06 Outubro 2018
“Somos cristãos, mas vivemos como pagãos”, no sentido de que o Jesus do qual recebemos a mensagem e os ensinamentos relegamos só ao âmbito da missa, nós o deixamos na porta da paróquia ou em um “santinho”. Não levamos nada para casa, e a ideia de fundo é que a vida é completamente outra coisa. É uma forma de “hipocrisia”, disse o Papa na homilia da missa matutina de hoje, 4 de outubro, na capela da Casa Santa Marta, enquanto no Vaticano ocorre o Sínodo dos bispos sobre os jovens. “A hipocrisia dos justos” que reduz a fé a um “hábito social”.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 05-10-2018. A tradução é do Cepat.
“Existe a hipocrisia dos pecadores”, mas também “a hipocrisia dos justos que é o medo ao amor de Jesus, o medo de se deixar amar”, explicou o Papa em sua homilia, segundo apontou Vatican News. E uma vez terminada a Missa, deixamos Jesus na Igreja, “não volta conosco para casa”, para a vida cotidiana. Ai de nós, assim expulsamos Jesus de nosso coração.
Ao comentar o Evangelho de São Lucas e a reprovação de Jesus às pessoas de Betsaida, Corazim e Cafarnaum, que não acreditaram nele, não obstante os milagres, o Papa Francisco convidou a todos em sua homilia a fazer um exame de consciência.
Jesus “está aflito por ser rejeitado”, explicou Francisco, enquanto cidades pagãs como Tiro e Sidônia, vendo seus milagres “com toda segurança teriam acreditado”. E chora, “porque essa gente não havia sido capaz de amar”, enquanto Ele “queria chegar a todos os corações, com uma mensagem que não era mensagem ditatorial, mas, sim, uma mensagem de amor”.
No lugar dos habitantes das três cidades, coloquemo-nos também nós mesmos, coloco-me, prosseguiu dizendo o Papa. “Eu que recebi tanto do Senhor, nasci em uma sociedade cristã, conheci a Jesus Cristo, conheci a salvação”, fui educado na fé. E com muita facilidade me esqueço de Jesus.
Depois, por outro lado, “ouvimos notícias de outras pessoas que apenas escutam o anúncio de Jesus, se convertem e o seguem”. Mas, nós, comentou Jorge Mario Bergoglio, estamos “habituados”.
“E este hábito – insistiu – nos faz mal, porque reduzimos o Evangelho a um fato social, sociológico, e não a uma relação pessoal com Jesus. Jesus me fala, fala a você, fala a cada um de nós. A pregação de Jesus é para cada um de nós. Como é que aqueles pagãos que apenas ouvem a pregação de Jesus, vão com ele, e eu que nasci aqui, em uma sociedade cristã, acostumo-me, e o cristianismo é como se fosse um hábito social, uma roupa que eu coloco e que depois eu deixo? E Jesus chora, sobre cada um de nós, quando vivemos o cristianismo formalmente, e não realmente”.
Se atuamos assim, esclareceu Francisco, somos um pouco hipócritas, com a hipocrisia dos justos: “Existe a hipocrisia dos pecadores, mas a hipocrisia dos justos é o medo do amor de Jesus, o medo de se deixar amar. E na realidade, quando nós fazemos isto, buscamos administrar a relação com Jesus. ‘Sim, eu vou à Missa, mas fique na Igreja que eu depois irei para casa’”.
Assim, Jesus permanece lá, na Igreja, comentou o Pontífice com desgosto: “ou permanece no crucifixo ou no santinho”.
“Hoje, pode ser para nós um dia de exame de consciência, com este refrão: ‘Ai de ti, ai de ti’, porque dei tanto a você, dei a mim mesmo, escolhi você para ser cristão, ser cristã, e você prefere uma vida pela metade, uma vida superficial: um pouco sim de cristianismo e água benta, e nada mais. Na realidade, quando se vive esta hipocrisia cristã, o que nós fazemos é expulsar Jesus de nosso coração. Fazemos de conta que o temos, mas o expulsamos. ‘Somos cristãos, orgulhosos de ser cristãos’, mas vivemos como pagãos”.
Cada um de nós, concluiu o Papa, pense: “Sou Corazim? Sou Betsaida? Sou Cafarnaum?”. E se Jesus chora, pedir a graça de chorar também nós. Com esta oração: “Senhor, você me deu muito. Meu coração é tão duro que não deixo você entrar. Pequei por ingratidão, sou um ingrato, sou uma ingrata”. “E peçamos ao Espírito Santo que nos abra totalmente as portas do coração, para que Jesus possa entrar e não só o ouçamos”, mas que ouçamos sua mensagem de salvação e “agradeçamos por tantas coisas boas que fez por cada um de nós”.
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“Não à hipocrisia da fé pela metade: ser cristãos e viver como pagãos”, prega Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU