04 Setembro 2019
Os oceanos, que foram centrais para a evolução e sobrevivência de milhões de espécies, estão se transformando em uma ameaça global gerada, acima de tudo, pela interferência humana. Se não for reduzida a poluição de CO2 que prejudica o meio marinho, revelou a ONU no rascunho de um relatório que será discutido em Mônaco, nas próximas semanas, os oceanos não apenas representarão um enorme perigo para as pequenas nações insulares e comunidades costeiras, mas também terá um impacto significativo nas maiores economias mundiais.
A reportagem é publicada por Página/12, 30-08-2019. A tradução é do Cepat.
Os oceanos absorvem um quarto das emissões de CO2, além de mais de 90% do calor adicional gerado pelas emissões de gases do efeito estufa, desde 1970. Sem essa esponja marinha, o calor na Terra seria insuportável para as espécies.
Contudo, o excesso de CO2 produzido pelo homem, alertou o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) no relatório especial sobre oceanos e áreas geladas (criosfera), tem um custo: a acidificação, que está alterando a cadeia alimentar dos oceanos e as ondas de calor marinhas, que estão criando vastas zonas mortas.
Segundo especialistas, a poluição gerada pelas grandes potências econômicas poderia, no futuro, diminuir fortemente as reservas de peixes, multiplicar os danos causados pelos ciclones por mil e deixar centenas de milhões de pessoas desabrigadas devido ao aumento de nível do mar.
Esse aumento do nível do mar, resultante do derretimento das geleiras, pode exceder mais de cem vezes os níveis atuais, no final do século XXI. Além disso, os especialistas alertaram que a superfície do pergelissolo do hemisfério norte poderia derreter entre 30% e 99% e registrar uma explosão nas emissões de CO2 e metano, acelerando ainda mais o aquecimento global.
Essas mudanças nos oceanos, causadas pela poluição, deixam os seres humanos extremamente desprotegidos. De acordo com o IPCC, mesmo nos cenários mais otimistas de redução de emissões, em 2050, muitas megacidades localizadas em baixa altitude e pequenas nações insulares experimentarão "eventos extremos" anuais, relacionados ao nível do mar. Enquanto isso, em 2100, os danos anuais causados pelas inundações se multiplicarão, em escala, de 100 para 1.000.
Desde o final do século XIX, a temperatura média global subiu 1°C. Nesse ritmo, explicou o IPCC, se espera que, no final do século XXI, aumente em mais 2 ou 3 graus. É por isso que o Acordo de Paris defende a limitação do aumento para menos de 2°C. No entanto, embora se possa frear sua magnitude, grande parte do dano já está feito: mesmo que o mundo consiga limitar o aquecimento a 2°C, o nível dos oceanos aumentará o suficiente para deslocar 280 milhões de pessoas, em 2100.
Embora seja um problema que afeta todos os países do mundo, as propostas dos maiores emissores de CO2 - China, Estados Unidos, Índia e da União Europeia - podem não corresponder à urgência climática. No dia 23 de setembro, irão se reunir em Nova York, em uma cúpula convocada pelo Secretário Geral da ONU, Antonio Guterres, para obter maiores compromissos nacionais na luta contra o aquecimento.
"Pequim tem cada vez menos olhar sobre as questões ambientais, especialmente sobre as mudanças climáticas", disse Li Shuo, analista de políticas climáticas da China, no Greenpeace. O ressurgimento das usinas domésticas de carvão e o relaxamento nas normas de poluição atmosférica sugerem que as principais preocupações da China são a desaceleração econômica e a guerra comercial com os Estados Unidos.
De acordo com o Banco de Dados de Emissões para Pesquisa Atmosférica Global, a China emitiu 10,8 gigatoneladas de dióxido de carbono em 2017, e cerca de 29% do total mundial. Se as emissões continuarem aumentando na taxa atual, Xangai poderá enfrentar aumentos do nível do mar de 2,6 milímetros por ano, durante este século. Além disso, um estudo revelou que das 20 cidades com maior risco do mundo, nove são chinesas.
Os Estados Unidos, historicamente o país mais emissor, têm grandes metrópoles costeiras e são particularmente vulneráveis ao aumento do nível do mar. No entanto, o presidente Donald Trump quer tirar seu país do Acordo de Paris e dilacerou as políticas climáticas de seu antecessor, Barack Obama.
Segundo o relatório do IPCC, o aumento de 1,2 metros no nível do mar, em um século, pode aumentar o número de áreas afetadas pelas inundações na costa leste. Outro estudo alertou que Nova York poderia sofrer inundações de 2,25 metros, uma vez a cada cinco anos, entre 2030-2045. Enquanto isso, a costa leste já foi atingida por vários ciclones devastadores, entre 2005 e 2012.
A União Europeia visa uma meta de zero emissões, mas vários Estados membros relutam. De fato, em 2017, a União Europeia produziu 3,5 gigatoneladas de CO2.
Em geral, a Europa está menos exposta aos riscos do aumento do nível do mar, embora o relatório do IPCC mencione o perigo de inundações no delta do Rio Reno, uma grande artéria comercial. Um aumento de temperatura, devido às emissões, também poderia desacelerar o fenômeno meteorológico chamado Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico, causando tempestades de inverno mais poderosas no continente.
Cerca de 260 milhões de pessoas, isto é, um quinto da população da Índia, vivem em regiões costeiras que, nos últimos anos, sofreram um aumento de tempestades devido às mudanças climáticas. Embora o país esteja desenvolvendo energia solar, ainda continua construindo usinas de carvão.
Harjeet Singh, da ONG ActionAid, disse que a Índia é o país mais vulnerável ao aumento do nível do mar e disse que milhões de pessoas serão deslocadas nas próximas décadas. "A questão é para onde irão", refletiu. "Estamos falando de um dos países mais populosos do mundo, o que significa que eventualmente surgirão conflitos entre populações residentes e deslocadas. Estamos em uma bomba-relógio", alertou.
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A ameaça dos oceanos: entre a poluição e o descongelamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU