09 Abril 2019
O padre Lugt, jesuíta holandês, nasceu em Haia em 10 de abril de 1938 e foi morto em Homs, na Síria, em 7 de abril de 2014. Sua página na Wikipedia informa:
"Nascido em uma rica família de banqueiros, quando jovem exerceu a profissão de psicoterapeuta antes de deixar a Holanda na primeira metade dos anos 1960, emigrando para o Oriente Médio e se juntando aos Jesuítas. Em 1966, depois de estudar árabe por dois anos no Líbano, ele foi para a Síria, onde viveu até sua morte, e a partir de 1980 morou em uma comunidade agrícola, onde cuidava de "jovens com problemas de saúde mental". Ele passou seus últimos anos em Homs, onde trabalhou no mosteiro local, tratando os doentes e os famintos. No início de 2014 ganhou visibilidade global graças a uma série de vídeos publicados no YouTube em que pedia para a comunidade internacional ajuda concreta para os cidadãos da cidade sitiada. Apesar da situação difícil, ele não queria deixar o posto de trabalho e, em fevereiro, The Economist relatou que ele acabou sendo o único europeu que permaneceu em Homs, descrevendo-o como "o pastor do [seu] rebanho". Em 7 de abril de 2014 foi assassinado e, segundo o governador de Homs, Talal al-Barazi, o assassinato foi realizado pelos extremistas da frente al-Nusra.”
A reportagem é de Matteo Matzuzzi. Ele asceu em Udine em 1986. Fez sua graduação em diplomacia por convicção e, por contingência, acabou sendo jornalista. Ele experimentou a loucura de ser um árbitro de futebol, levando chuva e insultos todo fim de semana. Torcedor crítico da Milan e agora menos sentimental, adora ler Roth (Joseph, não Philip) e McCarthy (Cormac). Tem a comum paixão por séries de TV norte-americanas que avalia com reconhecido um espírito polêmico, publicada por Il Foglio, 07-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
O padre Frans van der Lugt logo entendeu como tudo terminaria assim que aquele grupo de desconhecidos (um deles encapuzado), na manhã da segunda-feira, invadiu a pequena igreja de Bustan ad Diwan. Eles o arrastaram para fora, espancaram e executaram com dois tiros na cabeça, a queima-roupa, no jardim do pequeno monastério. "Foi um gesto deliberado", disse o padre Said Zial Hilal, jesuíta que vivia com o padre Van der Lugt. Ele era um dos últimos jesuítas que ficaram em Homs, a cidade síria por mais de dois anos sitiada e um símbolo da guerra civil que dilacera o país do Oriente Médio, Frans nunca foi tocado pela dúvida de deixar a cidade, fugir e se proteger: "O povo sírio me deu tanto, com tanta gentileza. Se agora o povo sírio sofre, quero compartilhar com eles a dor e as dificuldades".
E assim, enquanto em Genebra a conferência para decidir o destino de Damasco resultava em um total impasse, ele usava os meios tecnológicos para contar aquele inferno. Dois minutos e quarenta de vídeo em árabe para explicar ao mundo que dos sessenta mil cristãos que viviam em Homs, restavam sessenta e seis. Tudo didaticamente ilustrado por cartazes amarelos colocados ao seu lado. The Economist havia escrito dois meses antes que o padre holandês tinha assumido um papel importante na sensibilização da opinião mundial sobre o drama daquela terra.
O principal problema, dizia Van der Lugt, é a fome: "Queremos viver, não queremos afundar em um mar de dor e sofrimento. Não há nada mais doloroso do que olhar para as mães que vão às ruas para procurar comida para seus filhos”. Psicoterapeuta, com quase setenta e seis anos de idade que teria completado no dia seguinte, estava morando na Síria desde 1966, depois de ter passado dois anos no Líbano estudando árabe. Na década de 1980, nos arredores de Homs, ele havia fundado um projeto agrícola, al Ard, onde jovens com problemas mentais teriam podido trabalhar.
Funcionários da ONU quase o suplicaram para que deixasse a cidade, que seguisse as 1400 pessoas que, graças a um dos corredores humanitários – tinham conseguido deixar a cidade, praticamente em ruínas. Ele sempre respondia com uma recusa, mesmo quando acabou sendo o único ocidental a residir em Homs. O padre Federico Lombardi, também jesuíta e diretor da Sala de imprensa do Vaticano, dedicou poucas palavras, quase em estilo militar, para enfatizar que "assim morre um homem de paz, que com grande coragem desejava permanecer fiel àquele povo sírio a quem havia dedicado grande parte de sua vida e de seu serviço espiritual".
Para Lombardi, o martírio do padre Frans é o exemplo emblemático do fato de que "onde o povo morre, morrem com ele seus fiéis pastores também". O padre Bimal Kerketta, diretor da escola dos Padres Jesuítas em Minya, no Egito, relatou à Asianews que o padre Frans não era apenas um pastor sempre no meio de seu povo, mas “também tinha um excelente conhecimento científico do Alcorão". Dos dez sacerdotes que vivem na Síria, explica o padre Kerketta, "nenhum deles jamais abandonou o país, embora a vida tenha sido difícil e precária desde o início da guerra".
A razão é simples: "Essa é nossa vocação como jesuítas, servir a Cristo e às pessoas com nossas vidas". Os rebeldes, explicam os coirmãos do sacerdote morto, "usam as casas e institutos dos cristãos para atacar o exército sírio", o que tira a segurança até mesmo dos antigos mosteiros. E sobre outro jesuíta, o padre Paolo Dall'Oglio, nada se sabe desde o último dia 28 de julho. No dia anterior, ele havia enviado um e-mail para sua família, no qual escrevia que tinha chegado a Raqqa. No ano anterior tinha sido expulso pelo regime, depois de mais de trinta anos na Síria.
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"História do padre Frans van der Lugt. Assim morre um jesuíta em Homs". O quinto aniversário do seu assassinato - Instituto Humanitas Unisinos - IHU