15 Julho 2019
Em minoria, mas ativos, evangélicos milenaristas da França veem no presidente brasileiro um enviado de Deus.
A reportagem é de Pierre Jova, publicada por La Vie, 11-07-2019. A tradução é de André Langer.
“Vocês aceitando ou não, o senhor Jair Bolsonaro é o Ciro do Brasil!” Quem disse essas palavras na TV brasileira Rede Super, em 10 de abril de 2019, é um pastor evangélico francês de origem congolesa. “Deus o escolheu para um novo tempo, para uma nova temporada no Brasil!”, cutuca Steve Kunda, 38 anos, traduzido para o português por um intérprete. “Encorajem-no, orem por ele!” No mês seguinte, as equipes de Jair Bolsonaro publicam o vídeo nas redes sociais, fazendo aparecer Steve Kunda, desconhecido na França, nas manchetes das mídias brasileiras.
Por que este ex-infrator, convertido aos 19 anos, pastor da Missão cristã Trabalhadores do Evangelho, uma Igreja Evangélica de Villejuif (Val-de-Marne), compara o presidente brasileiro ao imperador persa Ciro, o Grande (século VI a.C.)? “Ciro foi um instrumento nas mãos de Deus, como está escrito no livro de Isaías. Ele permitiu que os judeus exilados na Babilônia retornassem a Jerusalém”, insiste para La Vie Steve Kunda, que faz parte de uma tradição literalista em voga desde a Reforma, vendo novos “Ciros” surgirem no campo político. Alguns evangélicos americanos conferiram esse título a Donald Trump. Eleito presidente em 2018, com o apoio de 70% dos evangélicos brasileiros, contra 51% dos católicos, Jair Bolsonaro goza da mesma aura. “Ele esposa os valores bíblicos! Ele é contra o casamento gay e apoia Israel. Sua eleição é o começo de um despertar espiritual no Brasil, que chegará à Europa!”, entusiasma-se Steve Kunda.
Ele não está sozinho em desfazer-se em elogios ao presidente brasileiro. “Nossa base tem tantos adeptos quanto os adversários de Bolsonaro”, reconhece-se no Conselho Nacional de Evangélicos da França (CNEF). Deve-se dizer que o perfil do Bolsonaro é atraente: dizendo-se católico, mas frequentando a Igreja Batista de sua terceira esposa, o ex-deputado pelo Rio de Janeiro foi “rebatizado” por imersão em 2016 no Jordão, em Israel, por um pastor pentecostal. Sua esposa, Michelle, teria feito retirar as estátuas de santos católicos que ornavam a residência presidencial de Brasília, consideradas “idólatras”. Este gesto incentiva os pastores a citá-lo como exemplo nos seus sermões, como faz Nuno Pedro, pregador de origem portuguesa, que reina na Carisma, uma “mega-Igreja” pentecostal situada no Blanc-Mesnil (Seine-Saint-Denis) e não reconhecida pelo CNEF, que drena milhares de fiéis todas as semanas, principalmente afro-caribenhos.
Olhando mais de perto, a adulação de Bolsonaro destaca a clivagem entre os evangélicos franceses, o movimento neocarismático, sensível às teses milenaristas, e a tradição pietista ortodoxa, menos emocional: uma grande população protestante, oriunda especialmente da imigração africana, mostra-se receptiva a um discurso marcial, que apela à influência política na sociedade e frequentemente acompanhada por um elogio da riqueza material, chamada “teologia da prosperidade”. No entanto, esta tendência é contrastada pelo CNEF. O seu presidente em fim de mandato, Étienne L'Hermenault, denunciou “esta ideia ‘louca’, porque ingênua e sempre desmentida, de que bastaria que um cristão ganhasse a presidência para mudar para sempre a face de um país”, em maio de 2017. Da mesma forma, a teologia da prosperidade é condenada pelo CNEF. Ou seja, nem todos os evangélicos franceses dizem “amém” a Bolsonaro.
Veja o vídeo clicando aqui.
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Pastores franceses apoiam o Presidente Jair Bolsonaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU