05 Março 2017
Praticamente toda a água consumida em Brasília vem de fontes e barragens protegidas por unidades de conservação federais. Sem elas, a situação que já exige racionamento seria pior
A reportagem é publicada por EcoDebate, 03-03-2017.
As unidades de conservação (UCs) federais cumprem papel decisivo na manutenção dos recursos hídricos que abastecem o Distrito Federal. E essa importância fica mais evidente agora, quando Brasília, a capital federal, enfrenta a maior crise de abastecimento d´água de sua história, exigindo a adoção de medidas duras como o racionamento.
O diretor de Criação e Manejo de Unidades de Conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Paulo Carneiro, destaca que quase 100% da água usada pelos mais de 2,5 milhões de brasilienses, incluindo residências, empresas e órgãos públicos, vem de reservatórios e pequenas captações protegidas por unidades de conservação federais, geridas pelo Instituto.
Pelo menos, quatro unidades de conservação do ICMBio têm relação direta com a conservação dos recursos hídricos no Distrito Federal: o Parque Nacional de Brasília, a Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio Descoberto, a Floresta Nacional (Flona) de Brasília e a Reserva Biológica da Contagem.
A APA do Descoberto e a Flona de Brasília são responsáveis pela sobrevivência das nascentes que irrigam a maior represa da região, a do Descoberto, responsável por aproximadamente 70% do abastecimento d´água do DF.
A barragem do Descoberto garante recursos hídricos para a mancha urbana mais populosa do DF, a que vai da Ceilândia ao Gama, abrangendo ainda cidades como Samambaia, Taguatinga e Recanto das Emas, além do Park Way e Águas Claras.
“Se não fosse a existência dessas duas unidades de conservação, a região da represa, que sofre muita pressão da agricultura e da ocupação humana, estaria hoje degradada, comprometendo ainda mais a captação de água”, diz Carneiro.
Do outro lado do quadrilátero do DF, no meio da vegetação de Cerrado conservada pelo Parque Nacional de Brasília, fica a segunda maior represa da região, a de Santa Maria, que responde pela água potável consumida por cerca de 30% da população.
Junto com a barragem do Torto, o sistema garante água para a região centro-norte, que vai do Plano Piloto ao Paranoá, passando pelos Lagos Sul e Norte e condomínios do Jardim Botânico, área que começou a ser habitada mais recentemente. A represa de Santa Maria está integralmente situada no interior da poligonal do parque.
“Um dos objetivos da criação do Parque Nacional de Brasília, em 1961, foi exatamente o de conservar as nascentes, riachos e rios que alimentam hoje o sistema Santa Maria-Torto. Essa visão de futuro permitiu a sustentabilidade do sistema de fornecimento de água durante anos”, afirma o diretor do ICMBio.
Já a Reserva Biológica (Rebio) da Contagem, ao lado do parque nacional, guarda um conjunto de nascentes de onde a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) faz captações (em torno de 1% dos recursos hídricos locais) que levam água para parte de Sobradinho e dos condomínios horizontais que despontaram nos últimos anos na região norte de Brasília.
Por tudo isso, o diretor do ICMBio chama a atenção para o papel das UCs. “Ainda valorizamos pouco os serviços ambientais prestados pelas unidades de conservação. É hora de repensar a ocupação dos territórios e hábitos do dia a dia. Valorizar as unidades que protegem nossas nascentes é, certamente, um desses passos”, conclui Paulo Carneiro.
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Crise hídrica no DF realça importância das unidades de conservação (UCs) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU