05 Janeiro 2017
Marco Tosatti, especialista italiano bem-informado e respeitado, há pouco revelou um outro desdobramento ocorrido em Roma. No dia 26 de dezembro, Tosatti informou em seu sítio Stilum Curiae que o Papa Francisco havia ordenado ao prefeito de um dicastério vaticano que desligasse três padres de suas funções até então desempenhadas.
A reportagem é de Maike Hickson, publicada por One Peter Five, 02-01-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Uma pesquisa feita por mim mesmo mostrou que este incidente ocorreu na citada congregação e que foi o próprio Cardeal Gerhard Müller quem agora tem de obedecer estas noras ordens peremptórias. Além disso, descobri que os três padres envolvidos são, respectivamente, de nacionalidade eslavo-americana, francesa e mexicana. (Uma de minhas fontes é um amigo de um destes três teólogos.) No entanto, o último desses três pode, mesmo assim, permanecer mais um pouco no posto que ocupa na Congregação.
Vejamos agora alguns dos detalhes específicos que o próprio Marco Tosatti nos apresenta em seu artigo. Ele começa o texto com uma referência à repreensão do Papa Francisco à Cúria Romana proferida no final de 2016 e detecta a ira dele nas suas palavras e gestos usados. Quando considera a própria Cúria Romana, entretanto, Tosatti percebe algo mais do que uma fúria recíproca presente entre os membros curiais: “Não se trata da resistência destas pessoas, mas do medo delas, do descontentamento e de um tipo de sentimento que pertence a todo um outro contexto”.
Tosatti então se refere a uma fonte que lhe contou vários episódios recentes ocorridos no Vaticano. Dois deles parecem ser de grande importância e podem também nos dar alguma ideia quanto aos métodos autoritários do Papa Francisco assim como algo relativo ao seu modo indireto de comandar a Igreja. Mas primeiro temos de nos concentrar na questão das demissões na Congregação para a Doutrina da Fé, que, nas palavras do próprio Tosatti, é “decisivamente mais entristecedor”. Eis o que escreve Tosatti:
“O chefe do dicastério recebeu a ordem para demitir três de seus funcionários (todos os quais vêm trabalhando aí há bastante tempo), e isso ocorreu sem explicações. Ele [o prefeito] recebeu estas três cartas oficiais: ‘(…) Solicito por favor que desligue...’ A ordem era: envie-o [cada um deles] de volta para a sua diocese de origem ou para a Família Religiosa a qual pertence. Ele [o prefeito da Congregação] ficou muito perplexo porque se tratava de três padres excelentes que estão entre os mais capazes em termos profissionais. Primeiramente ele evitou obedecer e várias vezes pediu uma audiência com o papa. Ele teve de aguardar porque esta reunião fora postergada várias vezes. Finalmente, foi recebido em audiência. E disse: ‘Sua Santidade, recebi estas cartas, mas nada fiz porque essas três pessoas estão entre as melhores de meu dicastério (...) O que elas fizeram?’ A resposta foi: ‘Eu sou o papa, não preciso apresentar motivos para quaisquer de minhas decisões. Decidi que eles têm de sair e eles têm de sair.’ O papa se levantou e estendeu a mão a fim de indicar que a audiência estava terminada. Em 31 de dezembro, dois dos três [homens] irão deixar o dicastério em que trabalharam por anos, e sem saber o porquê. Quanto ao terceiro, parece que vai haver um atraso. Mas então há uma outra questão que, se verdadeira, será ainda mais desagradável: um dos dois falou livremente sobre certas decisões do papa – talvez um pouco demais. Uma certa pessoa – amiga de um colaborador próximo do papa – ouviu esta informação e passou adiante. A vítima recebeu um telefonema nada amigável do Número Um [isto é, o papa]. E em seguida veio o desligamento”.
Nessa passagem, Tosatti fala de uma “febre autocrática que parece ter irrompido em Roma”. E conclui o texto com as seguintes palavras:
“Portanto não deve surpreender quando a atmosfera por detrás destes muros e palácios não é nenhum pouco serena. E podemos nos perguntar agora que tipo de crédito este fato dá para toda aquela fanfarra elaborada e sustentada em torno da misericórdia”.
Dessa forma, Tosatti acrescenta uma outra peça ao quebra-cabeça concernente à maneira e ao método do Papa Francisco de governar através dos quais ele aparentemente visa remover – ou marginalizar – prelados, padres e leigos ortodoxos de seus postos de influência formativa no Vaticano.
Mais do que isso, no tocante à Congregação para a Doutrina da Fé, uma outra fonte me contou o seguinte há mais de dois meses:
“Uma fonte em Roma diz que todos aqueles que trabalham para a Santa Sé temem falar sobre qualquer coisa por medo de serem cortados por causa da presença de informantes em todos os lugares. Esta fonte comparou a atual situação à Rússia stalinista. Disse que dois padres amigos seus, homens bons, tinham sido demitidos da CDF porque foram acusados de estarem sendo críticos do Papa Francisco”.
A mesma fonte, que pessoalmente é uma pessoa bastante honesta e bem-informada, diz que estes dois padres aqui mencionados (que não parecem ser os mesmos que estão envolvidos no caso recente de desligamento de três teólogos da CDF) temem que eles não sejam os únicos a serem desligados. Consideram o seu próprio desligamento apenas como o começo de uma “revisão massiva” dentro da Congregação para a Doutrina, “não muito diferente do que aconteceu recentemente com a Congregação para o Culto Divino, do Cardeal Sarah”. (Aqui podemos lembrar o fato de que foi o próprio Marco Tosatti quem chamou de uma “purgação” as recentes mudanças na Congregação para o Culto Divino.)
Recentemente também informamos a decisão do papa em desligar os membros da Pontifícia Academia para a Vida, órgão amplamente conhecido por sua postura incisiva na defesa da vida humana. Eis o que uma fonte bem-informada me relatou sobre este incidente na ocasião:
No final de 2016, a Pontifícia Academia para a Vida foi encerrada e todos os seus membros foram desligados. A Academia irá ser reconstituída em 2017 com novos estatutos e novos funcionários. Não se conhece o processo de nomeação dos novos membros.
Igualmente escrevemos sobre a atmosfera de medo que cada vez mais permeia o Vaticano, como se viu em uma reportagem recente escrita por um dos fundadores do LifeSiteNews.
Durante este ano de 2017 – ano do centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima –, esperamos que a Virgem Mãe seja, cada vez mais, a nossa ajuda e o nosso refúgio seguro. Que nos ajude com as graças que devemos necessitar para defender a verdade de forma mais plena e manifestar o amor de Cristo também, mesmo em face do medo.
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Papa ordena a Cardeal Müller demitir três padres da Congregação para a Doutrina da Fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU