01 Agosto 2017
Nas últimas duas semanas em Israel e na Palestina foram mortas dez pessoas. O gatilho que desencadeou tamanha violência foi, em 14 de julho último, a agressão mortal contra soldados israelenses no Monte do Templo.
A reportagem é publicada por Settimana News, 26-07-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas o que tem de tão especial esse lugar santo situado na cidade antiga de Jerusalém? Que papel desempenha a religião?
Quem explica isso sinteticamente é Andrea Brogmann, jornalista e conhecedor de cultura teológica, correspondente em Jerusalém da agência católica suíça KIPA- APIC e da KNA da Alemanha, em uma entrevista de 25 de julho. Eis as cinco perguntas e respostas.
Por que é tão importante o Monte do Templo (Esplanadas das Mesquitas)?
O Monte do Templo é o local histórico onde estava situado o Templo de Israel até sua destruição pelos romanos. Mas, há mais de um milênio, com a construção da Mesquita de Al-Aqsa, é também o terceiro local santo mais importante do Islã.
Envolto por numerosas tradições míticas e bíblicas, além das lendas, o Monte do Templo, em árabe "Haram-al Scharif", é um lugar cheio de significado religioso e um local sagrado, não só para judeus e muçulmanos, mas também para os cristãos. Algumas lendas populares colocam aqui, entre outras coisas, o local onde foram criados Adão e Eva e o sacrifício de Isaque. Segundo a tradição do Alcorão, o Profeta Maomé a partir da rocha do templo, realizou a sua provisória viagem noturna para o céu.
Os muros atuais do 'Haram-al Scharif' correspondem na sua extensão àquelas externas do segundo templo, construído por Herodes. Os restos do setor ocidental, também conhecidos como o Muro das Lamentações, constituem o lugar mais importante do judaísmo.
Sobre as ruínas de uma igreja construída pelo imperador Justiniano foi erguida a atual Mesquita de Al-Aqsa, cujo nome - "a mais distante mesquita" - refere-se a uma sura do Alcorão segundo a qual Alá transportou Maomé da "Mesquita Sagrada" em Meca "à mais distante mesquita"- Al-Aqsa - em Jerusalém.
Naquela época, no entanto, não havia mesquitas em Jerusalém, de forma que a "mesquita mais distante" não poderia ser realmente aquela que hoje, em Jerusalém, leva este nome; mas a tradição islâmica afirma categoricamente que essa mesquita era a de Jerusalém. Assim, além da Meca e do túmulo de Maomé em Medina, ela constitui o terceiro lugar de culto mais importante do Islã.
O Novo Testamento fala em diversas ocasiões de Jesus no templo. A Monte do Templo foi um dos lugares visitados por Jesus. Ao contrário de outros locais bíblicos de identificação incerta, sua localização aqui é totalmente comprovada. É o lugar onde Jesus derrubou as mesas dos vendedores e onde Pedro curou um paralítico. Mas o Monte do Templo assume um significado especial também para muitos cristãos evangélicos, próximos de Israel, que lamentam a restrição da liberdade de oração nesse local.
Quem tem acesso ao templo?
Com base de um tratado de paz entre Israel e a Jordânia, formado em 1994, a gestão do Haram-al Scharif é atribuída à autoridade do Wakf muçulmano, com a Jordânia como gestor, que se considera o guardião dos locais sagrados muçulmanos em Jerusalém. Até 1996 existia uma colaboração entre a Jordânia, Israel e a autoridade do Wafk sobre o acesso dos não muçulmanos, a manutenção do local e as atividades de construção. A colaboração arqueológica foi encerrada em 1986, quando Israel decidiu pela abertura ao público de um novo túnel na área do Muro das Lamentações. E com a segunda Intifada, em 2000, toda forma de colaboração cessou. O acesso aos não muçulmanos foi novamente aberto por Israel unilateralmente apenas em 2003. Desde então, a polícia israelense também está presente dentro da área.
Atualmente, os não-muçulmanos podem entrar na esplanada, em determinados períodos, através da Porta de Mughrabi, acima do Muro das Lamentações. A oração pública, bem como a entrada para o Duomo da Rocha e para a Mesquita de Al-Aqsa, ao contrário, são reservadas aos muçulmanos.
Qual é o motivo para essas contínuas situações de tensão?
O local, além do grande significado religioso, também tem politicamente um grande valor simbólico. Enquanto o estatuto jurídico internacional de Jerusalém permanece sem solução, e muitos estados não reconhecem a soberania de Israel sobre a zona leste da cidade, para Israel Jerusalém, depois da conquista de 1967, é "a capital eterna e indivisível" - incluindo a cidade antiga, o Muro das lamentações e a esplanada.
Um projeto atualmente em análise no Parlamento pretende dar uma base jurídica a essa unidade: uma divisão da cidade por um possível tratado de paz com os palestinos deveria ser aprovada por uma maioria parlamentar (praticamente inatingível) de dois terços. Os palestinos, por sua vez, reivindicam a parte oriental de Jerusalém como capital de um futuro Estado palestino e identificam nas intervenções da polícia israelense uma violação do direito internacional.
Por que explodiu a recente violência?
Em 14 de julho, três árabes abriram fogo no Monte do Templo contra os guardas de fronteira israelenses. Dois policiais morreram e os atacantes foram mortos enquanto fugiam. Israel proibiu por vários dias a entrada à esplanada aos visitantes. Mesmo a oração dos muçulmanos da sexta-feira, pela primeira vez em muitos anos, foi cancelada.
Para a abertura gradual da esplanada, primeiro aos muçulmanos e, depois, aos visitantes não muçulmanos, Israel adotou medidas de segurança mais rigorosas e instalou controles de entrada. Isso provocou duras críticas entre os representantes muçulmanos e palestinos. Mas os motivos estavam apenas aparentemente relacionados com os detectores de metais e as câmeras de vídeo. No fundo, de fato, continua sempre presente o longo latente conflito sobre a soberania dos lugares sagrados e a progressiva judaização de Jerusalém pela força de ocupação israelense.
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Violência na esplanada de Jerusalém - Instituto Humanitas Unisinos - IHU