03 Agosto 2018
Participantes de um grande encontro de teólogos morais em Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, que ocorreu entre os dias 26 e 29 de julho, concluíram sua conferência no domingo com um plenário de três “chamados proféticos” para uma releitura da ordem política e social internacional. Os conferencistas foram os proeminentes estudiosos: Pablo Blanco da Pontifcia Universidad Católica Argentina em Buenos Aires; Emmanuel Katongole, estudioso ugandense da University of Notre Dame em South Bend, Indiana; e, Linda Hogan, do Trinity College, em Dublin.
A reportagem é de James T. Keane, publicada por America, 01-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
"Nossa tarefa profética não é simplesmente de crítica, mas também se baseia em anunciar e descrever uma nova ordem, uma nova aliança, um novo futuro”, disse o Padre Katongole, comparando a tarefa diante dos estudiosos de ética à do profeta Jeremias. “O profeta promete não apenas a restauração. Ele fala de uma nova ordem de quando a cidade será reconstruída. O povo antes esmagado e desprezado será honrado, e visões de florescimento econômico preencherão a cidade e o campo",
Linda Hogan se concentrou sobre uma "ética da vulnerabilidade" como o "campo criativo sobre o qual um novo senso de comunidade política pode ser estabelecido". Como as sociedades ao redor do mundo estão se tornando cada vez mais intolerantes e impulsionadas pela política do medo, observou ela, é importante reconhecer nossos compromissos normativos e como os direitos humanos são “mais honrados na violação do que na observância”.
Ela perguntou: “E se pudéssemos reformular nossos cenários políticos focalizando as maneiras pelas quais somos vulneráveis? A experiência existencial da vulnerabilidade pode ser implantada a serviço de uma política que une ao invés de dividir?”
A conferência de quatro dias, “Critical Time for Bridge-Building: Catholic Theological Ethics Today” (Momento Crítico para a Construção de Pontes: A Ética Teológica Católica Hoje, em português), foi organizada pela Catholic Theological Ethics in the World Church e foi realizada em Sarajevo. O evento contou com quase 500 especialistas em ética teológica de 80 países e se concentrou em duas questões: “a crise climática global e seu impacto no meio ambiente e nas populações marginalizadas, e a trágica banalidade da liderança política contemporânea em tantos países”, segundo um comunicado de imprensa. Os participantes vieram de 78 países diferentes e mais de 54% eram do hemisfério sul.
Três cardeais católicos participaram da conferência (assista ao vídeo aqui): Cardeal Vinko Puljic, de Sarajevo, Cardeal Blase J. Cupich, de Chicago e o cardeal Peter Turkson, chefe do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano do Vaticano.
O cardeal Cupich estava originalmente programado para presidir uma missa no sábado à noite aos participantes da conferência na Catedral do Sagrado Coração de Sarajevo, mas uma emergência de segurança no aeroporto de Munique impediu que ele chegasse a tempo. Em sua homilia, lida em seu nome na liturgia, o cardeal Cupich citou a fala do Papa Francisco numa entrevista à America conduzida por Antonio Spadaro, SJ, em 2013: “Não devemos nos concentrar em ocupar os espaços onde o poder é exercido, mas sim em iniciar processos históricos de longo prazo. Deus se manifesta no tempo e está presente nos processos da história. Isso dá prioridade a ações que geram novas dinâmicas históricas”.
A homilia do Cardeal Cupich também observou a importância da ética social em qualquer tentativa de mudança social significativa:
Na “Evangelii Gaudium” - Carta Magna do seu papado -, o Papa Francisco deixa claro que não há Magistério que não seja social, porque é na vida das pessoas que Deus trabalha e se manifesta, especialmente na dinâmica das relações humanas. É aqui que a história da salvação se desdobra. A ação que você precisa tomar, deve sempre envolver capacitar as pessoas a confiar em suas habilidades, em sua criatividade de provocar transformação.
A Rede C.T.E.W.C. (siga em inglês) nasceu de uma reunião de planejamento em 2003 organizada por James Keenan, S.J., e um grupo internacional de estudiosos de ética, incluindo Soosai Arokiasamy, Benezet Bujo, Margaret Farley, Linda Hogan e Paul Schotsmans. O grupo articulou uma declaração de missão pedindo um diálogo que ultrapasse a cultura local em uma Igreja global que “não foi dominada somente por um paradigma do norte”.
Conferências internacionais foram realizadas em Pádua em 2006 e Trento em 2010, com conferências continentais realizadas em Nairobi (2012), Berlim (2013), Cracóvia (2014), Bangalore (2015) e Bogotá (2016).
Na plenária de encerramento no domingo, o terceiro orador, Pablo Blanco, concluiu suas observações com um retorno ao tema da conferência sobre construção de pontes:
“Eu gostaria de convidá-los a dizer "não" a uma economia de exclusão e à nova idolatria ao dinheiro, a um sistema financeiro que governa em vez de servir, à desigualdade que gera violência, ao egoísmo e à indolência espiritual, ao pessimismo estéril, ao mundanismo espiritual, à rendição ao imperialismo cultural e à trágica banalidade da liderança política contemporânea em muitos países”.
Ao pedir a rejeição desses males, prosseguiu Blanco, também pedia a afirmação de outras proposições significativas:
“Diga sim a um novo relacionamento trazido por Cristo, a salvaguardar a dignidade humana e a criação, ao desafio de um discipulado missionário e uma renovada inculturação da fé, ao reconhecimento da riqueza da religiosidade popular, a juntar homens e mulheres comprometidos com a verdade, a justiça, a solidariedade e a paz. Em resumo, dizer "sim" a uma ética teológica de "construção de pontes".
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Conferência de ética em Sarajevo: “Não à exclusão e à idolatria, e sim à construção de pontes” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU