Demissão de chefe de combate à escravidão teria sido compra de votos a Temer

Foto: MTE

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

11 Outubro 2017

O governo de Michel Temer resolveu demitir o chefe do combate à escravidão, André Roston, do cargo de coordenador da divisão de fiscalização para erradicação do trabalho escravo. A suspeita é de que o mandatário foi pressionado pela bancada ruralista, que integra a base de apoio de Temer no Congresso, a fazer a substituição em meio à tramitação da denúncia na Câmara.

A reportagem é publicada por Jornal GGN, 10-10-2017.

A decisão foi assinada pelo ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, em publicação no Diário Oficial da União desta terça-feira (10). As ações de fiscalização e de responsabilização de casos de emprego de trabalhadores em condições análogas à escravidão vinham incomodando parte dos parlamentares ruralistas, muitos alvos destas ações.

A relação entre a demissão de Roston com as pressões foi ditada pelo Painel da Folha, nesta terça-feira: o posto era uma das demandas de congressistas que ainda negociavam votos para barrar a segunda denúncia contra Michel Temer na Câmara.

Diversos sindicatos manifestaram-se em repúdio à demissão do chefe de combate à escravidão, entre eles o Sinait (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho), que denunciou "investigas políticas sobre a fiscalização, sempre com objetivos de enfraquecer, desestabilizar ou neutralizar ações que contrariem o poder econômico, incomodado com a ação dos auditores fiscais do trabalho".

"A exoneração de André Roston, que conseguia gerir o caos promovido pelo governo no combate ao trabalho escravo, diz muito. Escancara o descompromisso e a falta de vontade política com o enfrentamento à escravidão contemporânea", completou o procurador Tiago Cavalcanti, chefe da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho.

A intenção, segundo a Coordenadoria, "é muito clara": "mal lhe interessa [ao governo Temer] resgatar trabalhadores de situação de penúria e escravidão".

Além da Coordenadoria Nacional, também emitiram nota conjunta pública a Coordenação Geral da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, a Comissão Pastoral da Terra, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e a ONG Repórter Brasil.

Em uníssono, afirmaram: "Testemunhas do trabalho sério, engajado e transparente realizado pela coordenação do combate ao trabalho escravo, estamos convictos de que a exoneração compromete a erradicação dessa violação aos direitos humanos e revela a inexistência de vontade política e o descompromisso do atual Governo com o enfrentamento do problema".

Alertaram para as informações divulgadas no noticiário desta terça, de que a exoneração foi parte de uma negociata do governo peemedebista: "além de ter desagradado o Governo Federal ao informar a falta de recursos para o combate ao trabalho escravo em audiência pública realizada no Senado Federal, André Roston foi dispensado justamente durante a negociação de votos na Câmara dos Deputados para barrar a nova denúncia contra o Presidente da República Michel Temer".

"No atual cenário de instabilidade política e de retrocessos sociais, o Governo ignora a diretriz de permanente avanço no combate ao trabalho escravo imposta pela sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos (que recentemente condenou o Brasil em um caso de trabalho escravo) e arruína uma política pública até então assumida como prioritária pelo Estado brasileiro", completaram.

Leia mais