Famílias Pataxó são despejadas da Aldeia Aratikum para as margens da BR-367, na Bahia

Imagem: Povo Pataxó Aldeia Aratikum/Cimi

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

15 Outubro 2016

Cerca de 30 famílias Pataxó da Aldeia Aratikum, no extremo sul da Bahia, foram despejadas de suas moradias e jogadas às margens da BR-367 na manhã desta quinta-feira, 13. Desde 2015, uma ação de integração de posse tramitava na Justiça Federal. No início dessa semana, os Pataxó foram notificados do despejo e a Fundação Nacional do Índio (Funai) não recorreu da decisão.

A informação é publicada por Conselho Indigenista Missionário – CIMI, 13-10-2016.

Os Pataxó foram surpreendidos por homens das polícias Federal, Civil e Militar logo cedo. Acompanhados por um oficial de justiça, os policiais executaram a reintegração de posse contra a aldeia, cuja terra de 220 hectares está em processo de aquisição pela Funai. A ação da polícia, de acordo com os Pataxó, foi truculenta e arbitrária, sem oferecer tempo para a retirada de pertences - um caminhão removeu o que pôde ser salvo.

“Não resistimos, mas a polícia parecia que ia entrar numa guerra. Estamos aqui na beira da estrada, mulheres, crianças e idosos”, diz o cacique José Ailton Pataxó. Um trator foi utilizado para destruir moradias, a escola, roças, casas de reza e tudo o mais erguido pelos Pataxó na terra tradicional. Conforme o cacique, a autora do pedido de reintegração chama-se Eva Mendes, mora em Curitiba e esteve no local durante a ação policial.

Para o presidente da Federação Indígena das Nações Pataxó e Tupinambá do Extremo Sul da Bahia, cacique Aruã Pataxó, presente no local, a reintegração, e as demais que afetam as terras indígenas do povo, é fruto “da fragilidade política que as demarcações têm no país hoje. Seja no Executivo, Legislativo e Judiciário. A Justiça, por sua vez, não faz nada para evitar isso. A Funai está sem cumprir com a sua função, totalmente sucateada”.

“Era uma terra improdutiva quando retomamos, em 2013. Essa mulher e o marido, um norte-americano, que não vivem aqui, se dizem donos. Fizemos uma escola, casas e nossas roças. O artesanato complementa a renda das famílias. Agora estamos na beira da estrada sem teto, sem terra, sem saber o que vamos dar de comer para as crianças”, lamenta o cacique José Ailton. No último mês de julho, uma delegação Pataxó esteve em Brasília para reivindicar a efetivação da aquisição pela Funai da Aldeia Aratikum.

A situação é desesperadora paras as famílias Pataxó. “Tá todo mundo na beira da estrada, sem ter para onde ir. Muito dolorido as famílias vendo suas casas sendo colocadas no chão. A escola das crianças, tão importante. Um sofrimento terrível”, se emociona Kairana Pataxó. A Aldeia Aratikum fica no município de Santa Cruz Cabrália. A região é cobiçada por empreendimentos imobiliários voltados ao turismo. Um projeto prevê a construção do que se pretende ser o maior resort da América Latina na área, que ainda abarca as terras indígenas de Coroa Vermelha e Mata Medonha.

O despejo pode ser considerado o legado da Copa do Mundo de 2014. Depois da seleção da Alemanha ter se hospedado na região, acompanhada por um batalhão de repórteres e turistas estrangeiros, o mercado imobiliário valorizou ainda mais as terras. Proprietários passaram a surgir com títulos de posse e prefeituras locais intensificaram ações políticas alegando que as terras indígenas prejudicam a economia local.

A eleição municipal em Santa Cruz Cabrália reflete a postura dos políticos regionais. O candidato eleito à Prefeitura Agnelo Silva Santos Junior (PSD) tinha como um dos pontos de sua campanha a retirada dos Pataxó da Mata Medonha. “O filho de Agnelo estava aqui no despejo, junto com a mulher que se diz proprietária. Nos tratam como pessoas sem direitos, que devem ser enxotadas”, desabafa Kairana.

“Todo ano é o mesmo sofrimento. Expulsaram a gente das aldeias Cari, Boca da Mata, Aroeira, Juerana, Mata Medonha. Dissemos pra polícia que não temos pra onde ir e eles responderam que tínhamos sim, a rodovia. O governo não demarca nossa terra. Até quando vamos sofrer e morrer? Parece que índio no Brasil não é gente, não é nada. Europeu achava a mesma coisa quando invadiu aqui”, ataca Kairana.

Leia mais