10 Fevereiro 2018
"Os muçulmanos na Europa são, em média, mais jovens (30,4 anos) do que os não muçulmanos (43,8 anos), o que significa também que há mais mulheres em idade fértil. Quase um terço da população muçulmana na Europa (27%) tem menos de 15 anos – quase o dobro da proporção entre não muçulmanos (15%)", escreve José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 09-02-2018.
O panorama religioso da Europa vai ficar mais plural nas próximas décadas e um dos elementos da maior diversidade religiosa é o crescimento da população muçulmana, ao mesmo tempo em que diminui a proporção das filiações católicas e protestantes. Segundo projeções do Instituto Pew Research Center (novembro de 2017), a população muçulmana na Europa pode triplicar entre 2016 e 2050.
Em 2016 havia 25,8 milhões de muçulmanos na Europa (representando 4,9% da população total) e este número pode passar, no cenário de alta migração, para 75,6 milhões em 2050 (representando 14% da população total).
O gráfico acima apresenta três cenários para 2050. Em todos eles há um crescimento da população muçulmana. No cenário de zero imigração, a percentagem de muçulmanos que estava em 4,6% em 2015, passaria para 7,4% em 2050. No cenário médio de imigração a percentagem passaria para 11,2%. E no cenário de alta imigração a percentagem de muçulmanos na Europa chegaria a 14% em 2050.
O mapa abaixo mostra que os países com as maiores presenças de muçulmanos, em 2016, eram Chipre (25,4%), Bulgária (11,1%), França (8,8%), Suécia (8,1%), Áustria (6,9%), Alemanha (6,1%), Suíça (6,1%), etc. Em termos absolutos, a França lidera com 5,7 milhões de pessoas estimadas na prática da fé islâmica.
Segundo as projeções do Instituto Pew Research Center (novembro de 2017), apresentadas no mapa abaixo, a presença muçulmana na Europa em 2050, no cenário de alta imigração, pode chegar a 14%, sendo 30,6% na Suécia, 19,9% na Áustria, 19,7% na Alemanha, 18,2% na Bélgica, 17,2% no Reino Unido, 17% na Noruega, etc.
Em termos absolutos, no cenário de alta migração, conforme mostra a tabela abaixo, o número de muçulmanos pode chegar a 17,5 milhões na Alemanha, 13,5 milhões no Reino Unido, 13,2 milhões na França, 8,3 milhões na Itália, etc.
Os muçulmanos na Europa são, em média, mais jovens (30,4 anos) do que os não muçulmanos (43,8 anos), o que significa também que há mais mulheres em idade fértil. Quase um terço da população muçulmana na Europa (27%) tem menos de 15 anos – quase o dobro da proporção entre não muçulmanos (15%).
O Instituto Pew estimara que uma mulher muçulmana terá 2,6 filhos em média, um a mais do que o 1,6 filho projetado para mulheres não muçulmanas que vivem na Europa. Embora nem todos os filhos nascidos de pais muçulmanos se identificam como muçulmanos, eles tendem a assumir a identidade religiosa de seus pais.
Evidentemente, é muito difícil antecipar o futuro, pois os fatores que impulsionaram os fluxos de migrantes e refugiados – como a instabilidade na África e no Oriente Médio – podem diminuir ou aumentar. Muito depende também da economia e dos governos europeus, que estão sujeitas a várias alterações.
O Pew Research Center baseou suas projeções em pessoas que se identificaram como muçulmanas, usando informações de 2.500 bancos de dados, incluindo estatísticas oficiais e pesquisas realizadas em países que não coletam informações sobre identidade religiosa.
Independentemente do que vai acontecer no futuro, a realidade atual é que existe um crescimento da presença muçulmana na Europa e uma diminuição da prática católica e protestante no Velho Continente.
Reportagem de Roberto Scarcella, publicada em La Stampa (11/12/2017) mostra que, na Europa, centenas de edifícios sagrados do cristianismo mudam de função e diversos viraram mesquitas. Na Grã-Bretanha, Alemanha, França, Suécia, Bélgica e Holanda são, cada vez mais, numerosas as comunidades cristãs que preferem tornar rentáveis os espaços, cedendo a outra religião os lugares de culto religioso abandonados pela evasão dos fiéis. Apenas na Frísia, no norte da Holanda, cerca de 250 das 720 igrejas fecharam suas portas e tornaram-se apartamentos, escritórios, restaurantes ou, em alguns casos, mesquitas.
A reportagem cita o caso da França, onde um filósofo existencialista romeno, adotado pelos parisienses, é citado sem parar, cada vez que se inicia um debate inter-religioso devido a uma frase contida em uma sua correspondência com o erudito austríaco Wolfgang Kraus: “Os franceses não acordarão até que Notre-Dame seja transformada em mesquita”.
Ou seja, o quadro religioso da Europa está mudando com o aumento da presença muçulmana, aumento do número de pessoas que se declaram sem religião e declínio do número de praticantes da fé católica. O “velho continente” está ficando mais plural. Resta saber se haverá uma convivência pacifica, com maior harmonia e reciprocidade ou vai predominar a xenofobia e a intolerância religiosa.
Referência
PEW. Europe’s Growing Muslim Population, PEW, 29 november 2017
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Crescimento da população muçulmana na Europa: 2016-2050 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU