28 Novembro 2018
Uma coisa é preciso reconhecer na família Bolsonaro. Eles não têm qualquer pudor em assumir sua vinculação.
Desconheço caso semelhante, em que o representante de um governo eleito se reúna com o governo norte-americano e saia da reunião com um boné do presidente dos Estados Unidos.
Há algumas questões para as quais todo mundo tem alguma resposta definitiva, certa, irrefutável, e só eu não tenho nenhuma:
1 - Evolucionismo x espécies fixas.
2 - Heliocentrismo x geocentrismo.
3 - Terra esférica x Terra plana.
4 - Einstein x Tesla.
Não sinto nenhuma urgência de alcançar uma resposta para essas questões e, se morrer em estado de dúvida, não me sentirei nem um pouco desconfortável por isso. Sobretudo, estou perfeitamente consciente de que, se a espécie humana dependesse de mim para resolver qualquer desses quatro enigmas ou outros similares, ela estaria, para dizer como a Dilma, funhanhada.
No entanto. como algumas das opiniões a respeito desses pontos são majoritárias no meio acadêmico brasileiro e nesse meio as pessoas não gostam muito de mim, sistematicamente elas me classificam entre os defensores das teses minoritárias, daí concluindo que eu sou uma besta quadrada. Partindo dessa condenação sumária de opiniões que não tenho, consideram-se então dispensadas de conhecer as que tenho, e já as condenam todas sem necessidade de exame, sentindo-se, por isso, tremendamente científicas.
São comoventes os esforços das pessoas que se dedicam a negar que o anti-petismo tenha sido um fator chave, se não o preponderante, na ascensão de Bolsonaro. Até nas piores e mais gigantescas tolices do pré-governo Bolsonaro se nota o papel do anti-petismo.
A tal mudança de embaixada para Jerusalém, mesmo que não aconteça na prática, já é um acontecimento discursivo que danifica as relações com um enorme naco do planeta com o qual o Brasil sempre se deu extraordinariamente bem -- o mundo árabe. Tanto essa tolice como o resto do pacote de submissão aos EUA e ao trumpismo são incompreensíveis sem se observar a enorme vontade de antagonizar os anos petistas e capitalizar em cima desse antagonismo. No caso da diplomacia, o bolsonarismo antagoniza justamente a faceta da política externa lulista que foi mais louvável, a independência sem tensões com os EUA e a equidistância no conflito israelo-palestino, com reconhecimento dos fatores de desproporção de força e de violação do direito internacional.
As tolices feitas pelo petismo em política externa -- o apoio incondicional ao chavismo e ao madurismo, por exemplo -- deram credibilidade a essa operação de reversão de Bolsonaro, claro. Tornaram-na mais fácil e factível. Quem frequentou grupos bolsonaristas de zap sabe disso: a venezuelização foi sempre o grande bicho-papão. E não adianta xingar o eleitor de ignorante se são os próprios líderes petistas que falam do caos venezuelano como modelo de democracia.
Mas a inversão bolsonarista certamente vai preservar o que a política externa petista tinha de pior -- a corrupção dos negócios oligopolistas mediados pelo Estado com outros países -- e já está girando 180˚ no que o lulismo chegou a ter de melhor, certa altivez e dignidade independentes na diplomacia, combinadas com a ousadia e a inteligência de propor saídas criativas para problemas globais. Isso está sendo já substituído por uma subserviência, nem mesmo aos EUA mas, pior ainda, a uma força política americana em particular, que nem se sabe se ainda estará governando os EUA em 2021.
Tudo isso é feito em enorme detrimento aos interesses do Brasil, só por bate-bumbo ideológico para consumo da base mesmo. A base ainda é movida a anti-petismo.
Crivella responsabilizou "a maré alta" pelas enchentes em 27 pontos do Rio, depois das chuvas na madrugada de ontem.
Hoje os jornais informam que a prefeitura cortou 72% das verbas para prevenção de enchentes.
Mentir não era pecado?
Submissão 1
Eduardo Bolsonaro, como responsável pela comunicação da campanha do pai, serviu de ponte com Steve Bannon e toda a infraestrutura estrangeira que ajudou a eleição de Bolsonaro.
Pois, agora ele está nos Estados Unidos. Suas duas primeiras reuniões foram no Departamento de Estado e no Conselho Nacional de Segurança. Em seguida, se reuniu com um think tank da direita empresarial.
Na primeira entrevista após as reuniões, Eduardo Bolsonaro defendeu o congelamento de bens e contas de cubanos e venezuelanos no Brasil.
O filho de Bolsonaro tem ainda uma agenda não divulgada (secreta) na capital norte-americana e depois seguirá para outras reuniões em Nova York e Miami.
Submissão 2
A caminho da reunião do G20 em Buenos Aires, John "war hawk" Bolton se encontrará com Bolsonaro no Brasil. Bolton é assessor para segurança nacional da Casa Branca (o mais alto cargo na segurança dos Estados Unidos).
Bolton é, também, um antigo militante da direita norte-americana, membro de vários grupos conservadores (como a National Rifle Association e o Internacional Religious Freedom) e comentarista da Fox News.
Como se sabe na diplomacia, chefes de Estado se reúnem apenas com outros chefes de Estado. A reunião de um chefe de Estado eleito com um assessor de outro governo é fato bastante incomum na diplomacia.
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