07 Julho 2018
"O decrescimento da população da China nas próximas décadas vai aliviar um pouco a pressão ambiental, mesmo porque os níveis de poluição tornam impossível manter o crescimento dos últimos anos", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 06-07-2018.
A China – o país mais populoso do mundo – caminha para ser a grande potência econômica do século XXI, mesmo que, em termos demográficos, apresente um decrescimento a partir da próxima década. A população da China era de 554 milhões em 1950 e passou para 1,41 bilhão de habitantes em 2017.
O ritmo de crescimento vinha desacelerando desde o início dos anos de 1970, quando – ainda na época de Mao Tsé-Tung – o governo adotou uma política para incentivar a redução do número de nascimentos por meio de três objetivos: a) uma fecundidade menor, b) o adiamento do nascimento do primeiro filho e c) o aumento no espaçamento entre os nascimentos. Esta política ficou conhecida como: “fecundidade menor, mais tardia e com maior espaçamento entre os filhos” (fewer, later, longer). Com isto, a TFT caiu de 6,25 filhos por mulher no quinquênio 1965-70 para 2,9 filhos por mulher em 1975-80. Uma transição que reduziu a fecundidade pela metade em 10 anos.
Mas a despeito da grande queda da fecundidade nos anos 70, o governo liderado pelo Partido Comunista – já na época das reformas de Deng Xiaoping – adotou a política de controle da natalidade mais draconiana já implementada no mundo. A política do filho único começou em 1979 e a taxa de fecundidade caiu para 2 filhos por mulher em 1990-95 e chegou a 1,5 filhos em 1995-00. O resultado é que a população continuou aumentando apenas porque a estrutura etária era jovem (crescimento pela inércia demográfica), mas o ritmo de incremento tem se desacelerado rapidamente e a população deve começar a diminuir a partir de 2029, mesmo com o fim da política de filho único.
O gráfico acima mostra que o pico populacional da China deve ocorrer em 1,44 bilhão em 2029, devendo cair para 1,36 bilhão em 2050 e para cerca de 1 bilhão de habitantes em 2100, segundo a projeção média da Divisão de População da ONU. Ou seja, a China deve perder 440 milhões de habitantes (duas vezes o tamanho do Brasil) em 70 anos.
Os gráficos abaixo apresentam diversas medidas demográficas. Chama a atenção o rápido aumento da esperança de vida para ambos os sexos. Também é importante destacar que a população de 0-14 anos já vinha caindo desde a década de 1970 e a população em idade ativa (15-64 anos) já começou a cair desde 2010.
A rápida transição demográfica da China se reflete nas pirâmides populacionais, que deixaram de ter um formato piramidal clássico para, progressivamente, se tornar um retângulo com forte tendência ao envelhecimento populacional. A população de 65 anos e mais chegou a 7% do total em 2001, deve alcançar 14% em 2025 e atingir 28% em 2053. Ou seja, a população idosa vai quadruplicar em 52 anos, em um dos ritmos mais velozes do mundo. Portanto, na segunda metade do século XXI, a China vai ter uma população total decrescendo e uma população idosa crescendo, o que significa uma alta razão de dependência.
A China é o país que apresentou o maior crescimento econômico da história, com uma taxa anual de variação do PIB em torno de 9% entre 1980 e 2017. A taxa de mortalidade infantil caiu de 122 mortes por mil nascimentos em 1950-55 para 10 por mil em 2015-20 e a esperança de vida subiu de 44,6 anos para 76,5 anos, no mesmo período. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) subiu de 0,400 em 1980 para 0,738 em 2015 e pode atingir 0,800 em 2020 (ficando no clube dos países com alto IDH).
Mas o maior desafio vem da área ambiental. A China sofre com a desertificação, a poluição dos rios e lagos, a falta de saneamento básico e a poluição do ar nas cidades que torna o ato de respirar em uma aventura diária de sobrevivência. A Pegada Ecológica que estava abaixo da Biocapacidade até final da década de 1960 subiu rapidamente e transformou a China no país com o maior déficit ambiental do mundo. Em 2013, a Pegada Ecológica total chinesa era de 5 bilhões de hectares globais (gha) para uma Biocapacidade de 1,3 bilhão de gha. Portanto, o déficit ambiental era de impressionantes 3,7 bilhões de gha, em 2013.
A Pegada Ecológica per capita da China era de 3,6 gha em 2013, pouco acima da média mundial, mas muito abaixo da média das economias avançadas. O que mais contribui para o enorme déficit ambiental da China é o grande volume da população.
A China é atualmente o país que mais impacta negativamente o meio ambiente global e tem investido no mercado de commodities e comprado alimentos e matérias-primas de outros países com maior biocapacidade e com superávits ambientais. Portanto, o país mais populoso do mundo afeta não só o seu próprio meio ambiente, mas tem um impacto negativo no resto do mundo. O crescimento dos gastos militares é uma péssima notícia para o meio ambiente.
O decrescimento da população da China nas próximas décadas vai aliviar um pouco a pressão ambiental, mesmo porque os níveis de poluição tornam impossível manter o crescimento dos últimos anos. Por conta disto a China investe na produção de energias renováveis e na substituição dos carros de combustão interna para os carros elétricos.
Mas o país terá que fazer um esforço muito maior para mudar o padrão de produção e consumo no sentido de fazer a pegada ecológica caber dentro da disponibilidade de sua biocapacidade, respeitando as fronteiras planetárias da China e da Terra.
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Estimativa da população da China e cenários para 2100 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU