07 Abril 2017
Com Bergoglio, acabou a “guerra fria bioética”? Na “Igreja pobre para os pobres” do pontífice argentino, não há mais espaço para os “princípios inegociáveis” e para uma veemente “promoção da cultura da vida”? Ainda tem sentido falar de “contraposições entre católicos e pessoas laicas”? Essas são as reflexões do livro Bioetica cattolica e bioetica laica nell' era di papa Francesco: che cosa è cambiato? [Bioética católica e bioética laica na era do Papa Francisco: o que mudou?], de Luca Lo Sapio, com um ensaio do filósofo Giovanni Fornero (Utet).
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por Avvenire, 06-04-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Este último ilustra os dois “paradigmas” do magistério eclesiástico e do pensamento secular, ou seja, as ideias-chave com as quais nos relacionamos com esses temas. Eis, portanto, “o eixo” para a Igreja: “A sacralidade e a indisponibilidade da vida, em virtude do seu caráter criatural e ‘teomorfo’, isto é, da sua proveniência de Deus”. Por outro lado, o privilégio da qualidade da existência e, consequentemente, da “disponibilidade da própria vida e do próprio corpo” em relação a nascimento, saúde e morte.
Lo Sapio se interroga sobre o que permanece hoje desse conflito que teve repercussões no noticiário e na política italiana (leis sobre divórcio e aborto, referendo sobre a fecundação assistida, polêmicas sobre os casos Welby e Englaro, testamento biológico). Alguns episódios “levariam a pensar – destaca o estudioso – que a bioética, estratégica até poucos anos atrás para a hierarquia vaticana, teria perdido a sua posição central” e que o choque “entre católicos e pessoas laicas teria desaparecido”.
Isso porque a abertura à escuta por parte do papa, a sua escolha de um estilo comunicativo direto, “pouco propenso a referências constantes à doutrina, a aparente diminuição de frequência e intensidade das intervenções sobre as ‘questões bioéticas’ e o foco em temáticas como a crise ecológica, a marginalização social e a pobreza” parecem indicar “itinerários diferentes em comparação ao passado”.
Cuidado, porém, porque – esta é a tese deste livro – não se deve pensar que a oposição acabou: “Ela se apresenta dentro de um marco diferente”, sim, “mas certamente não desapareceu”. Pois, se é verdade que Francisco – também sublinhando que “todos, crentes e não crentes, estamos em busca da verdade e não podemos dar nada por descontado” – está “abrindo novos caminhos para o mundo católico”, ao mesmo tempo, “tais caminhos e, mais em geral, a ação do pontífice não podem ser compreendidos senão a partir dos princípios de sacralidade e indisponibilidade da vida”.
Nenhum “avanço” do papa, portanto. A realidade é que essa sensação de “distensão bioética” poderia levar à superação de algumas barreiras, possibilitando, assim, uma época de verdadeiro diálogo, baseado na centralidade da pessoa do ponto de vista tanto material quanto espiritual.
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Bioética: o que mudou na era Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU