26 Mai 2019
Centenas de milhares de jovens e jovens adultos de todo o mundo planejaram trocar as salas de aula por protestos, na sexta-feira (24), como parte da mais recente greve das escolas contra a inatividade dos líderes do governo em relação à mudança climática.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada por National Catholic Reporter, 24-05-2019. A tradução é de Natália Froner dos Santos.
A segunda greve climática global, após a primeira em março, que atraiu cerca de 1,4 milhão de pessoas, incluirá um número crescente de jovens católicos por meio de um novo grupo centrado nos jovens chamado Geração Laudato Si'.
Eles são um dos inúmeros grupos que organizam as greves, que coincidem com o quarto aniversário da data de publicação da encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente e a ecologia humana, "Laudato Si', sobre o Cuidado da Casa Comum". (O documento papal foi oficialmente lançado em 18 de junho de 2015.)
Cerca de 1.600 greves em 118 países foram planejadas para o dia, de acordo com Greta Thunberg, a sueca de 16 anos que iniciou os protestos climáticos #FridaysForFuture quando começou seu protesto solo em agosto passado. Desde então, ela se dirigiu aos líderes mundiais, incluindo um breve momento com o Papa Francisco, que encorajou Thunberg a continuar seu trabalho pela ação climática.
A Geração Laudato Si' organizou cerca de 50 greves marcadas para 24 de maio. A organização juvenil está pedindo à Igreja Católica para se tornar líder em mudanças climáticas, desenvolvendo planos de sustentabilidade e comprometendo-se a reduzir suas próprias emissões de gases de efeito estufa que continuam a aquecer o planeta.
"Queremos que as pessoas tenham plena consciência da Laudato Si' e do que o Papa Francisco nos pede. Não apenas para orar e refletir, mas para agir também", disse Analisa Ramsahai, de 31 anos, membro da Geração Laudato Si' e uma das organizadoras de greves pelo clima planejadas em Trinidade e Tobago.
No pequeno país insular caribenho na costa da Venezuela, mais de 400 crianças de 7 a 18 anos de idade, de 20 escolas católicas foram designados a marchar para a casa do arcebispo Charles Jason Gordon, da Arquidiocese de Port of Spain. Lá, eles planejaram entregar uma petição pedindo programas de estudos ecológicos e políticas amigas do meio ambiente a respeito de resíduos e alimentos em suas escolas.
Representantes do arcebispo, que está fora do país, e o núncio apostólico estavam preparados para receber a petição. Ramsahai, coordenadora de projetos do Instituto Franciscano para o Desenvolvimento Pessoal e Familiar, um ministério das Irmãs da Mãe Dolorosa, disse ao NCR que os líderes da Igreja em Trinidad e Tobago apoiaram a marcha e muitos planejavam comparecer.
"Essa é uma realidade que todos nós estamos enfrentando – crise climática, crise ecológica. E crianças, elas são as que vão sentir o peso total disso. E elas começaram a assumir a liderança. Elas começaram a tomar medidas", disse ela.
Em Seattle, membros da Geração Laudato Si' se juntaram a outros grupos ambientalistas, incluindo a Extinction Rebellion, em sua própria marcha até o marco do Obelisco Espacial. Lá, eles realizariam uma "morte" de 11 minutos – simbolizando os 11 anos que os cientistas do clima disseram que restam para cortar as emissões de gases do efeito estufa quase na metade para colocar o planeta no ritmo para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, e para evitar ameaças catastróficas à vida que vêm com níveis mais elevados de aquecimento.
Essa previsão, do órgão de ciências climáticas das Nações Unidas, estimulou grupos ambientalistas e, especialmente, jovens ativistas, a aumentar a pressão sobre os líderes mundiais no sentido de elevar os planos de ação climática para cumprir as metas do Acordo de Paris. Além das greves pelo clima, o movimento Sunrise, nos Estados Unidos, elevou a mudança climática como uma questão importante nas eleições presidenciais de 2020.
"Outros têm a maior responsabilidade de causar a crise climática, mas minha geração e aquelas que seguirem arcarão com o ônus de suas consequências", disse Maria Agustina Rodriguez Ortiz de Rozas, membro da Geração Laudato Si' que organiza uma greve na Argentina. "Hoje, não dizemos mais nada. Estamos retomando nosso futuro e isso é apenas o começo."
"Os jovens estão enfrentando um futuro incerto”, padre Joshtrom Kureethadam, coordenador do setor de ecologia e criação do Dicastério para Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, disse oferecendo apoio às greves.
"Encorajamos os tomadores de decisões em todos os lugares a ouvirem o apelo dos jovens católicos por mudanças políticas urgentes e ambiciosas para garantir um futuro de 1,5 graus", disse Kureethadam, autor do recente livro “The Ten Green Commandments of Laudato Si'” (“Os dez mandamentos verdes de Laudato Si'”, em tradução livre).
As greves pelo clima representam a primeira grande iniciativa da Geração Laudato Si', o recém-lançado grupo de jovens do Movimento Católico Global pelo Clima.
A Geração Laudato Si' já possui cerca de 2.000 membros católicos em todo o mundo, principalmente entre as idades de 15 e 30 anos. Realiza regularmente conferências online e os membros podem se juntar a grupos de trabalho focados em evangelismo, ativismo, espiritualidade e comunicação.
Marisa Vertrees, diretora de organização do Movimento Católico Global pelo Clima, disse que a ideia de uma ramificação jovem veio de um reconhecimento crescente do próprio trabalho do movimento, bem como da Jornada Mundial da Juventude e do Sínodo dos Jovens.
"Havia muita energia entre os jovens católicos para agir sobre a crise climática, e muita necessidade de que eles tivessem voz", disse ela.
Dois dias antes do início da Jornada Mundial da Juventude no Panamá, em janeiro, 400 jovens católicos se reuniram para discutir a encíclica social do Papa sobre o meio ambiente. Essa conferência produziu um manifesto juvenil sobre o clima, que depois foi apresentado ao cardeal Luis Tagle, arcebispo de Manila, nas Filipinas, e chefe da Caritas Internationalis.
Isso também marcou o início da Geração Laudato Si'.
"Nosso futuro e o futuro daqueles que virão depois de nós está em grave perigo", começa o manifesto. "Por muito tempo, a humanidade embarcou em um caminho irresponsável de destruição ambiental que ainda torna nosso presente precário e afeta o futuro".
O manifesto juvenil sobre o clima pede "conversão ecológica contínua" em todos os níveis da Igreja, incluindo medidas para promover estilos de vida simples e sustentáveis, para estruturas eclesiais comprometerem-se a 100% de energia renovável até 2030 e adotarem diretrizes éticas de investimento que desocupem as finanças da igreja de combustíveis fósseis.
Também pede aos líderes mundiais que cumpram o objetivo do Acordo de Paris de manter o aquecimento global a 1,5ºC, eliminando gradualmente os combustíveis fósseis; tomar medidas combinadas até 2030 para proteger um terço dos ecossistemas do planeta e proporcionar acesso universal e justo à água potável; e implementar o Pacto Global das Nações Unidas para uma Migração Segura, Ordenada e Regular.
Além das greves pelo clima, educação e conscientização têm sido um foco inicial para a Geração Laudato Si'. Eles estão trabalhando para desenvolver diretrizes para a criação de grupos nos campi das escolas a respeito da encíclica do Papa.
Além da greve, jovens católicos em Seattle estão enviando uma carta aos seus bispos e líderes de escolas católicas solicitando que a Laudato Si' seja incluída mais plenamente nos currículos e que programas ecológicos baseados na fé sejam oferecidos nas escolas.
Luke Henkel, coordenador de divulgação da Geração Laudato Si' e presidente da equipe de criação da St. James Cathedral, em Seattle, disse que embora haja muita atividade em grupos religiosos, o poder da encíclica permanece um tanto inexplorado. "Há pouca consciência do modo revolucionário como a Igreja Católica está tratando a crise ambiental por causa da Laudato Si',” disse ele.
"Parece que ninguém está realmente ligando o fato de que é aqui onde realmente podemos fazer uma boa mudança, educando-nos sobre o que é o ensino social católico em relação ao meio ambiente", disse Henkel, de 29 anos, ao NCR.
Ramsahai disse que, embora muitos jovens do Caribe estejam "totalmente cientes da questão da mudança climática", especialmente devido aos furacões e temperaturas extremas cada vez mais devastadoras, e às chuvas, eles estão menos sintonizados com o ensino católico sobre o meio ambiente.
Nas oficinas de cuidado da criação que liderou nas salas de aula em todo o Caribe, ela muitas vezes começa destacando a história da criação no Livro de Gênesis e a responsabilidade que Deus deu à humanidade para cuidar da Terra e de seus ecossistemas, disse ela. Quando ela relaciona isso com dados científicos sobre a mudança climática ou poluição plástica nos oceanos, "eles juntam dois e dois".
Ramsahai disse que os estudantes aceitaram encontrar maneiras simples de fazer a diferença: usar um lenço em vez de guardanapos de papel, criar cestas de artesanato para carregar frutas no mercado e buscar novas maneiras de fazer uma bebida popular de suco congelado que não envolva sacos plásticos descartáveis.
Até agora, Ramsahai ajudou a estabelecer um grupo da Geração Laudato Si' em Santa Lúcia e Granada – que está realizando sua própria marcha climática em 31 de maio – e há planos para expandir para Dominica e São Vicente e Granadinas.
À medida que a Geração Laudato Si' se expande, seus membros reconhecem que não podem cumprir suas metas delineadas em seu manifesto sozinhos.
"Precisamos de apoio de liderança de todos os níveis – o governo, a igreja especialmente e as escolas – para que essa fundação se torne algo maior", disse Ramsahai.
Para Henkel, um ex-seminarista dos Missionários do Verbo Divino, ele foi inspirado pelo trabalho ambiental que ele testemunhou durante seu tempo como missionário nas Filipinas, e pela paixão no Panamá na Jornada Mundial da Juventude. O grande desafio, ele disse ao NCR, é cultivar a mesma energia na igreja mais ampla, particularmente nos EUA, "fazer os líderes da igreja começarem a se importar e então dizendo: 'Ei, todos nós podemos começar a nos importar, não apenas o Papa Francisco'".
"Se os jovens estão vendo que é isso que os padres da paróquia estão falando, então eles se animam", disse ele. "Eu acho que, simplesmente, eles levarão isso mais a sério."
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Geração Laudato Si' reúne jovens católicos para greves pelo clima - Instituto Humanitas Unisinos - IHU