26 Abril 2019
Apesar de estar longe do centro da ação em Roma, Dom Celestino Aos, chefe temporário da Arquidiocese de Santiago, no Chile, tem um trabalho duro. Ele está substituindo um cardeal investigado por acobertar abusos sexuais clericais, cujo antecessor também está sendo questionado por promotores locais.
A reportagem é de Inés San Martín, publicado em Crux, 25-04-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Durante o período da Páscoa, Aos pode ter tornado o seu trabalho ainda mais difícil quando, na Quinta-Feira Santa, durante a Missa Crismal, ele foi filmado ao negar a comunhão a pelo menos dois fiéis que estavam de joelhos.
O Crux recebeu dois vídeos diferentes mostrando Aos recusando o sacramento às pessoas ajoelhadas em uma celebração, o que deixou vários fiéis na missa desconfortáveis desde o início. A Missa Crismal é uma das liturgias mais solenes do ano e é frequentemente a maior reunião anual de clero e dos fiéis realizada na maioria das dioceses. Entre outras coisas, é durante essa liturgia que os óleos que serão usados em para vários sacramentos ao longo do ano são abençoados.
A procissão de entrada contou com a presença do cardeal Ricardo Ezzati, que está sendo investigado pelas autoridades civis por acobertamento e que foi citado em uma denúncia por não ter relatado o estupro de um homem adulto que supostamente ocorreu na catedral de Santiago. Isso levou vários padres a abandonarem o rito, dos quais o Crux identificou pelo menos dois.
Um desses padres encaminhou os vídeos mostrados abaixo, gravados por uma rede de TV local.
A decisão de Aos, na Quinta-Feira Santa, de negar a comunhão a alguns dos fiéis e de permitir que Ezzati participasse da procissão no início da Missa Crismal enfureceu muitas pessoas no Chile.
O Crux pediu que a arquidiocese comentasse os vídeos e a atitude de Aos em relação à recepção da comunhão, mas não recebeu uma resposta imediata.
O Missal Romano, o conjunto oficial de normas para a celebração da missa, estabelece que os católicos que recebem a Sagrada Comunhão podem fazê-lo tanto de pé quanto ajoelhados. O Missal aprovado pelo Vaticano para a Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai afirma claramente que ambas as opções são possíveis, a menos que uma Conferência Episcopal decida de maneira diferente, algo que a Conferência chilena não fez.
De fato, as diretrizes chilenas aconselham que os fiéis que não se ajoelhem façam outro sinal de reverência antes de receber a Comunhão.
A versão inglesa do Missal adaptada para os Estados Unidos diz que a norma para a recepção da Comunhão nos Estados Unidos é de pé, mas que não se deve negar o sacramento a ninguém pelo fato de se ajoelhar.
“Pelo contrário, tais casos devem ser abordados pastoralmente, proporcionando aos fiéis uma adequada catequese sobre as razões para essa norma”, afirmam as diretrizes norte-americanas.
O Papa Francisco disse que ambas as opções são válidas, de acordo com a “prática eclesial”.
Em uma Audiência geral em uma quarta-feira do ano passado, refletindo sobre a missa, o pontífice argentino disse: “O fiel se aproxima normalmente da Eucaristia de forma processional, como dissemos, e comunga de pé com devoção, ou de joelhos, como estabelecido pela Conferência Episcopal, recebendo o sacramento na boca ou, onde é permitido, na mão, como preferir”.
Tanto Ezzati quanto seu antecessor, o cardeal Francisco Javier Errázuriz, foram outrora poderosos e influentes dentro da Igreja chilena. Errázuriz, 85 anos, chegou a ser membro do Conselho dos Cardeais que aconselham o papa sobre a reforma do governo da Igreja Católica.
Hoje, os legisladores chilenos estão tentando tirar a cidadania chilena de Ezzati. Nascido na Itália, em 2006, o Chile concedeu-lhe cidadania como reconhecimento pelo “trabalho frutífero e valioso” que fizera no país.
Aos, membro da ordem dos capuchinhos, foi nomeado por Francisco para ser o administrador apostólico de Santiago no dia 23 de março.
Desde que assumiu o cargo, Aos se aproximou de sobreviventes dos abusos clericais, assim como de um grupo de padres que sofreram os abusos sexuais e os abusos de poder do ex-padre Fernando Karadima, o mais infame clérigo pedófilo do Chile. Ele foi a Roma para se encontrar com o Papa Francisco e os chefes de vários escritórios vaticanos. Ele se encontrou com aqueles que estão nas periferias da sociedade e com o presidente chileno Sebastian Piñera.
A respeito da participação de Ezzati na missa, Aos disse a jornalistas chilenos que “a missa sempre é um ato litúrgico, uma reunião diante do altar do Senhor, e estamos aí para celebrar aquilo que o Senhor nos mandou celebrar, e mandou a todos nós, e todos começamos a Eucaristia dizendo: ‘Eu pequei de uma forma ou de outra’”.
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Chile. Administrador apostólico de Santiago nega a comunhão a fiéis que se ajoelham - Instituto Humanitas Unisinos - IHU