05 Junho 2014
O jesuíta holandês foi assassinado no último dia 7 de abril, não quis deixar a cidade nas mãos dos rebeldes para não abandonar os poucos cristãos remanescentes.
A reportagem é de Leone Grotti, publicada na revista Tempi, 02-06-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O padre Frans van der Lugt está sepultado em Homs, no jardim do mosteiro que ele não quis deixar durante a guerra para não abandonar os poucos cristãos remanescentes na antiga cidade nas mãos dos rebeldes e assediada pelo exército de Assad. O seu túmulo hoje se tornou "um santuário, meta de peregrinação para os cristãos que voltaram para este bairro devastado".
O jesuíta holandês foi assassinado no último dia 7 de abril. Um homem, ainda desconhecido, o fez se sentar em uma cadeira de plástico e disparou um tiro na sua cabeça. Hoje, essa cadeira encontra-se ao lado do seu túmulo, coberta de flores pelos cristãos locais.
"Ele ainda está aqui, está conosco." O padre Frans nunca quis deixar os cristãos, mesmo quando só restou grama para comer na cidade. "Ele era neutra, não apoiava nem uma facção nem a outra", conta George Ghandour, 45 anos, que o enterrou. "Ele ajudava a todos, cristãos e muçulmanos, velhos e jovens. Quando a crise começou, por exemplo, cinco famílias muçulmanas se mudaram para o seu mosteiro, e ele cuidou delas."
Como relata um artigo de Jonathan S. Landay, que foi para a cidade e entrevistou seis cristãos que voltaram para o bairro, ninguém sabe por que ele foi morto. Mas os cristãos que falavam com ele todos os dias se lembram dele como de um homem de paz e de unidade: "Ele sempre dizia que era pai tanto dos cristãos quanto dos muçulmanos. Muitas vezes, os rebeldes o levaram perante o tribunal da sharia para discutir as suas crenças, mas ele sempre se recusou. Dizia: 'Eu não vou falar com vocês sobre política ou religião. Somos todos seres humanos. Vou falar apenas de humanidade".
"Destruir os infiéis"
Dos 60 mil cristãos que viviam na velha cidade de Homs, em junho de 2012, haviam permanecido apenas 102. Na fortaleza defendida pelos rebeldes e libertada entre os dias 7 e 9 de maio, depois de um acordo com o governo, os cristãos eram espancados, ameaçados e roubados.
"Desde janeiro passado, os rebeldes entraram na minha casa 38 vezes. Antes, roubavam a comida, depois qualquer coisa", explica o cristão Zaynat al-Akhras, 65 anos, que hoje voltou a viver no seu bairro de Homs. Ao jornalista, ele mostra as paredes de uma igreja cobertas pelas palavras: "'Destruir os infiéis', ou seja, os cristãos. Muitos eram espancados pelos rebeldes".
Nesse clima, o padre Frans convenceu várias vezes os rebeldes a distribuirem a comida que recebiam através de túneis subterrâneos com o restante da população e a levar para fora as pessoas gravemente feridas. Nazam Kanawati, que chegou na casa do padre Frans poucos minutos depois do seu assassinato, recorda como os rebeldes continuavam buscando o jesuíta por muitas razões diferentes: "Eles pensavam que ele tinha o poder de pedir que o papa enviasse alimentos, e que a comida chegaria logo se ele pedisse. Mas ele se recusava. Ele não queria usar a comunidade cristã para obter comida. Ele não queria que os cristãos fossem usados".
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Síria: túmulo do Padre Frans, SJ tornou-se ''um santuário, meta de peregrinação'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU