25 Janeiro 2019
No lugar do cardeal Cipriani, o papa escolheu o aluno de Gustavo Gutiérrez, o teólogo Carlos Castillo. Em 2016, ele explicava: “A opção preferencial pelos pobres, ainda muito atual, deve se concentrar hoje nas feridas dos jovens”.
A reportagem é publicada por Mondo e Missione, 25-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O futuro da Igreja que nos espera na América Latina é mais próximo do Reino como projeto acolhedor e aberto do que como sistema fechado e formal, em que os pobres, especialmente os jovens, possam curar as suas feridas e se tornar sujeitos humanos e históricos de vida fecunda.”
Era assim que, em uma entrevista concedida em 2016 ao Pe. Giorgio Licini para Mondo e Missione, falava o teólogo peruano Carlos Castillo sobre o futuro da Igreja na América Latina. Uma frase interessante de se reler hoje, quando – justamente enquanto, no Panamá, está ocorrendo a Jornada Mundial da Juventude – o Papa Francisco o escolheu como novo arcebispo de Lima.
Trata-se de uma nomeação de peso como pastor da sede primacial do Peru: Carlos Castillo substituirá o cardeal Juan Luis Cipriani Thorne, que, há menos de um mês, completou 75 anos de idade, a idade canônica para renúncia à frente de uma diocese.
O que chama atenção não é só a celeridade na substituição, mas também a mudança radical que o papa escolheu para a Arquidiocese de Lima. Para assumir o lugar de Cipriani, sacerdote da prelazia do Opus Dei, ele chamou o aluno de Gustavo Gutiérrez, pai da teologia da libertação, também peruano. E, entre outras coisas, justamente Castillo havia sido um dos seis professores da Pontifícia Universidade Católica do Peru que, há alguns anos, haviam sido suspensos do ensinamento justamente pelo cardeal Cipriani, em meio a um braço-de-ferro sobre a orientação da instituição universitária católica de Lima.
Mas quem é realmente o novo arcebispo Carlos Castillo? Na sua reflexão teológica, é muito interessante a análise que ele propõe sobre a herança da teologia da libertação neste nosso tempo. Em uma reflexão publicada em 2002 na revista Ad Gentes, ele escrevia: “O maior desafio para a espiritualidade vivida até agora na América Latina vem dos próprios pobres no seu decaimento pessoal e social, do qual a pobreza material é apenas uma parte. Acreditamos que esta dificilmente será superada em curto prazo. No entanto, a Igreja deverá estar do lado dos pobres nas lutas para superá-la! Porém, há outras coisas que podem ser feitas enquanto a pobreza continua, coisas muito importantes e urgentes. O pior seria permanecer lutando contra as estruturas sem dar passos em relação ao crescimento humano, de fé, de sensibilidade moral das pessoas pobres, que desmoronam uma a uma”.
A perspectiva – ele defendia ainda naquele texto – é a de um retorno ao primado da educação, também na modalidade concreta de viver a opção preferencial pelos pobres. Essa ideia é o coração daquilo que Castillo chama de “teologia da regeneração”, definição que também é o título de um de seus livros, publicado em italiano pela editora EMI em 2001.
Entende-se, então, porque o tema dos jovens é tão importante para o novo arcebispo de Lima. Os jovens – explicava ele há três anos na entrevista a Mondo e Missione – são destruídos por fenômenos colossais de exploração econômica como o comércio de drogas, a privação da terra, a falta de espaços habitacionais e de possibilidades de instrução individual e de vida familiar, provocando o colapso da esperança para a maioria pobre”.
Diante de uma situação dessas, é preciso apontar para o indivíduo como “sujeito criador de presente e de futuro, desenvolvendo as suas capacidades ‘generativas’, ajudando as pessoas a serem não indivíduos que se libertam de tudo enchendo-se de si mesmas, mas chegando a personalidades generativas e responsáveis, como também diz o sociólogo Mauro Magatti na Itália. Os caminhos devem ser diferenciados e com atitudes flexíveis e misericordiosas, mais do que com normas morais e doutrinas”.
“O individualismo dominante – concluía o novo arcebispo de Lima naquela entrevista – deve ser substituído pela individualidade geradora de vida, fecunda e não estéril. O nível humano da libertação, proposto por Gutiérrez, se torna mais urgente hoje. A situação cultural e social é diferente da dos anos 1970 e do surgimento da tão discutida e imprescindível teologia da libertação. Mas a necessidade de uma fé que liberta e regenera a realidade humana continua a mesma.”
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Novo arcebispo de Lima, o ''teólogo da regeneração'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU