Por: João Flores da Cunha | 17 Fevereiro 2017
Os equatorianos irão às urnas no próximo domingo (19-02) para eleger o sucessor de Rafael Correa na presidência do país. O candidato governista, Lenín Moreno, é o favorito para vencer o primeiro turno, mas as pesquisas apontam que sua liderança não deve ser suficiente para definir a eleição já neste domingo. Há divergências entre os diferentes institutos de pesquisa sobre quem seria o seu adversário em um eventual segundo turno.
No Equador, vence no primeiro turno quem obtiver 50% mais um dos votos, ou 40%, desde que a diferença para o segundo colocado seja de ao menos dez pontos percentuais. Moreno, que foi vice-presidente de Correa, despontou como líder desde que sua candidatura foi confirmada, em outubro. Porém, suas intenções de voto se mantiveram estancadas, e ele não conseguiu ultrapassar a barreira dos 40%.
As últimas pesquisas foram divulgadas no dia 8-02, data-limite estabelecida pela lei eleitoral do país. A empresa Cedatos aponta um segundo turno entre Moreno e o empresário Guillermo Lasso, que promete criar um milhão de empregos caso seja eleito.
El mayor problema del Ecuador es la falta de empleo. Los ecuatorianos no quieren que les regalen nada, sólo quieren una oportunidad. @CNNEE
— Guillermo Lasso (@LassoGuillermo) 16 de fevereiro de 2017
Já a Market dá como resultado um segundo turno entre Moreno e Cynthia Viteri, do Partido Social Cristão. Há um alto número de indecisos (20%, segundo a Market), que podem alterar os rumos da eleição – inclusive garantindo a Lenin os 40% que poderiam encerrar o pleito já neste domingo. Um eventual segundo turno seria realizado no dia 2-04.
Em entrevista ao IHU, o pesquisador Decio Machado afirmou que a oposição ao governo está em situação desfavorável nas eleições por conta de “seus próprios erros”. Do lado do conservadorismo, segundo ele, “a rivalidade entre distintas facções da direita não permitiu que apresentassem uma candidatura de unidade frente ao regime”. Por outro lado, “no caso de que exista um segundo turno, a coisa poderia se complicar para o partido governista, dado que estaríamos em um cenário de rearticulação de alianças entre as forças opositoras”, de acordo com Machado.
Hoy en el día de la Amazonía ecuatoriana reafirmo mi compromiso con el futuro de los pueblos y nacionalidades indígenas ¡Cuento con ustedes! pic.twitter.com/UDBQukz0DT
— Lenín Moreno (@Lenin) 12 de fevereiro de 2017
Em jogo nas eleições está o legado de Rafael Correa, que preside o país desde 2007. Seu mandato foi marcado por relativa estabilidade política, o que é raro em um país que chegou a ter sete presidentes em dez anos – justamente no período anterior a Correa, entre 1997 e 2007.
Em seu mandato, Correa impulsionou políticas que tiveram resultados positivos em diversos indicadores socioeconômicos. Os principais méritos de seu governo foram a redução da pobreza e do desemprego, em comparação aos índices de quando assumiu o poder.
O momento econômico atual, porém, não é favorável. Machado afirma que “o país tem sido fortemente golpeado pela queda do preço do petróleo, a apreciação do dólar e o encarecimento do financiamento externo”. Para ele, o que “foi construído em matéria de melhoramento dos indicadores sociais ao longo desse período tem pilares frágeis demais” – ou seja, a melhora nas condições de vida de parte significativa da população é vulnerável às alterações da economia do país.
A recessão parece ter impactado negativamente na trajetória de intenções de voto em Moreno. Casos de corrupção revelados recentemente, inclusive envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht, também prejudicaram a imagem do governo e da candidatura oficialista.
Enquanto Moreno faz uma campanha de continuidade, seus adversários apostam no discurso de mudança. Independentemente de quem vencer, no entanto, o cenário do Equador deve se alterar, de acordo com Decio Machado. Segundo o pesquisador, o correísmo “na prática se transformou em uma proposta de concentração de poderes em torno de um líder carismático que dificilmente terá continuidade sem a sua presença”.
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Equador vai às urnas para escolher sucessor de Rafael Correa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU