Quais são os impactos dos alimentos orgânicos sobre o meio ambiente? Um estudo baseado no perfil de 29 mil consumidores acaba com preconceitos.

A reportagem é de Antoine de Ravignan, publicada por Alternatives Économiques, 11-07-2019. A tradução é de André Langer.

“A agricultura orgânica pode ter efeitos muito negativos sobre o clima, contribuindo para um aumento de CO2 na atmosfera”, escreveu o jornal Le Figaro no dia 04 de janeiro, citando um artigo publicado na revista Nature. De fato, dados os rendimentos mais baixos em comparação com a agricultura química – uma diferença estimada de 19% em escala global e significativamente maior em um país como a França (1) – a agricultura orgânica necessita, para produção igual, de mais terras. Se a humanidade quisesse substituir o que ela coloca em seus pratos pelo seu exato equivalente orgânico, precisaria desmatar em larga escala e pegar de volta as áreas destinadas a pastagens para ampliar as culturas. Isso resultaria em liberações maciças de CO2 ligadas ao desmatamento e a uma degradação da biodiversidade.

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Equipada com todas as virtudes, a agroecologia seria, portanto, uma catástrofe ecológica se se generalizasse? A observação empírica nos diz exatamente o contrário, como mostra um estudo feito por uma equipe multidisciplinar francesa (2) publicado no American Journal of Clinical Nutrition e cujos resultados foram incorporados a um significativo dossiê produzido por um de seus autores para o grande público (3).

Com base em um questionário do qual participaram 29 mil adultos, o estudo “BioNutrinet” comparou os comportamentos alimentares do quinto grupo que ingeriu menos alimentos orgânicos e o quinto que mais comeu deles. O primeiro quintil consome em média menos de 1% de alimentos orgânicos (como a grande maioria dos franceses). No outro extremo, o quinto quintil come em média 71% de produtos orgânicos. Mas, revela o estudo, e esta é sua contribuição mais significativa, os consumidores “orgânicos” (quinto quintil) são também aqueles cuja alimentação é mais vegetal. Além de uma dieta muito mais rica em fibras, frutas e vegetais e diversidade de nutrientes, eles consomem metade da carne e salsichas e três vezes mais grãos que os consumidores “convencionais”, aqueles do primeiro quintil. Entre os “orgânicos”, a proporção de proteína animal na ingestão total de proteínas foi de 52% contra 63% entre os “convencionais”.

O que é bom para a saúde (menos carne e gorduras animais, sem resíduos de agrotóxicos em frutas e hortaliças orgânicas...) também é bom para o planeta. Sabendo que a maior parte das terras agrícolas é usada para alimentar os animais (pastagens e culturas dedicadas), comer menos carne reduz consideravelmente as áreas destinadas à alimentação. Sim, mas, ao mesmo tempo, comer mais orgânicos tende a aumentar essas áreas devido aos rendimentos menores.

No final das contas, qual é o balanço? Para descobri-lo é preciso traduzir os 264 alimentos (por exemplo, uma pizza) do questionário do BioNutrinet em 442 ingredientes (farinha, extrato de tomate, mussarela...) e depois 92 produtos agrícolas in natura (trigo, tomate, leite...) e atribuir coeficientes de impacto ambiental para cada um deles. Como resultado, um consumidor orgânico necessita 23% menos terras agrícolas para se alimentar do que um consumidor convencional (3.492 hectares contra 4.522 hectares). Além disso, produzir o que consome anualmente mobiliza menos energia no nível da propriedade agrícola (-26%) e emite menos gases de efeito estufa (-37%). Para quem trabalham aqueles que dizem que comer orgânicos é perigoso para o planeta?

Notas:

1. Um decréscimo de 48% para o trigo ou de 35% para a colza na bacia de Adour-Garonne, por exemplo.

2. Inra, Inserm, Itab, Cnam, Universidade de Paris 13, Solagro, Bio Consomm'acteurs, Hospital Universitário de Grenoble.

3. Le revers de notre assiette. Changer d’alimentation pour préserver notre santé et notre environnement [O reverso da nossa dieta. Mudar a alimentação para preservar a nossa saúde e o nosso ambiente], Philippe Pointereau (dir.), Solagro, junho de 2019, 62 p.

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