05 Junho 2017
A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de abandonar o acordo de Paris "é um desastre, um grande ato irracional e mal, porque vai contra o que a ciência diz". Afirmou hoje, ao La Nacion, o Arcebispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências e das Ciências Sociais do Vaticano que, sem meias palavras, também assegurou que "certamente prevaleceram aqueles que deram dinheiro, como algumas companhias de petróleo".
A entrevista é de Elisabetta Piqué, publicada por La Nación, 02-06-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
"A decisão de Trump de retirar-se do Acordo de Paris significa um desastre para o mundo inteiro porque os Estados Unidos possuem grande importância, pois é um país que propõe as tendências. É um desastre por si só e é algo que vai contra a encíclica Laudato Si' (LS), que o papa mostrou ao presidente [dos EUA], quando esteve aqui na semana passada", lamentou Sánchez Sorondo.
"O parágrafo 23 da LS diz que a atividade humana que utiliza material fóssil produz alterações climáticas e o aquecimento global. A decisão de Trump é gravíssima por si só, porque outros países podem querer copiar o egoísmo americano e, em definitiva, fazer dinheiro arruinando o planeta, sem qualquer consideração ao bem comum e às pessoas que sofrem pela consequência de tudo isso", acrescentou.
Sánchez Sorondo, que nos últimos anos reuniu especialistas de todo o mundo na Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano para falar sobre o meio ambiente e as mudanças climáticas, e que trabalhou duro para impulsionar a encíclica socioambiental de Francisco sobre os cuidados de nossa casa em comum, recordou que a LS cita a comunidade científica. "Bem se vê que [Trump] não sabe o que está falando. Sua decisão é um grande mal, irracional, porque vai contra o que a ciência diz, pois é ela que conhece o mundo do jeito ele se encontra atualmente", assegurou.
Sánchez Sorondo - que contou que viajará para a Argentina para participar de uma convenção sobre a LS, em Mendoza, e que depois passará por Buenos Aires para um fórum sobre a aplicação desta Encíclica no Senado -, ressaltou, por sua vez, que ao tomar esta decisão Trump dividiu a sua própria equipe. "Ivanka, sua filha, que representa a parte racional da família, e que é uma mulher muito sensata, nem sequer estava presente quando o pai anunciou a decisão", disse ele.
"Mas, certamente, prevaleceram aqueles que deram dinheiro, como algumas companhias de petróleo", acusou ele. "De qualquer forma, há outras companhias petrolíferas, como por exemplo a Exxon (e outras), que não vão seguir o que Trump diz, porque elas percebem que estão arruinando o mundo e que precisam mudar a forma de energia", disse ele.
Além do "desastre", Sánchez Sorondo destacou que nem tudo está perdido e que nós teremos de ver o que acontecerá a partir de agora.
"Do ponto de vista prático, é preciso ver como se concretiza a retirada porque não é nada fácil retirar-se de um acordo internacional. Ao Presidente Trump restam-lhe três anos e pouco. Pode ser que nesses três anos ele não consiga se retirar e o novo presidente reafirme o acordo", disse ele. Ressaltou, por outro lado, a reação negativa que houve em todo o mundo diante da decisão do magnata, inclusive nos Estados Unidos. "Todos os comentários, começando por Barak Obama, dizem que ele se colocou, junto aos outros dois países que não assinaram, contra o futuro. Acredito que essas declarações foram muito bem ditas", afirmou ele.
- O Acordo de Paris é um acordo em que os países se comprometem, mas não há nenhuma obrigação. Se um Estado o abandona, não destrói o acordo...
- Claro, mas além do acordo, cada país deve ter uma implementação e não é fácil dizer "não" completamente. Por isso creio que de maneira prática necessitamos esperar e ver quais serão as consequências reais do ocorrido. Creio ser terrível, como um sinal de direção, mas na prática é preciso esperar para ver. Até porque, no final da conferência Trump disse que seria necessário um novo acordo, mas imediatamente Emmanuel Macron, o presidente francês, esclareceu que não haverá nenhum acordo novo. Os outros países estão totalmente a favor dessa posição e acredito que isso seja muito importante. Além disso, nos Estados Unidos há governadores, como Gerry Brown, da Califórnia, que muito corajosamente disse que eles precisavam seguir o Acordo de Paris e que há outros governadores que pensam o mesmo. Ou seja, não é fácil saber hoje quais serão as consequências concretas desta decisão.
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Para o Vaticano, a decisão de Trump de abandonar o acordo de Paris "é um desastre" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU