20 Março 2019
A viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos foi um dos momentos mais patéticos, mais vergonhosos da história do Brasil (e olha que de vergonha a gente entende).
Mas sabe o que mais me assusta?
A imensa maioria da população ou não liga a mínima ou concorda com o que Bolsonaro, Guedes e Moro fizeram por lá.
Vinte anos de diplomacia, de batalhas comerciais com os EUA, jogadas no lixo na primeira viagem internacional de Bozo ("Alguém teria de ceder", declarou placidamente aquele que deveria defender os interesses do Brasil).
Resultado: o Brasil não só se compromete a importar dos EUA 750 mil toneladas de trigo com tarifa zero, mas, ignorando as enormes e estruturais carências da economia brasileira, abre mão de questionar, na OMC, as assimetrias causadas pelos bilhões de dólares com que o país de Trump subsidia sua agricultura. O Brasil, após enorme resistência, levou duas décadas para construir casos consistentes na OMC. Bozo destruiu tudo com um deslumbre e uma subserviência incompatíveis com o comportamento que espera de um Presidente da República.
Na prática, abre mão de dezenas de milhões de dólares em prol do país mais rico do mundo em um momento de alegada penúria dos cofres públicos, de pesados cortes em Educação e Saúde, na iminência de se aprovar uma "reforma" que levará à miséria contingentes de brasileiros a pretexto de sanear as contas públicas.
Com a palavra, os imbecis que o elegeram.
Estou aqui pensando no tamanho do estrago na política externa. Vira e mexe, alguém no governo Bolsonaro dá alguma declaração antagonizando a China, o nosso maior parceiro comercial. Os chineses conduzem a sua política diplomática e comercial com extrema sabedoria e cuidado. Os caras estão na área há mais de 5.000 anos, né, sabem o que fazem, e não vão realizar movimentos bruscos por causa de bobagem. Mas é bom não ficar brincando com fogo: quem precisa deles somos nós, soja e minério eles encontram por aí, inclusive nos próprios EUA que ficamos bajulando. E vocês sabem o que vai acontecer se a China espirrar pra cima da gente, né? Até o Seu João da padaria da esquina da sua casa aí em Cabrobó vai ser afetado.
Para piorar, vamos queimando pontes no mundo árabe, por causa da palhaçada da embaixada em Jerusalém – que não vai sair do papel mas cujo anúncio já fez o seu estrago. O Brasil sempre foi adorado em todo o mundo árabe, por causa das enormes comunidades síria e libanesa que acolhemos e também pela posição tradicionalmente equânime do Itamaraty no conflito israelo-palestino. Estamos jogando isso no lixo. Os povos árabes são extremamente memoriosos – não porque isso esteja “no sangue” deles, claro, mas porque estão levando porrada há algum tempo e, como sabemos, quem bate esquece, quem apanha tem memória. O estrago ali vai ser grande se nós continuarmos nessa rota.
Agora, o nosso presidente foi aos EUA e insultou o México. O México! Não existe lugar em que o Brasil seja mais adorado, idolatrado, festejado do que no México. Pelé e cia. jogando lá em 1970, vocês conhecem essa história. Em cidades como o DF e Guadalajara, já aconteceu de eu comer de graça, não por esquecer de pagar ou por querer dar o cano, mas porque o dono do estabelecimento NÃO ACEITAVA que eu pagasse, ao saber que eu era brasileiro. É um amor total. E o nosso Presidente vai lá e insulta os manos e as manas.
Agora me digam: o que nós vamos fazer se Trump perder a eleição para um candidato de esquerda em 2020 nos EUA, hipótese totalmente plausível, aliás? O bolsonarismo corre o sério risco de deixar o Brasil como aquele moleque que não tem nem com quem dividir o lanche no recreio. Na política externa o estrago vai ser muito grande mesmo.
A Fox News é um dos fenômenos mais repugnantes da imprensa mundial. Desonesta, manipuladora, bajuladora do poder, dedicada a destruir reputações, a Fox é basicamente um órgão da extrema-direita estadunidense. Como seria de se esperar, ela foi a única emissora a entrevistar Bolsonaro na sua passagem pelos EUA. A entrevista não teve grande destaque e já no momento em que foi publicada, foi relegada a um cantinho da página. Mas algumas coisas bem interessantes aconteceram.
Segue abaixo a apresentação (a entrevista completa vai nos comentários), na qual a Fox destaca, sobre Bolsonaro, duas coisas: suas convocações à violência contra homossexuais e seus laços com as milícias, incluindo-se aí seus laços familiares, ideológicos e geográficos com os milicianos acusados de assassinar Marielle Franco.
Mesmo na ultra-direitista Fox, não há lugar para homofobia. A islamofobia e a xenofobia, sim, aparecem toda hora. Até mesmo o racismo velado aparece de vez em quando, como nos ocasionais comentários sobre “welfare queens”, por exemplo. Mas homofobia explícita você não verá. Não é mais aceito, leva a perda de audiência. A Fox News – a Fox! – destacou com horror os comentários de Bolsonaro sobre homossexuais. A legenda também menciona as suspeitas de relações de Bolsonaro com esquadrões da morte. Sem dúvida, para quem idolatra a Fox News, como é o caso de boa parte das lideranças bolsonaristas, não era o que se esperava.
A entrevista foi dócil e pouco questionadora, mas mesmo assim Bolsonaro conseguiu tropeçar. A jornalista da Fox foi extremamente generosa ao dizer “existem aqueles que querem estabelecer conexões entre o Sr. e as milícias”, ao que Bolsonaro responde “que motivo eu poderia ter para ser o mentor desse assassinato?” As citações são inexatas porque a fala de Bolsonaro em português está encoberta pela tradução simultânea, mas em essência, foi isso aí.
Ou seja, a Fox apresentou Bolsonaro como um homofóbico acusado de ter laços com milícias e sua resposta foi que ele não teria motivo para mandar matar Marielle, sugerindo estranhamente que, se houvesse motivo, ele o teria feito. Ninguém o acusou de nada, mas ele parece estar passando recibo.
Em todo caso, atualizem aí a lista de comunistas. Agora ela inclui a Fox News.
Bolsonaro cortou 13 mil cargos comissionados em universidades públicas.
Eu conheço o caso de uma servidora que acumula a chefia da secretaria de graduação e a chefia da secretaria de pós lato sensu numa universidade pública.
Por conta disso ela recebe uma comissão que lhe garante cerca de R$ 350 líquidos por mês.
Caso essa comissão seja cortada, ela continuará exercendo as chefias, mas sem receber mais os R$ 350 por mês.
Como se pode ver, o governo Bolsonaro está acabando com as mamatas do serviço público.
"A relação entre os povos, através de seus representantes, é sempre recomendável para a construção da paz mundial, para cuidar do planeta, para cooperações que melhoram as condições de vida nos países que precisam de apoio. Entre o país mais rico do planeta e o mais pobre que seja, a pauta sempre tem uma base, que é o respeito à cultura de cada uma das nações no relacionamento diplomático. A sabedoria popular diz que ninguém é tão rico que não possa receber algo e ninguém é tão pobre que não possa oferecer algo. E há, nessas trocas, o inegociável, que é a autonomia e dignidade dos povos. A viagem do Presidente do Brasil aos EUA, no entanto, não nos dá a sensação de estarmos sendo respeitados como brasileiros, como donos de uma riqueza natural que poucos países têm. Portadores de uma diversidade cultural das mais ricas do planeta. Vivemos em meio a uma extensão territorial e de paisagens tão variados que enchem os olhos de qualquer programa de turismo de qualquer país. Temos bens estratégicos como minérios e água e um dos biomas mais importantes para o clima do planeta, que é a Amazônia.
Não nos reconhecemos nas atitudes e falas da comitiva presidencial oferecendo o país a quem quiser comprar. Fomos reduzidos a um país deslumbrado com lantejoulas e salamaleques de um bizarro carnaval político fora de época. A oferta de vantagens para os EUA, sem a devida reciprocidade, se afigurou como um esforço de agradar, de ser aceito em clubes de países ricos como a OCDE, com atitudes beirando o subserviente. Esse mesmo incômodo tivemos com a diplomacia do governo Fernando Henrique Cardoso que também levava o país em oferta aos investidores quase sem contrapartidas. Não satisfeitos em oferecer nossa biodiversidade de bandeja, a comitiva do Presidente se esmerou produzir efeitos que não são de interesse do país. Firmaram um acordo sobre o uso da base de lançamento de Alcântara - que há 20 anos que governos dos mais variados matizes não fecham com os EUA pois as condições não são boas. Abdicaram de vistos para americanos, japoneses, canadenses e australianos, mesmo no contexto de uma forte demanda do setor de turismo, que pode e deve ser benéfica para nossos interesses econômicos e socioculturais e sem uma perspectiva de reciprocidade equivalente.
Mesmo entendendo as complexidades que envolvem nossas diferenças com os americanos do norte, sobretudo em áreas importantes como segurança, oportunidade de estudo e emprego a estranha diplomacia praticada pela governo brasileiro no hemisfério norte nos deixa com a doída sensação do velho adágio popular às avessas do “venha a nós e ao vosso reino nada”. Por fim, uma inacreditável entrevista do Presidente à Fox News agravou tudo que já estava ruim com as observações ofensivas a brasileiros que moram fora do Brasil em todo o planeta e particularmente aos mais de hum milhão que vivem nos EUA. As crises econômicas em geral trazem sofrimento e com nossos quase 13 milhões de desempregados é natural que tenhamos brasileiros buscando oportunidade de trabalho em nações ricas onde essas oportunidades estão disponíveis. Tratar esses imigrantes como malfeitores , com desprezo e julgamento é um contrassenso quando o governo é responsável por propor medidas econômicas e sociais que atenda às necessidades básicas da população, uma delas a possibilidade de viver com a remuneração justa de seu trabalho. Tristemente observo que a primeira oportunidade de diálogo com um dos países mais ricos do mundo, nesse novo governo, foi um festival de deslumbramento, entreguismo e a quase redução dos representantes de nossa nação ao triste papel de bajuladores."
de Marina Silva, aquela que vcs tiveram a chance de eleger por três vezes e falharam, nos legando Dilma, Temer e Bolsonaro.
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