27 Janeiro 2019
A nomeação do sacerdote diocesano Carlos Castillo como novo arcebispo de Lima é um sinal de mudanças. Horas depois de se tornar oficial a sua nomeação, ele falou sobre uma Igreja mais preocupada com os pobres, pronunciou-se contra a corrupção e o feminicídio, e anunciou que se reunirá com as vítimas de violência sexual do Sodalício.
A reportagem é de María Elena Castillo, publicada em La Republica, 26-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com simplicidade, agradeceu e mostrou-se surpreso com a sua nomeação. Meio brincando, disse que pensou que talvez seria nomeado como auxiliar.
“Tudo o que é corrupção e feminicídio são coisas às quais nos acostumamos há anos no nosso país. Existem dois níveis: é preciso sancionar e investigar e, acima de tudo, mudar as bases que permitem isso”, afirmou ele em uma coletiva de imprensa junto ao cardeal e agora encarregado do Arcebispado de Lima, Juan Luis Cipriani, e ao núncio apostólico, Nicola Girasoli.
Ele defendeu que não se pode permitir que esses crimes fiquem impunes e insistiu que é preciso refletir e que a educação é um antídoto para esses problemas.
“O mesmo povo que cantou ‘Cómo no te puedo querer, y eres tú mi Perú querido’ é o mesmo que sai e diz ‘não’ à corrupção”, detalhou. Ele acrescentou que “a ferida que o machismo deixou é imensa, e não é possível que continuemos sendo assim. Temos que recapacitar, e isso não se soluciona apenas com leis e sanções, mas sim com amor verdadeiro”, disse.
Durante sua apresentação, Dom Castillo recordou sua experiência pastoral em áreas de pobreza, como na Paróquia São Lázaro, em Rímac, e em Tablada de Lurín.
Ele ressaltou que sempre é preciso fazer um caminho a partir dos pobres. Ele lembrou que o papa lhe disse há algum tempo que Lima é um “leão adormecido”, isto é, uma fonte inesgotável de espiritualidade.
Ele invocou os peruanos a enfrentarem juntos a violência familiar e a delinquência.
“O Senhor dos Milagres caminha pelas ruas hoje em dia, subindo nos ônibus, sofrendo assaltos e nas mulheres que são maltratadas, assassinadas. Nós temos que fazer um milagre para que isso não ocorra. E temos que fazer isso juntos”, exortou.
Mais tarde, o arcebispo indicou que, nas próximas semanas, definirá qual será a sua linha pastoral, mas antecipou que devemos ter “uma Igreja que caminhe mais no calor dos sofrimentos, das esperanças das pessoas”.
Ele comentou que manterá alguns aspectos, mas também promoverá outros.
No entanto, ele foi forte em relação ao tema Sodalício. “Estou plenamente disposto a acolher e a escutar as vítimas e a lutar por elas. É preciso fazer isso”, afirmou.
A cerimônia de apresentação contou com a presença de Dom Luis Bambarén (Nota de IHU On-Line: Luis Bambarén Gastelumendi, padre jesuíta, foi bispo auxiliar do cardeal-arcebispo Juan Landázuri e depois bispo de Chimbote. Sempre esteve na luta das populações pobres) que realizou um gesto emotivo ao novo arcebispo de Lima e lhe entregou o báculo que lhe foi deixado de herança pelo cardeal Juan Landázuri. (INota de IHU On-Line: Juan Landázuri Ricketts (1913-1997), frei franciscano, foi cardeal-arcebispo de Lima. Ele foi um dos três presidentes da Assembleia Geral do Episcopado Latino-Americano em Medellín)
Dom Bambarén e Dom Castillo, emocionado, se abraçam (Foto: La República)
“Depois de 67 anos, você é o primeiro diocesano arcebispo de Lima”, ressaltou, e se uniram em um longo e sincero abraço.
Báculo que havia sido do cardeal Juan Landázuri (1913-1997) (Foto: La República)
Dom Castillo disse que será ordenado bispo no sábado, 2 de março, na Paróquia São Lázaro, em Rímac. Ele pediu que o núncio Girasoli e o cardeal Cipriani o acompanhem, assim como Dom Miguel Cabrejos, presidente da Conferência Episcopal, o cardeal Pedro Barreto e Dom Bambarén, que o ungiu como sacerdote em 1984. De lá, caminharão até à catedral.
Cipriani insiste em sua oposição ao aborto e ao enfoque de gênero
Na coletiva, o cardeal Cipriani agradeceu a seus fiéis e aproveitou a ocasião para esclarecer, mais uma vez, sua posição contra o aborto, assim como o enfoque de gênero. Nesse sentido, ele pediu que suas opiniões sejam respeitadas. Ele pediu mais abertura de debate aos meios de comunicação.
Como se estivesse se adiantando, disse que “seria menosprezar uma decisão tão bonita do papa, querendo reduzi-la a briguinhas de bairro, ao se interpretar essa nomeação como um respaldo da Universidade Católica [do Peru], como um respaldo à [teologia da] libertação, como que dizendo que ‘os retrógrados do Opus [Dei] vão embora’”.
Durante quase toda a coletiva, Cipriani manteve uma postura séria. Sorriu apenas para a foto. E ficou irritado quando os jornalistas perguntaram sobre o caso Sodalício.
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Novo arcebispo de Lima se pronuncia contra a corrupção e o feminicídio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU