15 Agosto 2017
Por si as guerras não foram castigo suficiente para as nações do Mediterrâneo oriental, os homicídios e suicídios cada vez afetam mais a população. Até o ponto em que especialistas já falam dos jovens da região como uma “geração perdida”, furtada de recursos e esperança. E tudo por uma violência “endêmica e ininterrupta”, não mais somente bélica, mas também urbana.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 14-08-2017. A tradução é do Cepat.
Isso é o que aparece em um relatório publicado por alguns pesquisadores no prestigioso Journal of Public Health, que examinou os casos de vinte e duas nações da região mediterrânea oriental, entre os quais estão Afeganistão, Irã, Somália, Sudão, Síria, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Segundo dados a respeito de 2015, na região objeto do estudo – dentro da qual vivem até 600 milhões de pessoas – a taxa de suicídios e homicídios foi dez vezes maior que a das vítimas das diversas guerras em curso. E os varões estão majoritariamente envolvidos, se comparado às mulheres.
Analisando os dados, estas mortes violentas provocaram cerca de 1,4 milhão de vítimas. A estes números se acrescentam os 144.000 mortos no contexto dos conflitos que inflamam o Oriente Médio e as nações das zonas adjacentes.
No passado, estudiosos e especialistas já haviam alertado sobre o futuro das gerações jovens da região. Em 2015, um estudo realizado por uma agência especializada das Nações Unidas havia demonstrado que as guerras e a violência haviam privado 13 milhões de crianças do direito à instrução e à possibilidade de comparecer às escolas, muitas vezes demolidas ou danificadas. O que está em jogo não é somente a questão do dano físico causado nas escolas, mas também a questão do “desespero” sofrido por uma geração inteira de alunos, que veem suas esperanças e as de seu futuro “destruídas”.
Ali Mokdad, diretor do Departamento de Oriente Médio no Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington, é um dos principais responsáveis da presente investigação. Destaca que uma violência “endêmica e ininterrupta” criou essa “geração perdida” de crianças e jovens. O futuro do Oriente Médio, acrescenta o estudioso, se apresenta com tintas “tristes”, caso não houver um modo de garantir “estabilidade” à região.
Além disso, os pesquisadores evidenciam um “forte aumento” de casos de doenças mentais e problemáticas afins – entre as quais estão a depressão, a ansiedade, os transtornos bipolares e a esquizofrenia – na região do Mediterrâneo oriental.
“Em 2015, cerca de 30.000 pessoas na região se suicidaram e outras 35.000 morreram pelas desavenças, com um crescimento de 100% e de 152%, respectivamente, quando comparado aos últimos 25 anos”, explica o relatório.
Em outras partes do mundo, no mesmo período, o número de mortos por suicídio cresceu 19% e os mortos por desavenças aumentaram em 12%. Um dado muito inferior ao da área objeto do estudo e que é fonte de preocupação para os especialistas do setor. A isto também se acrescenta a falta crônica de psiquiatras e psicólogos para as necessidades reais, um elemento que contribui para piorar a situação. Em nações como Líbia, Sudão e Iêmen há apenas 0,5 psiquiatras para cada 100.000 pessoas. Nas nações europeias o dado é de 40 para cada 100.000.
Além do mais, há um forte aumento (de dez vezes mais) no número de mortos por SIDA, no período entre 1990 e 2015. A maior parte dos casos foi constatado na Somália e Sudão, também em Djibuti. Uma demonstração de que a patologia não é enfrentada de modo oportuno e que os enfermos não recebem os tratamentos adequados.
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Especialistas alertam acerca de uma epidemia de suicídios e homicídios no Mediterrâneo oriental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU