Por: André | 01 Novembro 2012
“Estou convencido de que o apoio por parte das Igrejas e dos governos estrangeiros representa um passo rumo à paz e à ordem pública”. Em uma entrevista à Fundação Ajuda à Igreja Necessitada, dom William Shomali (vigário do Patriarcado Latino de Jerusalém e da Palestina) disse que considera “útil” a pressão diplomática sobre Israel, diante da possível expropriação de 300 hectares de terra no Vale de Cremisán, perto de Belém, para a construção de outro trecho do muro de separação israelense.
A reportagem está publicada no sítio Vatican Insider, 30-10-2012. A tradução é do Cepat.
Dom Shomali assinou o comunicado publicado na semana passada pelos membros da Assembleia Ordinária de Católicos da Terra Santa (Aocts), no qual se condena o traçado previsto para o muro e se nega “categoricamente a existência de um acordo explícito ou implícito entre o Vaticano, a Igreja local e as autoridades israelenses”. No dia 16 de outubro passado, a Ong “Israel Project” havia acusado abertamente a Santa Sé de ter concedido a Tel Aviv a construção do muro em um terreno de propriedade eclesiástica.
Além de desmentir as insinuações, 22 prelados e sacerdotes das diferentes denominações católicas (entre os quais se destacam dom Fouad Twal, patriarca latino de Jerusalém, o padre Pierbattista Pizzaballa, custódio da Terra Santa, e dom Giorgio Lingua, núncio apostólico na Jordânia e Iraque), destacando que o procedimento de expropriação pesará sobre a população de “Al Walaja e sobre 58 famílias (80% cristãs) de Beit Jala, cujo sustento depende principalmente desse terreno”. No documento expressaram o temor de que a pressão que a “barreira de segurança” exercerá sobre os cristãos que vivem em Belém poderia alimentar o êxodo dos fiéis da Terra Santa, zona na qual a presença cristã (que em 1947 era de cerca de 20%) representa hoje apenas 2% da população. “Sem nenhuma renda fixa nem um futuro para seus filhos, muitos deles tomarão a decisão de abandonar a região”.
Em entrevista para a AIN, dom Shomali recordou que em 2004 a Corte Internacional de Justiça de Haya declarou a ilegalidade da construção do muro (que Israel começou em 2003 para se defender de eventuais ataques terroristas) que se estende por mais de 80% de seus quase 750 quilômetros para além da “linha verde”, demarcação que ficou estabelecida com os acordos arábico-israelenses de 1949. “Caso construíssem o muro dentro da fronteira anterior à ocupação da Cisjordânia – declara o vigário patriarcal –, ninguém poderia se opor. Mas o traçado que atravessa o Vale de Cremisán está além desta linha, em terra palestina”.
O religioso considera que é possível fazer um traçado alternativo, que implique uma expropriação menor de terreno na zona. As últimas esperanças seguem com vida graças à sentença que a Suprema Corte pronunciará em fevereiro do próximo ano. Trata-se do epílogo de uma ação legal iniciada pelas famílias de Beit Jala em 2006 (e à qual se somaram as religiosas salesianas em 2010) para deter a construção do muro na zona. “Nós pedimos uma decisão justa. Não um procedimento adotado para contentar a Igreja”, declarou dom Shomali, que ainda confia nos magistrados, “independentes da política”.
Contudo, não é possível excluir o fato de que a expropriação seja levada a cabo, e o religioso já está pensando em como ajudar as famílias que ficarão desalojadas. “Devemos começar a agir, junto com a Cáritas e outras organizações humanitárias. Mas temo que nossos meios não sejam suficientes”.
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“A pressão sobre Israel contra o muro é útil”, diz vigário do Patriarcado Latino de Jerusalém e da Palestina - Instituto Humanitas Unisinos - IHU