03 Outubro 2017
O ministério do matrimônio precisa ser exercido por casais porque os padres “não têm credibilidade nessa área”, disse o Cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, em um encontro católico.
A informação é de Sarah MacDonald, publicada por Catholic News Service, 02-10-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Ao proferir a palestra principal a 500 delegados da Diocese de Down e Connor, na convenção “Faith and Life”, da cidade de Belfast, capital Irlanda do Norte, no último dia 30, Farrell discutiu a exortação apostólica de 2016 do Papa Francisco, “Amoris Laetitia” (A Alegria do Evangelho), e pediu que as paróquias criem grupos de estudos sobre este documento e formem casais para ensinar, preparar, guiar e acompanhar os cônjuges.
Sobre o papel dos padres no acompanhamento e na preparação matrimonial, ele disse que os sacerdotes “não têm nenhuma credibilidade quando se trata de viver a realidade do casamento”, muito embora possam conhecer os princípios, a filosofia e a teologia.
Em entrevista ao Catholic News Service após o evento, o ex-arcebispo de Dallas, natural de Dublin, disse que as paróquias deveriam se preparar para formar leigos voltados a atuar nesta função, o que ele considerou um novo modelo de acompanhamento em consonância com a visão de Igreja do papa.
“Não podemos colocar os leigos a falar sobre o matrimônio a menos que eles estejam formados para isso”, falou. Essa formação não seria só sobre conhecimento, mas também teria a ver com a capacidade de se comunicar e agir como um agente pastoral a acompanhar os casais ao longo dos desafios que enfrentam, explicou.
O ministério de casais para casais é melhor feito por “leigos que já estiveram nesse lugar de casado, que já percorreram este caminho”, disse o cardeal. Ele também admitiu que “não tinha ideia” de como responder a algumas das perguntas a respeito das dificuldades que desafiam os cônjuges atuais, perguntas que os seus sobrinhos e sobrinhas lhe fizeram.
“Não tenho experiência alguma disso e a maioria dos padres não tem também”, disse Farrell, observando que muitos dos casais que participaram do Sínodo dos Bispos de 2014 e 2015 sobre a família insistiram num maior envolvimento de casais leigos no ministério do matrimônio.
O prelado igualmente defendeu, com firmeza, o Papa Francisco, negando qualquer possibilidade de ele estar difundindo heresia em seus escritos e discursos.
“Não, ele não é um herege”, disse Farrell quando perguntado sore a recente correção filial de alguns dos ensinamentos do papa sobre o matrimônio publicada por várias dezenas de padres, estudiosos e escritores. Este grupo esteve particularmente preocupado com o acesso aos sacramentos por parte de católicos divorciados e que voltaram a se casar no civil sem a obtenção de uma declaração de nulidade da união anterior.
Farrell acrescentou ainda que os católicos tradicionalistas por trás da correção filial “usam qualquer desculpa para atacar [o papa]”.
Disse ainda que está trabalhando com na preparação do próximo Encontro Mundial das Famílias, a acontecer em Dublin em agosto, e em uma visita papal.
Em sua fala, Farrell contou aos delegados que as pessoas não devem julgar a consciência dos demais ao mesmo tempo querendo que a Igreja recuse a dar a Sagrada Comunhão a políticos que não vivem plenamente o magistério católico. Recordando a época em que era bispo auxiliar em Washington, de 2001 a 1007, o prelado falou que a catedral não tinha paroquianos, mas era frequentada por dezenas de políticos.
“Era uma loucura; o cardeal-arcebispo costumava receber toneladas de correspondência todos os dias sobre alguém que deveria ser expulso da Igreja”, lembrou.
Perguntado sobre a questão dos políticos que defendem o aborto, os quais, segundo alguns fiéis, não deveriam poder comungar, Farrell falou que, embora acredite que a postura deles esteja errada, a Igreja é “para os que pecam” e que a redenção é para todos.
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Prefeito de dicastério romano sugere que casais podem ser melhores do que os padres no exercício do ministério do matrimônio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU