30 Novembro 2017
Renda abaixo do mínimo é possível entre trabalhadores informais e por conta própria; pesquisa revela que 10% da população concentra 43% da soma de rendimentos do país.
A reportagem é de Daniel Silveira e publicada por G1, 19-11-2017.
Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que 50% dos trabalhadores brasileiros recebem por mês, em média, 15% menos que o salário mínimo. Além disso, o rendimento daqueles que ganham mais é 360 vezes maior do que o dos trabalhadores que têm renda mais baixa.
O levantamento foi feito ao longo de 2016 por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD). Naquele ano, o salário mínimo era de R$ 880. Dos 88,9 milhões de trabalhadores ocupados no ano, 44,4 milhões recebiam, em média, R$ 747 por mês.
A lei brasileira prevê um salário mínimo para os trabalhadores com carteira assinada. O rendimento abaixo desse valor é possível entre a população com emprego informal e os trabalhadores por conta própria, como vendedores ambulantes e donos de pequenos negócios.
Do total de trabalhadores, 4,4 milhões (5%) recebiam, em média, apenas R$ 73 mensais. Já 889 mil (1%) recebiam, em média, R$ 27 mil. “Isso significa que aqueles com maiores rendimentos recebiam 360 vezes mais que os com menores rendimentos”, enfatizou a pesquisadora.
A soma dos rendimentos recebidos por todos os brasileiros em 2016 foi de R$ 255 bilhões por mês, em média. Desse valor, 43,4% estava concentrado nas mãos de 10% da população do país. Já a parcela dos 10% das pessoas com os menores rendimentos detinha apenas 0,8% da massa.
A análise regional mostrou que a Região Sudeste concentrou R$ 132,7 bilhões da massa de rendimento do país, superior à soma das demais regiões. As regiões Sul (R$ 43,5 bilhões) e Nordeste (R$ 43,8 bilhões) produziram cerca de 1/3 da massa de rendimentos do Sudeste. Já as regiões Centro-Oeste (R$ 21,8 bilhões) e Norte (R$ 13,4 bilhões) produziram, respectivamente, 16,4% e 10,1% do Sudeste.
"É claro que tem de ser maior porque é no Sudeste onde está concentrada a maior parcela da população, 42%, do país”, destacou Cimar Azeredo, Coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Segundo Azeredo, 44% dos “outros rendimentos” pagos no país estão concentrados no Nordeste. “Isso mostra o peso e a importância dos programas de transferência de renda para aquela população”.
“Aí a gente vê o tamanho da desigualdade econômica no país”, enfatizou Maria Lúcia.
O rendimento médio real domiciliar per capita foi de R$ 1,2 mil por mês em 2016. Nas regiões Norte e Nordeste, a média foi de R$ 772. A maior média foi observada no Sudeste, com R$ 1,5 mil.
Com isso, o índice de Gini, que calcula o nível de desigualdade de renda em um país, do rendimento domiciliar per capita para o Brasil naquele ano foi estimado em 0,549. O Sul do país apresentou o menor índice, de 0,473, e o Sudeste o maior, de 0,535. O índice de Gini vai de 0 (perfeita igualdade) a 1 (desigualdade máxima).
Para a gerente da pesquisa, Maria Lúcia Vieira, o levantamento enfatiza a necessidade do Brasil combater as desigualdades sociais e econômicas a fim de alavancar seu desenvolvimento.
Dos 205,5 milhões de habitantes no Brasil, 124,4 milhões (60,5%) possuíam algum tipo de renda em 2016, segundo o IBGE. A maior parcela do rendimento da população provém da remuneração pelo trabalho, conforme a pesquisa.
Segundo o levantamento, 42,4% da população possuía rendimento de trabalho, ao passo que 24% possuía algum rendimento proveniente de outras fontes, como aposentadoria e benefícios sociais.
O IBGE destacou que havia diferenças significativas entre as regiões em relação à fonte de rendimento da população. No Sul, por exemplo, 47,1% das pessoas com renda a obtinham por meio do trabalho. Já o Nordeste concentrava o maior percentual de pessoas que recebiam rendimento de outras fontes.
Dentre os rendimentos distintos da remuneração pelo trabalho, aposentadorias e pensões se destacaram como a principal fonte. Da população com renda, 13,9% recebia aposentadoria ou pensão; 2,4% recebia pensão alimentícia, mesada ou doação; 1,8% tinha renda de aluguel; e 7,7% recebia algum tipo de rendimento de outras fontes, como rendimentos de poupança, seguro-desemprego e dos programas de transferência de renda do governo, como o Bolsa Família, por exemplo.
Considerando apenas o Bolsa Família, o IBGE constatou que 14,3% dos domicílios do país têm essa fonte de renda. No Nordeste, este percentual salta para 29,3% dos domicílios e no Norte para 27,2%. O menor percentual foi observado no Sul (5,4%), seguido pelo Sudeste (6,9%) e Centro-Oeste (9,4%).
Já o Benefício de Prestação Continuada (BPC), conforme apontou a pesquisa, estava presente na renda de 3,4% dos domicílios brasileiros. Nordeste e Norte são as regiões com maior percentual deste benefício – respectivamente 5,4% e 5,3% - seguidas pelo Centro-Oeste (3,6%), Sudeste (2,3%) e Sul (2,1%).
Cimar Azeredo enfatizou que o rendimento médio domiciliar per capita dos domicílios onde havia pagamento de Bolsa Família foi de R$ 331, enquanto nos domicílios onde nenhum morador o recebia foi de R$ 1.446.
A análise regional revela que o Nordeste foi a região que concentrou a maior parcela de pessoas que tinham renda distintas de trabalho, aposentadoria, pensão e aluguel.
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Metade dos trabalhadores brasileiros tem renda menor que o salário mínimo, aponta IBGE - Instituto Humanitas Unisinos - IHU