24 Setembro 2019
À medida que se aproxima o Sínodo dos Bispos da Amazônia, de 6 a 27 de outubro, os críticos se perguntam em voz alta, em primeiro lugar, por que o evento está sendo realizado, e todos os sinais sugerem que ele poderá ser outro capítulo da batalha em curso entre progressistas encorajados pelo Papa Francisco e conservadores descontentes com ele.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 23-09-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para qualquer pessoa inclinada a questionar a necessidade do Sínodo ou a politizá-lo, o leigo Mauricio Lopez, do Equador, tem uma mensagem simples: “Venha morar em uma dessas comunidades remotas por um ano”.
Um dos organizadores do iminente Sínodo, Lopez defende que o Sínodo está disposto a pensar “fora da caixa” em termos gritantes.
Se a Igreja Católica não pode mudar a forma com a qual aborda os novos desafios – e “não o dogma”, ele enfatiza – “então temos que reconhecer às pessoas que somos incapazes de responder aos desafios que a realidade coloca e ao seu direito a receber os sacramentos, e temos que agradecê-las pela sua presença e dar-lhes a nossa bênção ao abandonarem a Igreja”.
Em particular, Lopez apoiou os pedidos pela ordenação de homens casados, os chamados viri probati, como uma solução para a crônica escassez de padres na Amazônia, dizendo que é uma “proposta que vem diretamente do povo de Deus que está no território”.
O arcebispo Rafel Cob, um missionário da Espanha que está no Equador desde 1998, concordou em chamar a ordenação de homens casados parte de uma mudança de uma Igreja “clerical” para uma Igreja “ministerial”.
As comunidades remotas que Lopez tem em mente incluem cerca de 4.500 pequenas aldeias espalhadas por toda a Amazônia, que se encontram em nove países, incluindo Equador, Brasil, Venezuela, Bolívia, Colômbia e Guianas.
No total, existem cerca de 500 povos indígenas diferentes na região amazônica e mais de 80 que ainda vivem em isolamento voluntário.
Em 2017, o Papa Francisco anunciou o seu plano de um Sínodo dos Bispos para abordar os desafios que a Igreja Católica enfrenta na evangelização desses povos, mas também na preservação da própria floresta tropical, que a comunidade científica vê como fundamental para manter a biodiversidade mundial que eles dizem que atualmente está sob ameaça por parte das indústrias do petróleo e da mineração, além do desmatamento.
“A visão de muitos que têm medo do Sínodo mudaria drasticamente se eles viessem viver aqui por um ano. Todas as questões ideológicas ou doutrinais chegariam ao fim”, disse Lopez.
Lopez é o secretário executivo da Repam, a Rede Eclesial Pan-Amazônica. Ele também é um dos dois membros do conselho pré-sinodal, de um total de 18, que não são bispos. A outra é a Ir. Maria Irene Lopes dos Santos, uma freira brasileira apelidada de “Princesa da Amazônia”.
Falando com jornalistas em Quito, Lopez disse que a Repam coordenou e realizou cerca de 300 sessões de escuta em toda a região, envolvendo todos os nove países. Isso levou a que cerca de 87.000 pessoas da Amazônia fossem ouvidas por meio de assembleias territoriais ou grupos paroquiais.
Segundo o leigo, nascido no México, mas que mora no Equador, o Sínodo destina-se a provocar três conversões fundamentais.
A primeira é a uma Igreja “em saída”, que evangeliza através dos seus esforços sociais e que “entra em contato com a realidade com alegria, não impondo a fé, mas tornando-a contagiosa”.
Ele sublinhou a exortação apostólica Evangelii gaudium, de Francisco, como o documento principal, dizendo que é um chamado do papa para uma “conversão do coração”.
Lopez também disse que o Sínodo pede uma “conversão ecológica”, argumentando que é “triste que alguns representantes do mais alto nível da Igreja não possam reconhecer que a doutrina social católica é tão doutrinal quanto o resto”.
Aqui, ele usou a encíclica Laudato si’ como um chamado do papa “para todo o planeta”, o que não prejudica a identidade da Igreja, mas “prioriza aqueles que foram fundamentais na proteção da Mãe Terra”.
A terceira e última conversão, segundo Lopez, é rumo à “sinodalidade da Igreja”, que Francisco exortou em sua constituição apostólica Episcopalis comunio.
Ao convocar um Sínodo sobre a Amazônia, disse Lopez, Francisco está “nos dizendo que a periferia é o centro. A Amazônia sempre foi concebida pelos governos, pelas empresas privadas e pelo próprio povo como uma periferia, como um espaço a ser colonizado e explorado”.
Em um encontro entre o papa e os organizadores do Sínodo, Francisco teria dito à Repam para “prestar atenção na coisa mais importante: a periferia é o centro”.
“A periferia, considerada como descartável e sem valor, pode iluminar e purificar o centro”, disse o leigo. “Nada é mais evangélico do que isso.”
Durante esse encontro, o papa também teria elogiado a “alegria” sentida no conselho pré-sinodal. De acordo com Lopez, isso porque a maioria dos bispos que fazem parte da comissão são prelados missionários que trabalham in loco e que entendem a realidade sobre a qual estão falando.
Lopez não citou nomes em relação a quem se opõe ao Sínodo, mas observou que há alguns cardeais entre eles, como o estadunidense Raymond Burke e o alemão Walter Brandmüller.
“Você precisa se perguntar se aqueles que são contra o processo sinodal também não são contra a Igreja e o papa”, afirmou. “Precisamos ver se eles são contra qualquer mudança e reforma que possam ser necessárias.”
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Você questiona o Sínodo da Amazônia? ''Venha morar aqui por um ano e veja'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU