01 Novembro 2017
“A nossa relação com Deus consiste em apenas dois elementos: uma confiança absoluta e uma gratidão sem limites; todo o resto é supérfluo ou prejudicial, mas confiança e gratidão são a essência da vida espiritual.”
A opinião é do pastor valdense italiano Aldo Comba, tradutor de Lutero ao italiano, em artigo publicado por Riforma, 03-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Tivemos nos últimos meses uma série de livros, artigos, conferências, até mesmo com certos vídeos sobre Lutero e a Reforma. Neste ponto, alguém pode ter prazer ao encontrar uma síntese de poucas linhas, que permita ter um esquema facilmente memorizável.
Falando de Reforma, naturalmente, não se entende apenas Lutero e o início do movimento, mas tudo o que se seguiu até hoje, ou seja, a cristandade reformada, o protestantismo.
No essencial, parece-me, a Reforma apresenta três aspectos positivos e dois negativos. O primeiro aspecto positivo é a difusão da Bíblia. Os valdenses medievais já haviam se esforçado nesse sentido, traduzindo da Vulgata e produzindo manuscritos caros e raros. Com Lutero, por sua vez, começa-se a traduzir do grego e do hebraico e a usar a imprensa, há pouco introduzida na Europa. A Bíblia foi difundida em milhares e, depois, em milhões de exemplares; todos são exortados a lê-la, meditá-la e aplicar os seus ensinamentos. Mesmo os católicos, que por muito tempo a usavam com reserva, hoje a difundem e também fazem traduções modernas em colaboração entre protestantes e católicos.
O segundo aspecto positivo está no fato de ter centrado a relação do fiel com Deus na graça: “Vocês foram salvos pela graça, por meio da fé; e isso não vem de vocês, mas é dom de Deus” (Efésios 2, 8). A nossa relação com Deus consiste, portanto, em apenas dois elementos: uma confiança absoluta e uma gratidão sem limites; todo o resto é supérfluo ou prejudicial, mas confiança e gratidão são a essência da vida espiritual.
O terceiro aspecto positivo diz respeito à Igreja: descartada a estrutura hierárquica, que era um resíduo imperial, a Igreja é uma comunidade de irmãs e irmãos, que distribuem entre si tarefas diferentes, mas sem nenhuma superioridade ou prerrogativa pessoal. Esses aspectos positivos devem ser conservados e valorizados.
Os aspectos negativos ou, se se preferir, as carências dizem respeito à paz e à igualdade.
Jesus foi um messias de paz, que entrou triunfalmente em Jerusalém não em um carro de guerra, mas em um pacífico burro, justamente para simbolizar o seu reino de paz. Jesus ensinou: “Amem os seus inimigos” (Mt 5, 44); ser seus discípulos significa ser pacificadores.
A Reforma, infelizmente, não deu uma mensagem clara sobre esse ponto. Só os valdenses medievais, depois os menonitas, os quakers e, talvez, algum outro grupo minoritário são pacifistas. Hoje, é mais do que nunca necessário remediar essa carência e proclamar, em alto e bom som, que todo verdadeiro discípulo de Jesus é um pacifista integral.
A segunda carência diz respeito à igualdade. Jesus a ensinou e a praticou. A primeira comunidade cristã, a de Jerusalém, também tinha introduzido uma forma de igualdade econômica (Atos 2, 44 e ss.) e nisso tinha razão, porque, sem igualdade econômica, todas as outras igualdades acabam sendo mais aparentes do que reais.
Também sobre esse ponto a Reforma foi carente. Hoje, em um mundo onde, ao lado de alguns grupinhos de bilionários, há milhões de pessoas, incluindo crianças, que sofrem ou morrem de fome, é importante encontrar uma forma moderna de igualdade econômica. Uma tarefa imensa, mas muito urgente, para todos os cristãos.
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A Reforma em cinco pontos: três positivos, dois negativos. Artigo de Aldo Comba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU