08 Mai 2018
Segundo o cardeal Gianfranco Ravasi, amigo pessoal de Olmi, seus filmes expressavam o cristianismo da crucificação.
"O tema da busca, a fé considerada como inquietação e a encarnação do cristianismo, visto como religião dos pobres, dos últimos". Esses são, segundo o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, as duas características mais evidentes da cinematografia de Ermanno Olmi, diretor, roteirista e escritor de Bérgamo, que morreu em Asiago nesta segunda-feira, aos 86 anos.
Segundo Ravasi – que sempre foi um admirador de Olmi desde suas primeiras obras, além de grande amigo – é justamente em um de seus filmes menos famosos, Camminacammina', dedicado aos Reis Magos, que o diretor italiano expressou explicitamente a qualidade de sua poética: “a busca, a peregrinação no absoluto". "O outro lado - continua o purpurado - era o de um cristianismo encarnado, e, portanto, dos últimos. Um cristianismo marcado profundamente pelo sofrimento, pela pobreza e por uma aspiração que sobe da terra para o Céu".
A reportagem é de Fabio Colagrande, publicada por Vatican News, 07-05-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Um das melhores sínteses da obra de Olmi foi formulada por outro amigo em comum, Sergio Zavoli, quando afirmou que a cada dia a fé e o amor devem ser conquistados com uma luta contra a dúvida e, portanto, a vitória sobre a dúvida é a única afirmação da fé". "A inquietação da Fé era tão presente em seus filmes - acrescenta Ravasi - que definiria seu cristianismo como 'francês', porque encarnava as grandes questões dos autores do séc. XX francês."
"Apesar da maneira serena e positiva com a qual Ermanno Olmi se relacionava com os outros, com os seus amigos, a sua obra refletia uma espiritualidade atormentada", acrescentou o cardeal Ravasi. "Era a representação da doçura e da ternura, mas a sua obra era provocativa - basta pensar a ‘Centochiodi’ ou ao 'Villagio di cartone' - e bastante crítica em relação a um catolicismo que não refletia totalmente, aos seus olhos, o 'custo' da redenção, o 'custo' da Fé, uma fé que precisa ser arrancada da alma e da carne."
"Aquele de Olmi - Ravasi conclui - era principalmente o cristianismo da crucificação. Naturalmente nos seus filmes sempre paira um clima de Páscoa, porque ele era um grande crente. Mas, para ele, 'o consenso sem sofrimento dado a Deus é uma forma de não responder'. E nessa afirmação, que era de outro nosso amigo comum, Carlo Bo, transparece a representação mais verdadeira da Fé de Olmi: encontramos Cristo e, mais em geral Deus, no sofrimento, no limite, na caducidade. A estrada mais difícil - o lugar onde paradoxalmente podem ser comemoradas as apostasias - e, portanto, a dor, as injustiças do mundo, era ao contrário, aos olhos de Ermanno Olmi, o lugar da epifania por excelência". "É por isso que seus filmes podiam parecer provocativos para a teologia. Jesus Cristo encarnado - que é história e mistério, humanidade e transcendência - é por excelência o rosto último em que se espelhou Olmi e que agora creio, como crente, poderá finalmente contemplar".
Nota da IHU On-Line: No XVIII Simpósio Internacional IHU.A virada profética de Francisco. Possibilidades e limites para o futuro da Igreja no mundo contemporâneo, a ser realizado de 21 a 24 de maio de 2018, na Unisinos – campus Porto Alegre, será apresentado o último filme de Olmi, intitulado ‘Sono uno de voi’. Trata-se de um documentário sobre o cardeal Carlo Maria Martini. A exibição do documentário ocorrerá no dia 21 de maio, às 10h.
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Morte de Ermanno Olmi. Cardeal Ravasi: em seus filmes o "custo da Redenção" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU