03 Abril 2019
"O chamado Caso Battisti é coisa nossa, tipicamente brasileira. Prova da ignorância, parvoíce, credulidade, sem falar do aspecto ridículo das manifestações encenadas no País a favor de um terrorista homicida", escreve Mino Carta, Diretor de Redação de CartaCapital, em artigo publicado por CartaCapital, 01-04-2019.
O chamado Caso Battisti é coisa nossa, tipicamente brasileira. Prova da ignorância, parvoíce, credulidade, sem falar do aspecto ridículo das manifestações encenadas no País a favor de um terrorista homicida. Bolsonaro regozija-se com a confissão do “herói da esquerda”, e então me apresso a corrigir: de uma certa pretensa esquerda nativa. Aviso ao capitão: o Partido Comunista da Itália desde sempre condenou vigorosamente o terrorismo contra um Estado Democrático de Direito. Outra informação importante, ignorada pela esquerda verde-amarela, foi a existência bastante ativa de um terrorismo fascista responsável pelo atentado mais violento, o da estação ferroviária de Bolonha, que chacinou 89 pessoas e feriu mais de 200.
A incultura brasileira não tem limites, até professores universitários e ministros do STF defenderam Battisti asilado, ao alegar que ele combatia um regime de extrema-direita. Começa por aí o bestialógico, de variadas autorias, ignara a tigrada das reais condições da Itália na década de 70, quando o PCI cresceu até atingir, nas eleições de 1976, 34% dos votos, enquanto o PDC, partido do governo, chegava a 36%. Brotou daí a ideia do compromesso storico, acalentada por Aldo Moro, da esquerda democrata-cristã, e Enrico Berlinguer, líder comunista. As Brigadas Vermelhas, infiltradas pela CIA, cuidaram de matar Moro em 1978.
Inúmeros pretensos esquerdistas brasileiros confundiram o terrorismo italiano com a luta armada contra a ditadura civil-militar que assolou o Brasil. Mas este foi apenas um engano do Febeapá. Ouso dizer, de todo modo, que neste país tudo é possível, até eleger Jair Bolsonaro para a Presidência da República. Somos grandes e superdotados pela natureza, primários, porém, atados a concepções políticas e sociais dignas das trevas da primeira Idade Média, aquela nascida em meio ao caos provocado pela queda do Império Romano do Ocidente. Casa-grande e senzala, solidamente plantadas, não me deixam mentir.
Estamos na iminência de celebrar o aniversário do golpe de 1964, que derrubou o governo legítimo de João Goulart, perseguiu ferozmente muitas figuras de relevo da política brasileira e impôs uma ditadura capaz de torturar, matar e durar 21 anos a fio. O capitão liberou a eventual festa comemorativa dos generais integrantes do seu governo, e dos militares em geral. Veremos o que veremos, no domingo 31 de março, a data oficial, embora haja quem prefira 1º de abril.
Jango, este sim, merece uma boa e comovida lembrança. Tivesse permanecido no poder seu governo das reformas de base teria vingado finalmente um país à altura da contemporaneidade do mundo, para completar um período feliz da história do Brasil, a partir da Presidência de Getúlio, eleito democraticamente. Fase manchada pelo sangue do suicida no seu derradeiro desafio aos golpistas sempre amoitados nas pregas do enredo inacabado, a fênix da ameaça inextinguível. Bolsonaro é simbólico do fracasso de quantos se disseram de esquerda e do atraso de uma nação inexistente. Não é que este peculiar presidente, a resultar disso tudo, viva um momento tranquilo. Na sua contramão surgem a rebeldia parlamentar, as inquietações despertadas pela Lava Toga e a movimentação explícita do general Mourão. Mesmo que o pijama do vice seja cômodo na conjuntura, por baixo percebe-se a farda.
CartaCapital coloca as fichas da sua esperança no Nordeste: o Sul chama-o de “fundão” enquanto dá lições de equilíbrio, civilidade, preocupação social e raciocínio político. Não há uma nação brasileira, mas é nítido, e já encaminhado, o projeto de uma unidade regional, semente de algo novo e redentor.
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Mino Carta: de Battisti a Bolsonaro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU