Por: João Flores da Cunha | 01 Abril 2017
A população do Equador irá às urnas neste domingo (2-4) para eleger o seu novo presidente. O segundo turno da eleição será disputado pelos candidatos Lenin Moreno, da Alianza PAÍS (governista, de esquerda), e Guillermo Lasso, do movimento Criando Oportunidades – CREO (oposicionista, de direita).
Moreno ficou em primeiro lugar no primeiro turno, com 39,36% dos votos. Lasso teve 28,09%. Candidato oficialista, Moreno busca seguir os passos do atual presidente, Rafael Correa. Ele enfatiza querer governar para todos os equatorianos.
Sabemos ponernos en tu lugar, entender tus anhelos y sueños, por eso vamos al verdadero cambio, al cambio justo, al cambio que te conviene. pic.twitter.com/um9qceRyYw
— Lenín Moreno (@Lenin) 26 de março de 2017
Lasso busca polarizar a eleição entre a continuidade e a mudança – e se apresenta como o candidato da mudança. Ex-banqueiro, ele tem sido o principal nome do conservadorismo nacionalmente nos últimos anos. Na eleição mais recente, em 2013, ficou em segundo lugar, atrás de Rafael Correa.
¡Vamos todos juntos por el CAMBIO! ¡¡Gracias Ecuador!! #VamosPorElCambio pic.twitter.com/g1YKu48KOr
— Guillermo Lasso (@LassoGuillermo) 31 de março de 2017
A última pesquisa divulgada pela empresa Cedatos, em 21-3, apontou leve vantagem para Moreno, com 45,7% de intenções de voto, contra 41,5% de Lasso. A comparação com as sondagens anteriores da Cedatos mostra uma tendência de queda de Lasso, que chegou a aparecer na frente de Moreno.
A margem de erro de 3,4%, porém, faz do resultado um empate técnico. Como as regras eleitorais do país impedem a publicação de sondagens nos dias anteriores à votação, eventuais movimentos de última hora não são captados pelos institutos de pesquisa. Na última pesquisa da Cedatos, 16% dos equatorianos afirmavam ainda não ter decidido por um dos dois candidatos.
A campanha foi encerrada oficialmente no dia 30-3. Moreno realizou um evento em Quito, e Lasso um ato em Guayaquil, reduto eleitoral dos opositores do correísmo.
Não houve debate após o primeiro turno por conta de desavenças entre os candidatos sobre as regras do encontro. Mesmo assim, a campanha foi acirrada.
Ao contrário do primeiro turno, em que adotou postura discreta, Rafael Correa tomou a frente da campanha oficialista. Ele buscou associar Lasso ao feriado bancário de 1999, uma medida tomada quando este era ministro da Fazenda e que sequestrou os depósitos de correntistas. Também acusou o candidato de ter vínculos com empresas offshore.
A campanha teve episódios polêmicos. No dia 28-3, Lasso denunciou ter sido agredido por simpatizantes do governo ao sair do estádio olímpico de Quito, após a disputa de uma partida da seleção nacional de futebol. Moreno afirmou que “nenhuma expressão de intolerância é aceitável”, e repudiou o acontecido.
Ninguna expresión de intolerancia es aceptable, venga de donde venga. Rechazamos los actos de violencia a la salida del Atahualpa.
— Lenín Moreno (@Lenin) 29 de março de 2017
No plano internacional, o Equador pode alterar sua política externa, caso Lasso vença. Ele pretende aproximar o país da Aliança do Pacífico, e retirá-lo da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Alba. O candidato afirmou no dia 30-03 que a vitória de Moreno colocaria o Equador no mesmo rumo da Venezuela.
Ele aludia à decisão do Supremo Tribunal de Justiça desse país de retirar a função legislativa da Assembleia Nacional e atribuí-la ao próprio tribunal. A corte tem ministros ligados ao presidente Nicolás Maduro, enquanto o parlamento conta com maioria de deputados contrários ao governo.
A manobra, que ocorreu no dia 30-03, foi denunciada como um “autogolpe de Estado” pelo secretário da Organização dos Estados Americanos – OEA, Luis Almagro. Outros países da região, entre eles o Brasil, também condenaram o ato da corte, que motivou protestos nas ruas de Caracas, capital venezuelana, no dia 31-03.
CAMBIO es evitar que el Ecuador viva lo que está pasando nuestro país hermano Venezuela, evitar una dictadura #VamosPorElCambio pic.twitter.com/Wk74wBVEO3
— Guillermo Lasso (@LassoGuillermo) 31 de março de 2017
Independentemente do resultado do pleito deste domingo, o cenário revelado pela campanha eleitoral é o de um país dividido, em que boa parte da população se mostrou descontente com os rumos do correísmo após o desgaste de dez anos no poder. Mesmo entidades indígenas manifestaram rejeição ao governo de Rafael Correa.
Correa já disse que, se seu candidato vencer, ele irá para a Bélgica, onde vive sua esposa, natural desse país europeu. Se não, continuará envolvido na política equatoriana.
Uma derrota de Moreno pode consolidar uma nova tendência na região, a de substituição dos governos de esquerda, ou progressistas, por políticos ligados à direita. Os dois maiores países da América do Sul – Argentina e Brasil – passaram por esses processos recentemente, com a eleição de Mauricio Macri no fim de 2015 e a posse de Michel Temer, em agosto de 2016.
O presidente eleito neste domingo tomará posse no dia 24-5, e deverá cumprir mandato por quatro anos, até 2021. Mais de 12,8 milhões de equatorianos estão habilitados a votar.
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Equador escolhe novo presidente neste domingo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU