Papa aos bispos do CELAM: "Despojar-se dos filtros clericais"

Mais Lidos

  • Eles se esqueceram de Jesus: o clericalismo como veneno moral

    LER MAIS
  • O economista Branko Milanovic é um dos críticos mais incisivos da desigualdade global. Ele conversou com Jacobin sobre como o declínio da globalização neoliberal está exacerbando suas tendências mais destrutivas

    “Quando o neoliberalismo entra em colapso, destrói mais ainda”. Entrevista com Branko Milanovic

    LER MAIS
  • Estereótipos como conservador ou progressista “ocultam a heterogeneidade das trajetórias, marcadas por classe, raça, gênero, religião e território” das juventudes, afirma a psicóloga

    Jovens ativistas das direitas radicais apostam no antagonismo e se compreendem como contracultura. Entrevista especial com Beatriz Besen

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

11 Mai 2017

Gostaria de poder visitar o Santuário de Aparecida”: com estas palavras, o Papa se dirige aos bispos de toda a América Latina, reunidos na Assembleia do CELAM, Conselho Episcopal Latino-americano em São Salvador, El Salvador, de 9 a 12 de maio.

A reportagem foi publicada por Radio Vaticano, 10-05-2017.

A mensagem de Francisco é inteiramente inspirada na Padroeira do Brasil, da qual este ano se celebram 300 anos do achado, nas águas do Rio Paraíba (SP).

Definindo Aparecida como “uma escola de discipulado”, o Papa releva três aspectos daquele acontecimento, começando pelos pescadores que encontraram a imagem.

“Um grupo de homens que sabiam enfrentar as incertezas do rio, que viviam na insegurança de não ter o que levar para seus filhos. Conheciam a ambivalência entre a generosidade do rio e a agressividade de suas ondas e a inclemência de um dos pecados mais graves que castiga nosso continente: a corrupção. A corrupção, como um câncer, está corroendo a vida cotidiana dos povos”.

O segundo aspecto é a Mãe. “No relato de Aparecida, a encontramos suja de lama no rio. Ali ela esperava seus filhos, em meio a suas lutas e anseios. Maria estava ali, onde os homens tentam ganhar suas vidas”.

E enfim, o Papa ressalta o encontro. Depois de restaurá-la e limpá-la, os pescadores a levaram para casa, um lar aonde os moradores da região iam encontrá-la. “Esta presença se fez comunidade, Igreja. As redes não se encheram de peixes, se transformaram em comunidade”.

Hoje, 300 anos depois, como filhos, somos chamados a escutar e aprender o que aquele acontecimento continua a nos dizer:
“Aparecida não traz receitas mas chaves, critérios, pequenas grandes certezas para iluminar e sobretudo, acender o desejo de nos despojar de todo o desnecessário e voltar às raízes, ao essencial, à atitude que fez de nosso continente a terra da esperança. Aparecida renova nossa esperança em meio a tantas inclemências”, frisa o Papa.

Em seguida, Francisco convida os bispos latino-americanos a aprender a escutar e conhecer o Povo de Deus, dando-lhe a importância e o lugar merecidos.

“Isto significa despojar-nos de nossos preconceitos, racionalismos e esquemas funcionalistas para conhecer como o Espírito atua no coração deste homens e mulheres. Como temos a aprender da fé desta gente; a fé de mães e avós que não têm medo de se sujar, pois sabem que o mundo está cheio de injustiças, onde a impunidade da corrupção continua cobrando vidas e desestabilizando cidades”.

A partir daí, segue a exortação do Papa: “Não tenhamos medo de arriscar e nos comprometermos com os ‘sujos’… isto não é heroicidade… nem ser kamikazes… Somente deixando de ser auto-referenciais seremos capazes de nos re-centrarmos Naquele que é fonte de Vida e Plenitude”.

Concluindo, Francisco lembrou a passagem da exortação Evangelii Gaudium:

“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa protecção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’” (Mc 6, 37).

Na conclusão, o Papa Francisco lembra. “Na medida em que nos envolvermos com a vida de nosso povo fiel e sentirmos a profundidade de suas feridas, podemos ver, sem filtros clericais, o rosto de Deus”.

Leia mais