24 Outubro 2017
"Ao se aprofundar no texto, o leitor é conduzido pela mão para depois mergulhar em um mistério, o da natureza, que se faz silêncio e oração de adoração e agradecimento, pois 'no centro da criação, existe uma Palavra criadora que rege a vida'".
O comentário é Maria Teresa Pontara Pederiva, em artigo publicado por Vatican Insider, 20-10-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
John McCarthy, "Le scimmie vanno in paradiso?
Trovare Dio in tutto il creato",
(Os macacos vão para o paraíso? Encontrar Deus
em toda a criação, em trad. livre)
Edizioni Messaggero, Padova, 2017
P. 160, € 15,00
Quando estava envolvido nos cursos de doutorado em ecologia florestal na British Columbia, em Vancouver, não era infrequente que o jesuíta John McCarthy, agora no limiar dos 60 anos, despertasse curiosidade, num misto de surpresa e ironia, pela presença de um sacerdote na floresta e não, como todos os outros, na paróquia. Na verdade, desde sempre fascinado pela natureza ilimitada e ainda selvagem de sua terra natal - Terranova - o seu vagar na floresta era quase uma obsessão, ou, como ele mesmo confessa, um verdadeiro caso de amor. "A natureza estimula a minha imaginação. Agita o meu espírito. Gravito ao seu redor. Preciso dela; longe dela, falta-me algo. Meu coração sente-se em casa na natureza, ali encontra paz e concentra-se na beleza, no puro e simples "ser" da variedade natural".
Para a mensagem de sua ordenação, em 1994, havia escolhido uma frase de uma carta a um confrade escrita por Bernardo di Chiaravalle, que representa quase um clássico para os amantes da floresta de todo o mundo: "Acredite em mim, você encontrará mais na floresta do que nos livros, as árvores e as rochas te ensinarão coisas que nenhum mestre te contará" (Ep. 106).
É um sentimento que podem compartilhar todos que hoje ainda vivem em nossos vales alpinos, no interior da Toscana, nas costas do sul, onde quer que o silêncio da natureza não seja quebrado pelas instalações turísticas. Um silêncio que tem uma maneira própria de revelar o real, porque "a natureza - escreve o jesuíta que agora vive em Toronto - é simplesmente um caminho que leva a Deus, uma ‘vocação’, uma ‘expressão de um projeto de amor e de verdade’”(CV 48).
Considerando a natureza um dom, objeto a ser amado, passou seus anos de juventude investigando as florestas boreais com a mesma paixão com que estudava filosofia e teologia - e também ensinou teologia no Colégio de St. Mark e da Faculdade Teológica Católica da British Columbia e ainda hoje realiza palestras no mundo todo sobre a relação entre fé e ciência - até concluir que a Trindade revela-se no centro da criação e "inspira aquela estranha e surpreendente crença que só é realmente possível conhecer Deus na Palavra que se fez carne, na matéria concreta de cada coisa". Imerso na natureza, "teofania do divino", coração pulsante quase dotado de alma, compreendeu o que entendem as Escrituras quando contam de Deus que fala ao seu povo: "Portanto, eis que eu a atrairei e a levarei para o deserto e lhe falarei ao coração"(Os 2:14). Para ele não existem divisões de tipo: o mundo científico, espiritual, poético e do bom senso humano estão buscando, juntos, a mesma verdade. Deus pode ser totalmente conhecido somente através da "carne" do mundo: disso o título do seu último livro, agora traduzido pelas edições Messaggero, de Pádua. Um título original e cativante, talvez irreverente, porque, aparentemente, combina duas coisas que parecem não ter nada em comum, macacos e paraíso. "Um livro para a reflexão pessoal e de grupo", observa o editor que, não esqueçamos, é de matriz franciscana.
Mas ao longo dos anos, precisamente em virtude desse amor sem limites pela natureza - ele também escreveu "intimidades" – cada vez mais forte, é sua dor pelo que está acontecendo com o planeta: perda de beleza e biodiversidade, diminuição dos limites naturais para o aumento, aparentemente inexorável, dos cultivos humanos ("Percebo a perda de espaços"). A solução, em sua opinião, já está em nossas mãos: "nós cuidamos das pessoas e das coisas que amamos". A compreensão científica é essencial para dar formas mais conscientes às nossas decisões, mas nunca poderá decidir o que é o bem, uma tarefa exclusiva da linguagem religiosa e do deslumbre diante de um dom que remete ao Criador.
Existem profundas reflexões com sabor da poesia, quase meditações, inspiradas pelos ensinamentos de João Paulo II (crise ecológica e moral e relativa necessidade de conversão), Bento XVI (no exterior, chamado de "green pope"), mas também da teologia do ortodoxo Zizioulas (o ethos da criação) e do católico Rahner, da filosofia de São Boaventura e Pascal e de tantas sugestões oferecidas pela atualidade, literatura, música, cinema... Publicado no Canadá no início de 2014, o livro cita uma única vez o papa Bergoglio e ainda não conhece a Laudato si’, publicada no ano seguinte.
A proposta, que vale para qualquer época desde que haja uma disposição a se envolver, é uma espécie de "re-imaginação" do que ele define de essência ordinária da vida, ou seja, a "poesia da vida que tenta direcionar-se ao mistério e à beleza da natureza divina de toda a criação", em outras palavras, o seu modo pessoal para dar sentido à vida cotidiana. As reflexões, divididas por mês, são organizadas com base nos ciclos sazonais e litúrgicos.
Ao se aprofundar no texto, o leitor é conduzido pela mão para depois mergulhar em um mistério, o da natureza, que se faz silêncio e oração de adoração e agradecimento, pois "no centro da criação, existe uma Palavra criadora que rege a vida. Em outros termos, a natureza possui uma voz, uma voz que fala da divindade que habita dentro dela". O desafio para nós é apenas o de "ouvir" e "compreender", com mais frequência em silêncio.
Porque um estilo de vida é acima de tudo uma atitude mental: na escola da criação não são necessárias receitas para os comportamentos cotidianos. O que importa é como nos colocamos diante da natureza e quais valores, desse dom de Deus, pretendemos assumir para nós mesmos.
E então será a observação do ciclo de vida do salmão, da cor verde das florestas e da função vital da clorofila, o pensamento sobre as mais de 22 mil espécies de ‘asteraceae’ ou as imagens do telescópio Hubble ... cada coisa criada é uma oportunidade para refletir sobre o que é realmente importante, "o instante presente, o ‘nu agora’ (cf Richard Rohr)". Porque a natureza é essencial para a salvação do homem enquanto sacramento em grau de revelar Deus: "Não se trata de culto da natureza, mas simplesmente de boa teologia católica".
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A teologia inscrita na clorofila - Instituto Humanitas Unisinos - IHU