07 Agosto 2019
"Nada a ver com a obsessão do então candidato à presidência da república, no sentido de pretender acabar com as “mamatas” que o poder pode proporcionar. Tanto menos com as repetidas acusações a seus antecessores no Palácio do Planalto, cujos governos, segundo ele, estavam infestados de comunistas ou marxistas de esquerda. Também desta vez, na política velha e tradicional, tudo isso não passa de privilégios da classe dominante, ponto e basta", escreve Alfredo J. Gonçalves, padre carlista e assessor das Pastorais Sociais.
Os exemplos se multiplicam. Primeiro, o presidente Jair Bolsonaro indica seu filho Eduardo Bolsonaro para o posto mais cobiçado de qualquer diplomata tupiniquim. Nada menos que a embaixada brasileira em Washington. O que mais estranha, porém, são as motivações que acompanham tal insistência do capitão: o indicado tem alguma experiência em comercializar hambúrguer nos Estados Unidos, fala inglês e espanhol e é amigo do filho de Donald Trump. Nada a ver com as credenciais para o exercício de uma verdadeira carreira diplomática, nem com a abertura e pluralidade necessárias à função. Ao contrário, a boa diplomacia passa longe das atitudes combativas do candidato em questão. Na política velha e tradicional, esse tipo de comportamento era chamado de nepotismo, ponto e basta.
Depois, o magistrado Dias Toffoli, atual ministro e presidente do Supremo Tribunal Federal, se acha no direito de suspender todas as investigações com dados do Coaf, as quais não tenham a cobertura da autorização judicial. Além de não levar em conta uma decisão já tomada pelo STF, a suspensão compromete uma série de operações em curso. E tudo para atender ao pedido feito pela defesa do senador Flávio Bolsonaro, outro filho do capitão. Nada a ver com a reiterada promessa de combate à corrupção, nem com os frequentes e insistentes acenos à transparência na administração pública, alardeados durante a campanha eleitoral do então candidato Jair M. Bolsonaro. Uma vez mais, na política velha e tradicional, semelhante prática é cunhada com o nome de favoritismo, ponto e basta.
E as coisas não ficam por aí. Entra em cena novamente, ainda que de forma indireta, o filho do capitão, candidato à embaixada brasileira nos Estados Unidos. O fato é que, no dia 24 de julho de 2019, um grupo de familiares do presidente Jair Bolsonaro usou o helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB) para assistir ao casamento de Eduardo Bolsonaro com a psicóloga Heloísa Wolf. A coisa veio à tona através de um vídeo feito por Osvaldo Campos, integrante do clã Bolsonaro. O vídeo acabou sendo postado nas redes sociais pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT). Nele, muito à vontade, Osvaldo mostra uma tia, uma criança e outros parentes, dizendo: “Saiu a caravana do Vale do Ribeira, direto para o Rio de Janeiro”. Nada a ver com a obsessão do então candidato à presidência da república, no sentido de pretender acabar com as “mamatas” que o poder pode proporcionar. Tanto menos com as repetidas acusações a seus antecessores no Palácio do Planalto, cujos governos, segundo ele, estavam infestados de comunistas ou marxistas de esquerda. Também desta vez, na política velha e tradicional, tudo isso não passa de privilégios da classe dominante, ponto e basta.
Outras diatribes poderiam ser alinhavadas. Como, por exemplo, quando o próprio presidente Bolsonaro, já na reta final dos debates sobre a reforma da previdência, tentava fazer lobby em defesa dos policiais federais. Sem falar que, de uma forma sutil e quase desapercebida, já havia favorecido a corporação dos militares. Com isso, contrariava de maneira frontal o refrão do ministro Paulo Guedes, segundo o qual “quem ganha mais, paga mais; quem ganha menos, paga menos”. Pior que isso, comprometia a meta estipulada por seu próprio governo de economizar em dez anos 1,2 trilhão de reais. Nada a ver com a ideia de uma administração pública agindo de forma conjunta, focada numa meta comum. Trata-se, antes, de um governo que parece agir como bombeiro, tentando apagar os focos de incêndio, em lugar de impedir as chamas. Na contramão do ditado popular, “mais vale remediar do que prevenir”. Desta vez, ainda, na política velha e tradicional, estamos diante de uma flagrante falta de sintonia, de programação e de planejamento, e ponto final.
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Contradições da tão alardeada “nova política” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU