Estudo mostra que desmatamento esquenta riachos e encolhe peixes na Amazônia

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19 Mai 2018

O desmatamento está fazendo peixes encolherem em uma região da Amazônia. A conclusão é de um estudo recém-publicado, que mostrou como o aquecimento dos riachos provocado pela derrubada da mata e pela construção de barragens afetou a qualidade de habitat para os peixes, impactando na diminuição média de 36% do tamanho de algumas espécies.

A reportagem é publicada por IPAM, 14-05-2018.

De acordo com um dos autores do trabalho, o ecólogo Paulo Ilha, pesquisador associado do IPAM, a retirada da cobertura vegetal, seja para pastagem ou plantação de soja, facilita a erosão e o transporte de sedimentos para dentro dos rios, modifica características físico-químicas da água, a disponibilidade de alimento e abrigo para os animais aquáticos. A construção de barragens também contribui com essa alteração da paisagem para o aquecimento da água, que influencia diretamente a biodiversidade do local.

“Embora se saiba há muito tempo que em ambientes mais quentes o tamanho dos organismos costuma ser relativamente menor, e que o aquecimento ambiental pode provocar reduções, nenhum estudo havia testado a hipótese de que o aumento da temperatura da água em riachos provocado pela conversão de florestas em áreas agrícolas poderia reduzir o tamanho dos peixes.”

A pesquisa de campo foi realizada na Fazenda Tanguro, no Nordeste de Mato Grosso, local em que o Projeto Tanguro, liderado pelo IPAM, desenvolve desde 2004 pesquisas sobre a interação entre mudanças climáticas, floresta e agricultura. Os pesquisadores analisaram o tamanho dos peixes em pontos com diferentes usos da terra, foram em seis riachos, sendo três em áreas de florestas e três em áreas agrícolas.

O estudo envolveu 36 espécies presentes nas bacias dos rios Darro e Tanguro. As análises indicam que quatro das seis espécies mais presentes nos riachos diminuíram de tamanho corporal, entre 43% e 55%, nas áreas agrícolas.

Para confirmar a hipótese, o pesquisador realizou um experimento no laboratório da Universidade de São Paulo (USP), onde foram criados peixes de uma espécie nativa (Melanorivulus zygonectes) em temperaturas semelhantes às dos riachos agrícolas e de floresta.

“Os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos agrícolas perderam massa, diminuindo de tamanho, enquanto os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos de florestas cresceram”, afirma Ilha. A pesquisa não investigou os mecanismos fisiológicos que levam à diminuição do tamanho dos peixes, mas constatou que a temperatura da água é um fator preponderante.

Estudos anteriores constataram que córregos com áreas desmatadas são de 3°C a 4°C mais quentes do que em áreas florestadas. A temperatura é um dos fatores mais importantes para a distribuição dos organismos, as interações e as funções ecológicas das comunidades.

“As conclusões do estudo podem ter implicações para a conservação de peixes em resposta ao aquecimento provocado por mudanças climáticas e no uso da terra”, diz Ilha. “Alterações no tamanho do corpo podem afetar praticamente todos os aspectos da biologia de um organismo, de sua fisiologia à história de vida, interações ecológicas, e funções ecossistêmicas, incluindo provisão de alimento e renda para seres humanos.”

Este estudo fez parte da tese de doutorado de Ilha, feita na USP sob orientação do ecólogo Luis Schiesari, e contou com a colaboração de Fernando Yanagawa, do professor Carlos A. Navas, e da pesquisadora KathiJo Jankowski.

O Projeto Tanguro é um esforço científico com o objetivo de conciliar a produção de alimentos e a integridade ambiental com as mudanças climáticas globais e locais. Ele é composto por um grupo interdisciplinar de pesquisadores, sob a coordenação do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e com a colaboração da AMAGGI, cuja Fazenda Tanguro, localizada em Querência (MT), serve como centro de experiências do projeto.

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