02 Mai 2018
Palavras inequívocas, aquelas de Marx. O seu é um "não" forte e vibrante para o crucifixo afixado obrigatoriamente nos departamentos públicos na Baviera: "Não cabe ao Estado explicar qual é o significado da cruz", ele troveja. Só que não estamos falando de Karl Marx, o autor de O Capital, mas de Reinhard Marx, arcebispo e cardeal bem como presidente da Conferência Episcopal Alemã.
A reportagem é de Roberto Brunelli, publicada por La Repubblica, 30-04-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em uma entrevista ao Süddeutsche Zeitung atacou frontalmente o governador da Baviera Markus Söder, cujo gabinete na terça-feira aprovou uma diretriz segundo a qual em cada local público da região de Land deverá ser afixado o símbolo do cristianismo. Iniciativa que provocou, em um país de forte caráter secular como a Alemanha, um debate acalorado que foi muito além das fronteiras da Baviera: os Verdes e os Linke definiram de natureza "populista e anticonstitucional", a decisão do socialista-cristão Söder, enquanto os liberais da Christian Lindner não hesitam em falar de "profanação da cruz".
Até mesmo vários membros importantes da Igreja bávara reagiram com irritação: "A cruz não é um logotipo de campanha eleitoral."
As pesquisas não ajudam: de acordo com o levantamento realizado pelo instituto Emnid para a Bild, 64% dos alemães são contrários à afixação do crucifixo.
Mas o verdadeiro golpe ao coração para o pobre Söder - que tinha tentado se defender trazendo à baila "a identidade da Baviera" - foi a resposta categórica do cardeal Marx. A decisão de proceder à afixação do crucifixo nos departamentos da Baviera cria "divisão e inquietação", afirmou o bispo: "Quem vê o crucifixo apenas como um símbolo cultural não entendeu seu significado."
Palavras duras como pedras, que subentendem a natureza manipulatória da decisão do governo da Baviera: "A cruz está sendo expropriada em nome do Estado", atacou Marx, segundo o qual "é um símbolo de rejeição à violência, à injustiça e ao pecado, mas não um símbolo direcionado contra outros seres humanos."
Marx ressaltou que, sim, seria oportuno um debate sobre o crucifixo, mas em termos que não são certamente aqueles pretendidos por Söder: "O que significa viver em um país caracterização de maneira cristã?", pergunta o presidente da Conferência Episcopal, segundo o qual a definição inclui "os cristãos, mas também os muçulmanos, os judeus e aqueles que não possuem nenhuma crença." Marx não tem dúvida: o Estado deve garantir que as diferentes denominações possam se "articular", mas não pode decidir qual deva ser o conteúdo de uma convicção religiosa.
Em suma, o Evangelho não se deixa traduzir em política em uma escala direta: "A cruz deveria ser um modelo para a política para que seja respeitada a dignidade de cada pessoa, especialmente dos mais fracos. Estes são os parâmetros segundo os quais deve se medir".
Resumindo, a combinação Marx e crucifixo não é um paradoxismo na Alemanha. É muito mais que o ópio do povo.
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Alemanha. Não agrada ao cardeal Marx o crucifixo nos departamentos públicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU