulsiona nossa ousadia para que este Reino aconteça nesta imensa Amazônia.
Temos consciência do momento histórico que estamos vivendo, as ameaças e as perdas que pairam sobre conquistas e direitos sociais adquiridos a custo de muita luta e martírio, principalmente aquelas que atentam contra a vida dos povos indígenas, da terra, da floresta, dos lagos e rios. Em outros pronunciamentos da Igreja estas ameaças já foram bem explicitadas. Nos causa indignação, quando as mesmas se revestem de manipulado amparo legal, retrocessos que ganham força pela voracidade de modelos econômicos predatórios amparados pelos poderes públicos que deveriam regular a ordem social, mas agem contra a mesma: manobras do Executivo, conivência do Legislativo, permissividade do Judiciário! O que está sendo usurpado em pouco tempo, poderá levar décadas para se refazer. O Sínodo para Amazônia é o kairós que nos enche de esperança, mas também nos convoca. O tempo é agora!
Somos igualmente conscientes da convocação recebida para sermos uma Igreja em saída; passarmos a uma pastoral de presença. Continuamos acreditando em uma Igreja ousada, dialogal, inclusiva, pobre e solidária. O protagonismo dos cristãos leigos e leigas são a força das nossas comunidades. São elas, enquanto comunidades eclesiais missionárias que garantem a evangelização. Somos também fascinados pelo protagonismo dos jovens nesta trilha do Evangelho. Encanta-nos a estreita relação do universo feminino com a ecologia integral. Ao agredir e ferir as mulheres, fragilizamos o cuidado da casa comum. Há um lugar específico para mulher no corpo ministerial da Igreja e sem revisão desta dinâmica da ministerialidade não teremos a força para assegurar a presença da Igreja e do Cristo Eucarístico junto às comunidades. A Eucaristia é um dom que pertence a uma comunidade eclesial, não somente a um ministério!
Neste caminho trilhado, não iremos retroceder. Convocamos nossas comunidades, a tomar parte nesta estrada, a experimentar a catolicidade da nossa Igreja que em comunhão se coloca ao serviço da vida. Conclamamos nossas pastorais, serviços, organismos, grupos, movimentos, todos os evangelizadores, os batizados a rezarmos pelo Sínodo, para que se faça sensível ao que o Espírito diz às Igrejas da Amazônia. Estamos juntos. Estamos com o Sínodo. Estamos com o Papa. Não nos faltarão as forças, velam por nós os Mártires destas terras, a Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe da Amazônia estão conosco!
Manaus, 19 de setembro de 2019.
Os delegados e delegadas participantes da 47ª Assembleia da CNBB regional Norte 1
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Amazônia. "O que está sendo usurpado em pouco tempo, poderá levar décadas para se refazer". Mensagem da 47ª Assembleia da CNBB regional Norte 1 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU