29 Outubro 2016
“Os luteranos tradicionalmente usaram o aniversário da Reforma para celebrar o quanto são maravilhosos, e os católicos, ao contrário, para lamentar o grande cisma causado pela própria Reforma. Penso que já não se pode mais andar avante deste jeito. Se católicos e luteranos querem celebrar o evento, porque não celebrar o fato que não há mais guerras entre eles, e que agora podem relacionar-se amigavelmente como companheiros cristãos? É sobretudo por este motivo, para responder positivamente a esta questão, que Francisco vai para a Suécia”.
Teólogo protestante austro-americano, um dos maiores sociólogos contemporâneos (em janeiro publicada na Itália o livro “I molti altari della modernità. Perché il pluralismo religioso fa bene alla fede” (Os muitos altares da modernidade. Porque o pluralismo religioso faz bem para a fé, em tradução livre), Peter Berger entra no coração da viagem papal à Suécia, uma viagem com importantes implicações ecumênicas.
A entrevista é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 28-10-2016. A tradução é de IHU On-Line.
Eis a entrevista.
Alguns setores mais conservadores do catolicismo acusam Francisco de querer protestantizar a Igreja. O que o senhor pensa desta crítica?
Não me parece que Francisco esteja se aproximando tanto assim do protestantismo. Se fosse assim, teria que retratar (talvez infalivelmente?) a pretensão ser o vigário de Cristo na terra, coisa realmente não muito provável.
O que pensam os luteranos de Francisco?
Realmente não sei dizer o que os luteranos pensam sobre Francisco. Provavelmente (embora nunca vi nenhum dado de pesquisa), creio que o veem como uma pessoa simpática. Assim também o vejo.
Qual é a etapa mais importante que ainda falta realizar para sanar as feridas?
Na Europa e na América do Norte não há graves feridas entre católicos e protestantes. As tensões mais agudas estão na América Latina, onde os evangélicos protestantes (muito conservadores), particularmente os pentecostais, estão desafiando a hegemonia católica tradicional. Parece que, em todo o caso, a hierarquia católica se esteja adequando à nova situação do pluralismo religioso.
O que Lutero pode ensinar para a Igreja católica, hoje?
Considero que tanto os católicos como os protestantes devem estudar objetivamente quais foram concretamente as contestações do século XVI e em que medida elas ainda são atuais. Considero que deve ficar atento aos compromissos alcançados pelos intelectuais reunidos num hotel em torno de mesas com água mineral, como aquele feito
Pela comissão de teólogos católicos e protestantes decidindo que “nós” estamos de acordo que a doutrina da justificação (sola fide e tudo aquilo que ela comporta) não mais ‘nos’ deve dividir. Mas que é este “nós”? Os crentes mais comuns de ambas as comunidades eclesiais nunca ouviram falar desta disputa e nem estão interessados nela. Mas as diferenças reais permanecem, na piedade que se vive em ambas as comunidades eclesiais.
Na Europa existe o perigo que as comunidades cristãs se tornem cada vez mais minoritárias em relação ao Islã?
Não acredito que o Islã como fé viva (e grande) ameace o cristianismo europeu. O terrorismo radical islamista o faz, mas é fundamentalmente uma questão de polícia. Trata-se, também, de uma questão de políticas culturais e educativas que buscam integrar os muçulmanos nas democracias europeias.
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“Francisco na Suécia, católicos e protestantes celebrem que não há mais guerra entre eles”, propõe Peter Berger - Instituto Humanitas Unisinos - IHU