16 Janeiro 2018
Bairros em Pé, com a CTEP (Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular), a CCC (Corrente Classista e Combativa) e outras organizações sociais, viajaram nesta segunda-feira para o Chile para participar, de um lugar destacado, da missa que Francisco irá presidir. Sua interpretação das críticas de alguns meios de comunicação ao Papa.
O coordenador nacional do Movimento dos Bairros de Pé, Daniel Menéndez, afirmou no domingo que “Francisco pede para se organizar, para frear a atual exclusão social, e isso incomoda muito”, momentos antes de partir rumo ao Chile, juntamente com uma delegação de militantes populares que viajam para participar da missa que o Papa irá presidir na cidade de Temuco, no sul do Chile. Ali, eles farão parte de um contingente de 500 militantes, integrado também pela Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular (CTEP), entre outras organizações que partem de diferentes regiões do país.
A entrevista é de Inés Fornassero, publicada por Página/12, 15-01-2018. A tradução é de André Langer.
Com que expectativas vocês partem para o encontro com Francisco?
Com o desejo de acompanhá-lo, pelo que ele representa para nós: colocar na agenda uma mensagem crítica à atual ordem social. Concordamos com sua crítica ao grau de exclusão expresso pelo capitalismo financeiro, à adoração do “deus do dinheiro” e ao impulso ao consumismo. Sobretudo, acreditamos no seu acompanhamento dos excluídos, que não nasce de um ponto de vista puramente caritativo. Sua mensagem não os toma apenas como sujeitos a quem a Igreja deve dar sua misericórdia.
Qual é o papel que lhes dá?
Ele os entende como sujeitos de transformação, como o germe da modificação da ordem vigente. É por isso que seu ideário nos faz sentir encorajados para continuar a nossa tarefa de organização comunitária. Em sintonia com essa visão, explica-se o impulso que o Papa dá à necessidade de organização dos setores mais humildes, na Argentina e no mundo. Francisco propicia um encontro de movimentos populares do qual participam organizações de um novo tipo, que têm como objetivo não apenas o sindicalismo tradicional do século XX, mas a sindicalização e a organização dos pobres: dos camponeses que não têm terra, dos trabalhadores desempregados, dos habitantes sem acesso a terra, dos povos originários e dos migrantes.
É nessa linha que interpretam o gesto do Papa de convocar os mapuches e outras comunidades aborígenes para um encontro privado após a missa?
Totalmente. Embora sua tarefa seja sacerdotal, como líder religioso também tem e teve um papel decisivo nos conflitos que existem em diferentes regiões do mundo: na disputa na Europa com os migrantes e o crescimento da xenofobia, foi um fator chave na redução do embargo dos Estados Unidos a Cuba, no conflito pela paz na Colômbia, nos diferentes conflitos na África e também entre Israel e Palestina. Certamente, o conflito do povo mapuche com os Estados argentino e chileno encontrará em Francisco uma intervenção central, como sempre favorecendo o diálogo e o respeito pelos direitos dos mais humildes.
Como vêem o tratamento dos meios de comunicação dado à figura do Papa na Argentina?
Temos claro que é um ator que incomoda, que sua mensagem entra em rota de colisão com importantes setores do poder que querem encontrar nos excluídos um sujeito passivo. O Papa convida para buscar um modelo de sociedade muito mais integrador; por isso esse ataque fenomenal dos últimos dias da mídia hegemônica, tanto à sua figura, como àqueles que adotam seu ideário. Com esses ataques buscam edulcorar suas ideias, esconder sua mensagem.
O olhar do Papa está absolutamente posicionado, não é neutro, é uma mensagem que opta pela cessação da construção dessas sociedades cada vez mais excludentes e por dar um valor altamente positivo ao que vem da organização dos excluídos. Essas oposições midiáticas têm uma grande hipocrisia e cinismo, porque, uma vez que não enfrentam isso de cara, buscam maneiras e atalhos para criticá-lo indiretamente.
Na quarta-feira, Bairros em Pé participará de um encontro com outras organizações sociais em uma comunidade mapuche de San Martín de los Andes. Qual é o objetivo deste encontro?
Vão participar os militantes que viajam para o Chile para trocar as experiências de organização que existem em diferentes bairros do país e para construir um diagnóstico sobre a situação argentina, e organizar a apresentação das reivindicações que viemos esboçando: a emergência alimentar, a necessidade de que se implemente a emergência social, além da preocupação com a escalada da repressão e a forma como o Governo intervém nos protestos sociais.
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Argentina. “O Papa insiste em organizar o povo e isso incomoda”. Entrevista com Daniel Menéndez, coordenador do Movimento Bairros em Pé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU